O mercado de ações teve seu pior começo de ano na história recente e as coisas podem piorar à medida que os temores de recessão se aproximam. Desde a Segunda Guerra Mundial, houve 13 recessões – definidas como dois trimestres consecutivos de declínio do PIB (Produto Interno Bruto) – e apenas 3 delas no século 21 (2001, 2008 e 2020), de acordo com o National Bureau of Economic Research, dos EUA. Alguns especialistas dizem que mais uma pode estar a caminho.
Não é de admirar, então, que os investidores estejam preocupados com a capacidade do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) de alcançar um “pouso suave”, derrubando a inflação sem prejudicar o crescimento econômico, à medida que aperta a política monetária com a alta dos juros. O índice S&P 500 mergulhou brevemente em um bear market (mercado de baixa) no mês passado, com os investidores abalados entre as preocupações com a inflação e o aumento dos juros.
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“Historicamente, quando a inflação está alta e o Fed está trabalhando duro para contê-la, as recessões acontecem com mais frequência”, já que as campanhas de aumento de taxas costumam preceder as crises econômicas, diz o economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi. Ele coloca as chances de uma recessão em 50% nos próximos dois anos.
Como as ações se comportam em uma recessão?
O S&P 500 surpreendentemente subiu em média 1% durante todos os períodos de recessão desde 1945. Isso porque os mercados geralmente atingem um topo antes do início das recessões e chegam ao fundo antes de sua conclusão.
Em outras palavras, o pior já passou para as ações antes que acabe para o resto da economia. Em quase todos os casos, o S&P 500 chegou ao fundo do poço cerca de quatro meses antes do fim de uma recessão. O índice normalmente atinge uma alta sete meses antes do início de uma recessão.
Durante as últimas quatro recessões desde 1990, o S&P 500 caiu em média 8,8%, segundo dados da CFRA Research. Em mais da metade dos 13 anos com recessões desde a Segunda Guerra Mundial, no entanto, o S&P 500 apresentou retornos positivos.
“Os preços lideram os fundamentos – portanto, a queda do mercado de ações é tradicionalmente uma indicação de que a maioria dos investidores acredita que estamos caminhando para uma recessão”, explica Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research. “Quando finalmente caímos em uma recessão, geralmente é um bom momento para voltar ao mercado.”
Onde investir no meio de uma crise?
As ações de consumo e saúde tendem a ter um desempenho superior – os dois únicos setores positivos durante as recessões, em média – enquanto as ações de companhias aéreas, fabricantes de automóveis, hotéis e cassinos têm dificuldades.
Durante a última recessão — de fevereiro de 2020 a abril de 2020 —, desencadeada pelos lockdowns para controlar a pandemia de coronavírus, as ações caíram 1,4%, mas o S&P 500 fechou o ano com uma alta de 16%. Durante a crise financeira de 2008, que foi uma desaceleração mais prolongada, as ações caíram quase 40% naquele ano, depois recuperaram 23% do valor em 2009.
Apesar das perspectivas cada vez mais sombrias que surgiram em Wall Street depois que a economia dos EUA encolheu 1,4% no primeiro trimestre de 2022, os economistas ainda esperam um crescimento econômico sólido com uma recuperação no PIB no segundo trimestre, de até 3%. Stovall ainda não vê uma recessão à frente, embora os riscos estejam aumentando: “Não é uma visão consensual, mas ouvimos sussurros por aí”.
“A ansiedade entre os investidores é compreensível, dadas as perdas no mercado de ações, a inflação altíssima e o risco crescente de recessão… Simplificando, o Fed está travando uma batalha difícil”, diz Ryan Detrick, estrategista-chefe de mercado da LPL Financial. Apesar da contínua incerteza nos mercados, ele não vê uma recessão iminente graças ao sólido crescimento do PIB e dos lucros – bem como uma inflação mais moderada no final do ano.
Um cenário ideal para os economistas seria um “pouso suave” semelhante ao que ocorreu em 1994, diz Stovall. Naquele momento, embora as ações estivessem negativas no ano, pois o Fed elevou os juros sete vezes em 13 meses, a economia ainda evitou uma recessão e as ações se recuperaram 34% em 1995.
Menores retornos à vista
Somando-se à já considerável quantidade de incerteza está a eleição de meio de mandato em novembro nos EUA. O segundo ano de um ciclo presidencial geralmente tende a ter retornos mais fracos no mercado de ações em geral, produzindo o retorno médio mais baixo do S&P 500, de apenas 4,9%.
O segundo e terceiro trimestres dos anos de meio de mandato apresentam os piores números, com queda média de 1,8% e 0,5%, respectivamente, com maior volatilidade do que em qualquer outro momento do ciclo presidencial.
Em meio à maior volatilidade do mercado enfrentada pelos investidores este ano, “com as eleições de meio de mandato se aproximando e a inflação nas máximas de 40 anos, acreditamos que essa tendência provavelmente continuará em 2022”, segundo analistas da Baird Private Wealth Management.
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