Comprar uma ação na expectativa de que ela se valorize no futuro é a principal estratégia de investimento na Bolsa de Valores, porém não é a única. Da mesma forma que é possível lucrar com a valorização de uma ação, também é possível obter ganhos com a sua queda.
Neste cenário, o investidor opera “vendido”, uma estratégia que o mercado chama de “short” ou “venda a descoberto”.
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Funciona assim: o investidor toma uma ação emprestada e vende esse ativo na intenção de comprá-lo de volta no futuro por um valor menor e, assim, obter o seu lucro. Normalmente, uma pessoa “opera vendido” quando acredita que a ação vai desvalorizar no curto ou médio prazo.
Num exemplo prático, o investidor toma a ação emprestada e a vende no mercado por R$ 20,00, apostando na sua queda. Uma semana depois, o papel realmente desvalorizou e chegou a R$ 15,00. Então o investidor irá recomprar o ativo e embolsar o lucro de R$ 5,00.
Para quem aluga, nada muda em relação a sua posição na carteira. O investidor que “emprestou” o papel irá receber um valor de juros que é a taxa do aluguel, paga por quem pegou o papel emprestado.
>> Leia também: Aluguel de ações: entenda o que é e como funciona
Segundo Romero de Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, conhecer as ações mais “shorteadas” é uma maneira de entender o sentimento do mercado em relação a um investimento. “Os investidores olham as posições short para entender o que o mercado está projetando para aquele ativo e qual a expectativa no médio prazo”, diz Oliveira.
O indicador para medir esse sentimento é o “short interest”. Quando essa métrica está acima de 10% para uma ação, quer dizer que a aposta de queda do mercado para o ativo está alta.
“Normalmente, quando os investidores estão mais pessimistas em relação a um papel, isso pode levar ao aumento do short interest. A pressão de venda fica maior e mais pessoas se posicionam ‘vendido’ na ação”, afirma o head da Valor Investimentos.
Juros em alta x ações em baixa
Nos últimos três meses, os principais índices de ações aceleraram suas quedas depois de acumularem ganhos no primeiro trimestre. Entre abril e junho, o Ibovespa caiu 18%, aos 98 mil pontos. Em paralelo, o índice Small Cap perdeu 24,7%, chegando a 1.899,60 pontos.
Em relatório divulgado pela XP Investimentos na última semana, a média de short interest nas ações de small caps na segunda quinzena de junho foi de 5,4%, enquanto as ações do Ibovespa registraram uma média de 3,3% em interesse nas posições “vendidas”.
O setor mais “shorteado” em ambos os índices foi o de construção civil, com uma média de 6,2% no período, seguido pelo de consumo discricionário, com 5,7%, e as ações de tecnologia, com 5%.
João Beck, economista e sócio da BRA, observa que todos esses setores possuem uma característica em comum: são áreas suscetíveis a uma taxa de juros alta.
“A maior parte dos investidores presentes em operações short são institucionais devido à natureza arriscada da operação. Uma das apostas de alta de juros pelos gestores é o short em empresas que são prejudicadas por esse aumento”, afirma Beck.
Em junho, o Banco Central elevou a Selic, taxa básica de juros brasileira, em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano – foi o décimo primeiro aumento consecutivo desde o início do ciclo de aperto monetário, em janeiro de 2021. Um patamar tão alto foi visto anteriormente em dezembro de 2016, quando a taxa de juros estava em 13,75% ao ano.
Maiores posições “vendidas” do mercado
O primeiro lugar da lista é da EZTec (EZTC3), com um percentual de ações alugadas em relação aos papéis livres para negociação de 23,1%. Em 2022, a empresa registrou uma desvalorização de 19,7%. Os papéis eram negociados a R$ 19,40 no primeiro pregão do ano; na sexta-feira (8), eles encerraram o pregão a R$ 16,42.
Em segundo vem a M. Dias Branco (MDIA3), praticamente empatada com o terceiro lugar, a Trisul (TRIS3). Elas têm 17,5% e 17,4% das ações alugadas, respectivamente.
Enquanto a M.Dias é uma empresa de consumo básico, com 16,8% de valorização dos papéis neste ano, a Trisul é mais uma construtora afetada pela alta dos juros. No ano, a empresa registra uma queda de 36,9% no valor de suas ações.
Confira o ranking das 10 ações mais shorteadas:
1 – EZTec
Short interest: 23,1%
Setor: Construção Civil
2 – M. Dias Branco
Short interest: 17,5%
Setor: Consumo Básico
3 – Trisul
Short interest: 17,4%
Setor: Construção Civil
4 – Aliansce Sonae
Short interest: 16,9%
Setor: Consumo Discricionário
5 – Movida
Short interest: 16,8%
Setor: Bens Industriais
6 – Via
Short interest: 15,2%
Setor: Consumo Discricionário
7 – IRB Brasil
Short interest: 15,0%
Setor: Financeiro
8 – Cyrela
Short interest: 13,9%
Setor: Construção Civil
9 – Positivo
Short interest: 13,8%
Setor: Tecnologia
10 – TC Traders Club
Short interest: 13,5%
Setor: Financeiro
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