A Unimed Nacional, sexta maior operadora de planos de assistência médica do país em número de beneficiários, fechou o primeiro semestre com prejuízo, diante de patamares elevados de sinistros e cenário de incertezas para o setor, mas espera terminar 2022 no azul, disse o presidente da cooperativa.
A Unimed Nacional trabalha em sua maioria com planos empresariais de abrangência nacional, além de ter operações regionais em algumas praças, como São Paulo. A instituição é a maior unidade do Sistema Unimed, que engloba 341 cooperativas de saúde espalhadas por todo o território nacional.
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“A operação foi negativa (no primeiro semestre de 2022)… a nossa expectativa e, eu acredito, é que consigamos virar e fechar o ano no positivo, ainda que não em patamar significativo”, disse Luiz Paulo Tostes Coimbra, em entrevista à Reuters na semana passada. Ele citou como incertezas questões envolvendo o rol da ANS e o piso salarial para enfermeiros.
Coimbra, que assumiu a posição em março de 2021, não detalhou os números de 2022 até o final do primeiro semestre – a cooperativa divulga costumeiramente apenas as demonstrações anuais. No ano passado, a Unimed Nacional teve lucro de 55,1 milhões de reais, com a operação também negativa nos primeiros meses. Em 2020, o lucro foi recorde, de 520,2 milhões de reais.
“Vivemos um momento muito complicado. O sinistro, de modo geral, está muito elevado”, disse ele, citando ainda o aumento no preço de insumos e a alta frequência dos atendimentos. Ainda que o efeito da Covid-19 tenha diminuído, sazonalidade de doenças gripais e volta de atendimentos eletivos estão no radar dos analistas do setor.
“Aqui, estamos trabalhando para tentar equilibrar esse sinistro ainda este ano, mas eu acho que o mercado só consegue normalizar mesmo a partir do ano que vem”, afirmou ele, que mencionou a gradualidade da implementação dos reajustes em planos individuais, segmento que a Unimed Nacional tem baixa exposição.
Questionado sobre quanto seria essa sinistralidade equilibrada, Coimbra afirmou que uma taxa que “começa a preocupar” é em torno 80% a 82%. A cooperativa teve sinistralidade, relação entre as despesas dos planos com atendimentos e suas receitas, de cerca de 84% em 2021.
A Unimed Nacional projeta crescimento de 14,4% em seu faturamento no ano, para cerca de R$ 10,6 bilhões, e acréscimo de mais 250 mil clientes na carteira, metas que Coimbra disse ter indicações de que serão alcançadas.
A cooperativa possuía quase 2 milhões de beneficiários de assistência médica no país, atrás de nomes listados em bolsa como Hapvida e SulAmérica, segundo dados de março da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Hapvida e SulAmérica divulgam resultados do segundo trimestre na próxima semana. Analistas do BTG Pactual disseram que dados da ANS mostram crescimento de adições líquidas de beneficiários pelo setor no período, mas o nível sinistralidade indicava que a normalização da taxa deve demorar mais a ocorrer.
Rol da ANS, enfermeiros e reajustes
Coimbra comentou a decisão de junho do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que as operadoras de saúde têm que cobrir apenas os procedimentos inclusos no rol, espécie de lista, elaborado pela ANS. Em termos técnicos, a corte decidiu pela taxatividade do rol e não pelo caráter exemplificativo, mas deixou espaço para exceções.
“Com o rol taxativo consegue-se, de acordo com a regulação, construir determinado produto e precificá-lo”, disse ele, dando eco ao principal argumento do setor e acrescentando que a decisão não retirou a incerteza sobre o tema, já que o assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), além de haver discussões no Congresso.
A própria ANS anunciou depois da decisão medidas pontuais que elevaram a cobertura dos planos. “Não sou contra liberar (cobertura de mais tratamentos), mas precisa estabelecer diretrizes”, disse ele, que defendeu parâmetros mais objetivos.
Sobre o projeto de lei que estabelece piso salarial aos enfermeiros, que aguarda sanção presencial, o executivo disse que “afetará as regiões de forma diferente, dada a diferença salarial atual, e aumentará os custos dos hospitais, impactando nas operadoras. “No final quem paga isso são os clientes.”
Falando em preço, Coimbra acredita em outro reajuste “bastante salgado” nos planos de saúde individuais e familiares no ano que vem, mas não deu detalhes. A expectativa vem apesar da alta de até 15,5% neste ano, a maior da série histórica. Ele disse que o percentual compensou o reajuste negativo em 8,19% aplicado em 2021 – que refletiu a queda nas despesas do setor em 2020 por causa da pandemia.
“Se o sinistro se mantiver alto, a perspectiva é que o reajuste seja bastante elevado também (em 2023).”
Os beneficiários pessoa física representam menos de 2% da carteira de clientes da Unimed Nacional, disse a cooperativa. Os planos empresariais, seu negócio principal, não têm limite de reajuste definido pela ANS.
“Todas essas questões trazem muita incerteza para o setor… essa é a discussão no mercado”, afirmou ele, lembrando dos sinistros elevados. “Esse cenário é difícil, de certo caos. O mercado vai ter que se reinventar.”
Múltiplos muito altos
Uma das maneiras de se reinventar que o setor de saúde vem encontrando é através da consolidação. Em 2022, foi concluída a união de R$ 49 bilhões de Hapvida e Intermédica e, em fevereiro, o grupo Rede D’Or anunciou a compra da SulAmérica, avaliando a seguradora em 13 bilhões de reais.
“Eu acho que as consolidações de mercado fazem sentido, o que desde cedo me trouxe estranheza são os múltiplos, são valores extremamente elevados, muito acima do valor patrimonial”, disse o presidente da Unimed Nacional sem comentar negócios em específico.
O executivo afirmou que as consolidações também ocorrem dentro do Sistema Unimed e que a cooperativa deve anunciar algumas parcerias estratégicas nos próximos meses, inclusive com empresas da bolsa, no sentido de verticalizar a operação, mas não abriu os nomes das companhias.