Não há caminho, caminho se faz ao andar. Liliana Aufiero, diretora-presidente da Lupo, costuma citar essa máxima do poeta espanhol António Machado quando se refere ao futuro. À frente da empresa fundada por seu avô, Henrique Lupo, ela vive dias de glória, após um período difícil de retração econômica que afetou toda a área comercial.
Recentemente, a Lupo, empresa líder no segmento têxtil, bateu seu recorde de lucro no balanço de 2021, crescendo 81,4% em relação a 2020. A companhia, que surgiu fabricando meias e se desenvolveu ampliando e diversificando seus produtos, faturou alto durante a pandemia com uma linha de máscaras, hoje um de seus carros-chefes. Agora, Liliana revela que a empresa se prepara para fazer um IPO, no ano que vem, “quando houver a oportunidade”.
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“Em 2021, fizemos todo um caminho para o IPO, só que essa preparação de documento é bem pesada, cheia de regras, de informações e mais conversas com bancos, com analistas, com investidores. Daí, chegou um momento que o Brasil fechou as janelas para a Bolsa”, ela conta.
“Fizemos o registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas estamos esperando uma oportunidade para dar aos acionistas essa chance. Quando as janelas se abrirem, o que talvez ocorra no ano que vem, nós pretendemos fazer o IPO sim”, afirma a empresária.
Liliana Aufiero comanda a empresa há mais de três décadas. Tem no currículo o fato de ter sido a primeira mulher a se formar em engenharia civil na Universidade de São Paulo. Após 18 anos trabalhando na área, em 1993 foi convidada a assumir a empresa da família que se encontrava à beira da falência. Reergueu a companhia enquanto paralelamente criava seus seis filhos.
Hoje, a Lupo conta com uma equipe composta por 82% de mulheres e vive seu melhor momento. “A Lupo nasceu com altíssimo percentual de mulheres porque o trabalho era muito delicado, meu avô entendia que era um trabalho feminino. Eles vendiam uma meia-calça com as laterais bordadas a mão, que era um sucesso, e o fato de a fábrica empregar mulheres significou uma mudança na vida social da cidade”, diz ela.
Localizada em Araraquara, no interior de São Paulo, a empresa tem projetos sociais, dando assistência especialmente à Santa Casa. A confecção de máscaras partiu da distribuição gratuita para hospitais, laboratórios locais e cidades vizinhas, até ser tomada a decisão de produzi-las comercialmente.
“Primeiro veio o susto, lojas fechadas, rua sem movimento, eu vou produzir para quê? Para pôr no estoque? Não. Depois conseguimos desenvolver, adaptar e criar os maquinários”, lembra ela.
“Testa aqui, testa ali, testa acolá, a máscara foi bem aceita e foi um sucesso extraordinário. Isso colaborou sim para o faturamento, mas o importante é que nós não ficamos dependentes dela. Então, não foi uma dependência, foi uma oportunidade que surgiu”.
Durante a pandemia, o ecommerce da Lupo também evoluiu, alcançando um faturamento de R$ 34,9 milhões em 2021, um aumento de 147% em relação ao ano anterior. Em relação ao EBITDA ajustado, em 2021 ele foi de R$ 306,2 milhões, atingindo a margem de 23,1%. Um avanço expressivo se comparado com os R$ 64,2 milhões em 2020 e os R$ 99,3 milhões em 2019.
Com foco estratégico em expansão, com destaque para sua marca de roupas esportivas, a Lupo também registrou crescimento no número de lojas. Só em 2021, foram inauguradas 165 novas unidades. Outra meta é o aumento da produção no Ceará.
“A Lupo é uma empresa centenária. Nasceu com meu avô, que teve dez filhos. Cada filho teve vários filhos, que já tiveram vários filhos e netos. A quinta geração já é adulta, tem mais de 20 anos. Acho que 100 anos é um momento em que a empresa cresce menos do que a família, as pessoas isoladamente são percentuais pequenos em relação ao todo”, analisa Liliana.
“Até que ponto esse percentual pequeno satisfaz cada um deles? Ou a pessoa prefere cair fora e começar algum negócio, para que o negócio dela viva 100 anos também?”
Reportagem originalmente publicada na edição 96 da Forbes Brasil, de maio de 2022.
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