Como seria uma conta bancária da Apple se a empresa de Big Tech oferecesse esse serviço? Essa foi a pergunta que o conhecido analista de tecnologia Benedict Evans fez recentemente em sua conta no Twitter.
A Apple já oferece produtos financeiros como o Apple Card e o Apple Pay. Mas a pergunta de Evans é mais focada em uma possível conta corrente da Apple.
Duas visões sobre uma conta bancária da Apple
Alex Johnson, autor do blog Fintech Takes, aceitou o desafio e especulou que uma conta bancária da Apple “teria uma estrutura que combinaria poupança e conta corrente com alto rendimento. Haveria ferramentas automáticas para movimentar o dinheiro entre as duas opções. [A Apple] ofereceria um cartão de débito físico e um virtual com possibilidade de BNPL [“buy now, pay later”] para financiar compras maiores. A conta também receberia depósitos diretos e disponibilizaria os salários dos correntistas dois dias antes do depósito [do empregador]”.
Além disso, segundo Johnson, a conta bancária reembolsaria 100% das taxas cobradas por operações em caixas eletrônicos fora da rede e teria ferramentas de gestão de finanças pessoais nos mesmos moldes da interface do Apple Card.
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“Eu não acho que ela ofereceria cheque especial ou serviços de adiantamento de salário (esse não é o mercado alvo da Apple) e duvido que incluiria recursos de investimento – esse seria um movimento muito ousado para a empresa neste momento.”
Itai Damtai, CEO da Unit, uma plataforma provedora de serviços bancários, também opinou sobre a pergunta de Evans e escreveu que espera os seguintes recursos sejam incluídos no serviço bancário da Apple:
• Contas correntes seguradas pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, o equivalente norte-americano do FGC) que rendem juros. Essa é a base sobre a qual todos os outros produtos bancários da Apple seriam construídos: uma conta corrente oferecida por meio de um ou mais parceiros bancários, segurada pela Federal Deposit Insurance Corporation, com um conjunto exclusivo de contas e números de roteamento.
• Depósito direto com acesso a informações de salário. Se a Apple quiser se tornar o ponto de controle da vida financeira de seus clientes, a empresa precisa tornar facilitar muito para seus clientes receberem seus salários.
• Cartões de débito metálicos personalizados. A Apple já produziu um cartão de metal que foi bem avaliado, então as expectativas para o design de seu novo cartão de débito seriam altas.
• Integração com carteiras digitais. A Apple popularizou a carteira digital, portanto, uma integração perfeita entre os serviços bancários e o Apple Pay é esperada.
• Transferências e pagamentos na rede. Esta pode ser a razão mais convincente para a Apple entrar no setor bancário. Ao alavancar transferências bancárias e pagamentos (transferências sem taxas entre contas mantidas no mesmo banco), a Apple tem o potencial de se tornar uma rede de pagamentos. A empresa poderia simplificar drasticamente a transferência de dinheiro para amigos, familiares ou comerciantes, sejam eles outros usuários da Apple ou não.
• Acesso gratuito a caixas eletrônicos. Como a Apple não possui agências bancárias, ela precisaria fornecer acesso gratuito a caixas eletrônicos para que seus clientes pudessem receber dinheiro. Em vez de negociar acordos de acesso com centenas de operadoras de ATM regionais, eles provavelmente prefeririam passar por uma rede maior, como a Allpoint ou o MoneyPass.
• Conectividade com aplicativos e serviços financeiros. O Plaid Exchange é uma maneira de as instituições financeiras ajudarem seus clientes a conectarem suas contas bancárias a aplicativos e serviços financeiros. Ao integrar-se ao Plaid Exchange, a Apple pode garantir que seu logotipo apareça quando os clientes estiverem procurando por suas contas bancárias da Apple.
Damtai também prevê que uma conta bancária da Apple incluiria serviços de financiamento, abertura de várias contas por cliente, recompensas do tipo cashback e cartões de débito virtuais sob demanda.
A Apple lançaria uma conta bancária?
As visões de Johnson e Damtai de uma conta bancária da Apple são convincentes, mas ambos parecem ter juntado todos os recursos de conta corrente disponíveis no mercado e chamado de conta bancária da Apple.
Uma complexidade no setor bancário que a Apple poderia abstrair é a construção de “conta”.
A ideia (e a realidade) de que precisamos de uma conta para cada função financeira – armazenamento (por exemplo, depósito de salários), pagamentos, poupança, investimentos, transferências internacionais de dinheiro, etc – torna o gerenciamento de dinheiro trabalhoso.
Como os clientes de serviços financeiros têm preferências por diferentes produtos financeiros e recursos – que a Apple não pode fornecer sozinha – uma conta bancária da Apple seria um front-end perfeito para os fornecedores de produtos de back-end com os quais os consumidores decidem fazer negócios.
Se um cliente bancário da Apple tivesse a necessidade de um serviço e ainda não tivesse um provedor pré-escolhido para isso, a conta bancária da Apple poderia sugerir várias opções e ajudaria essa pessoa a escolher o provedor e a estabelecer o conexão de back-end sem que o cliente precise criar e gerenciar outra “conta”.
Como normalmente existem muitas formas diferentes de prestar serviços bancários, uma conta corrente da Apple apresentaria essas opções – com recomendações para um resultado “otimizado” – com taxas associadas a serviços específicos.
A Apple cuidaria de agrupar esses serviços e oferecê-los a segmentos e perfis de clientes diferentes.
Mas uma conta bancária da Apple não seria uma “conta corrente de alto rendimento” ou “conta de poupança de alto rendimento”. Seria um produto que oferecia uma gama de alternativas de rendimento que exijam dos clientes custos ou requisitos comportamentais para ganhar obter um determinado nível de retorno.
Como a Apple faria isso?
Evans perguntou como esses serviços poderiam funcionar em uma conta bancária da Apple. Inicialmente, a Apple utilizaria predominantemente os meios de pagamento existentes, porque ainda é assim que a maioria de nós faz transações.
Com o tempo, no entanto, à medida que o volume de transações nas contas bancárias da Apple crescesse, a companhia seria capaz de manter uma parte maior das taxa de transação para si mesma.
É por isso que a Plaid pode ser uma ótima candidata para prestar serviços para a Apple.
Apple vai revolucionar o que significa ser um banco?
Enquanto houver exigências regulatórias que impeçam qualquer empresa de ser um banco, apenas os bancos serão bancos. Mas isso não significa que não podemos recorrer a empresas não bancárias para nossos serviços bancários.
Em um mundo onde o dinheiro físico era dominante – e o banco digital não era uma realidade – o setor bancário precisava da abertura de contas para acompanhar quem possuía o quê.
Em um setor bancário transformado digitalmente, no entanto, não precisaremos de contas – precisaremos apenas de regras que se apliquem à representação digital do dinheiro para determinar como tratar esse dinheiro. Por exemplo, quais taxas de juros aplicar à poupança, quais transferências devem ser feitas para compras e contas, qual propriedade de ações ou outros investimentos estão representados, entre outros.
Existem poucos – se houver algum – bancos que estão se movendo em direção a essa visão. Empresas como Apple, Google ou Amazon seriam um fornecedor mais provável da nova realidade. Os bancos tradicionais não desaparecerão, eles apenas vão passar a desempenhar um papel muito diferente. Mas essa nova realidade desafia o conceito de quem é o “banco” e quem tem nossas “contas”.
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