O maior acionista do Banco Central Europeu (BCE), o Bundesbank (banco central da Alemanha), estabeleceu suas condições para apoiar o fornecimento de novo apoio aos países mais endividados da zona do euro nesta segunda-feira, depois de se opor a tal ajuda numa reunião emergencial no mês passado.
Formuladores de política monetária do BCE prometeram comprar mais títulos de países endividados, como Itália e Espanha, em uma reunião de emergência realizada em 15 de junho, buscando conter uma divergência cada vez maior entre seus custos de empréstimos e os da Alemanha, enquanto o BCE se prepara para subir as taxas de juros.
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Mas o presidente do banco central da Alemanha, Joachim Nagel, que discordou dessa decisão segundo fontes que participaram da reunião, alertou nesta segunda-feira contra a tentativa de decidir o “spread” correto entre os mercados de dívida da zona do euro, pois seria “praticamente impossível” e arriscaria tornar os governos complacentes em relação aos gastos públicos.
“Eu, portanto, advertiria contra o uso de instrumentos de política monetária para limitar os prêmios de risco, pois é praticamente impossível estabelecer com certeza se um spread ampliado é ou não fundamentalmente justificado”, disse Nagel em um discurso.
Em um pronunciamento logo após os comentários de Nagel, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, disse que é fundamental evitar a fragmentação financeira entre os 19 países da zona do euro caso o banco central eleve os juros para combater a inflação crescente –um tema polêmico na Alemanha.
O BCE tentará reduzir as divergências entre os rendimentos de seus membros com recursos vindos de títulos vencidos de Alemanha e outros países do norte da Europa, que serão usados para comprar mais dívida italiana, grega, espanhola e portuguesa. O banco central também trabalha em uma nova ferramenta para comprar ainda mais títulos do sul europeu com dinheiro novo.
Isso provavelmente deixará a Alemanha com uma cota menor entre os títulos detidos pela instituição, já que as compras de títulos periféricos provavelmente não serão acompanhadas por uma compra maior de papéis centrais no futuro, disseram as fontes.
Circunstâncias excepcionais
Nagel compartilhou suas condições para apoiar um novo esquema de controle de “spreads” da dívida.
Ele disse que essa ajuda só deve vir em caso de circunstâncias excepcionais e com condições e duração estritamente definidas –provavelmente uma referência a países que mostram prudência financeira.
O auxílio não deve atrapalhar os esforços do BCE para reduzir o avanço dos preços ou diminuir a pressão sobre governos para que executem políticas orçamentárias sólidas, acrescentou Nagel.
“Medidas incomuns de política monetária contra a fragmentação só podem ser justificadas em situações excepcionais e sob condições restritas”, afirmou Nagel.
Fontes disseram à Reuters que o novo instrumento para comprar mais títulos do sul da Europa provavelmente virá com condições, como apresentação de dívida considerada sustentável pelo BCE ou respeito às regras fiscais e recomendações econômicas da Comissão Europeia.
Em outra possível concessão à Alemanha, o BCE provavelmente drenará dinheiro por meio de leilões de “absorção de liquidez”, em vez de vendas diretas de títulos que fariam bancos centrais como o Bundesbank registrarem perdas, disseram as fontes.
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