Gestores globais estão mais otimistas com o mercado acionário brasileiro do que com as ações de outros emergentes, mostrou pesquisa da XP, embora o cenário eleitoral, notadamente o arranjo fiscal a partir de 2023, figure entre os riscos.
O estudo foi feito com 10 gestoras estrangeiras, como Schroders, Morgan Stanley Investment Management e Franklin Templeton, entre cinco e oito de setembro.
Questionados sobre a visão atual para ações no Brasil, cinco delas afirmaram estar ‘overweight’ (posições acima da ponderação da categoria na composição de índices de referência), enquanto quatro disseram estar “neutral’ (na média do mercado). Um dos participantes afirmou não ter uma visão nesse sentido.
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No caso de mercados emergentes, quatro afirmaram estar ‘overweight’ e quatro responderam estar ‘underweight’ (posições abaixo da ponderação de tal categoria na composição de índices de referência) e dois disseram estar ‘neutral’.
Para Davi Fontenele, analista de fundos da XP, os recentes sinais positivos de atividade econômica e o fato de o Banco Central ter acelerado o aperto monetário trazem perspectivas positivas ao Brasil.
O BC brasileiro começou a elevar os juros antes do que seus pares no exterior a fim de combater a inflação no país, e vários economistas estimam que ele encerrou o ciclo de altas na última decisão, com previsões no mercado apontando quedas em 2023.
Apesar de ainda em patamar considerado elevado, a 13,75% ao ano, a perspectiva de que a taxa não subirá mais e o prognóstico de redução no próximo ano tendem a favorecer o mercado acionário, assim como beneficiar a atividade econômica do país.
Do ponto de vista micro, Fontenele destacou o nível de desconto dos múltiplos da bolsa brasileira como um componente favorável.
Dados da B3 mostram que, em agosto, as compras de ações por estrangeiros no mercado secundário de ações brasileiro superaram as vendas em R$ 16,4 bilhões.
A percepção para a dívida de emergentes e do Brasil é mais parecida, com quatro deles selecionando a opção ‘neutral’ para ambos os casos, enquanto cinco estão ‘overweight’ em Brasil e quatro estão ‘overweight’ em mercado emergentes. Dois participantes estão ‘underweight’ para a dívida de emergentes e um disse não ter uma visão para a dívida brasileira.
Em relação aos riscos político e soberanos do Brasil, cinco afirmaram que, a depender do resultado da eleição presidencial, pode haver impactos bem diferentes para o quadro fiscal do país.
Outros três afirmaram que, independentemente do desfecho eleitoral, o quadro fiscal é desafiador e representa um risco relevante para o cenário.
Os gestores avaliam que há um alto grau de polarização no Brasil e as políticas podem ser muito diferentes sob um segundo governo de Jair Bolsonaro ou com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme mostra o estudo da XP.
Eles consideram que Lula pode ser um presidente favorável ao mercado, mas que ficará aquém de endossar reformas fiscais adicionais fundamentais para a sustentabilidade da dívida.
Como resultado, vislumbram que a incerteza sobre a tendência de má governança fiscal provavelmente permanecerá alta e acrescentam que as políticas adotadas pelo próximo governo serão fundamentais para a trajetória da dívida do país.
A prudência fiscal e a garantia mais ampla em relação à formulação de políticas pós-eleição são componentes que eles veem provavelmente ditando o nível de confiança das empresas e do consumidor e direcionando o apetite por investimentos.
O país, contudo, não é visto como imune a mudanças no front externo. Um dos pontos destacados é que uma desaceleração global prolongada, com desaquecimento da China em meio a um ciclo de alta de juros nos EUA, pode pressionar o comércio e o fluxo de capitais do país, desafiando o cenário favorável experimentado no país pós pandemia.
Eles também destacam que o Brasil é fortemente dependente da China, e a política de zero Covid e o bloqueio intermitente das cidades continuam a desacelerar o consumo e a produção, o que deve ser um obstáculo às exportações brasileiras.
A análise de que investidores estão subestimando a determinação do Federal Reserve (Fed) em conter as pressões inflacionárias também é um fator de risco na visão dos gestores.