As ações preferenciais da empresa petroquímica Braskem (BRKM5) lideraram a alta entre os papéis do Ibovespa hoje (11) na B3. As ações fecharam preliminarmente a R$ 33,60, com uma valorização de 20,5%. No momento de maior alta do pregão, as cotações chegaram a R$ 34,30, avanço de 23%.
A valorização deveu-se a uma notícia, divulgada na coluna do jornalista Lauro Jardim e não confirmada pela empresa até o fechamento do pregão, de que haveria uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para os papéis.
(atualização posterior: às 18:17, a Braskem publicou um documento na CVM informando que seus acionistas controladores afirmaram não haver “nenhuma evolução material” nos processos até agora conhecidos pelo mercado)
A OPA seria lançada pela gestora de recursos americana Apollo, que já vinha demonstrando interesse nas ações da petroquímica. No primeiro semestre, a Apollo lançou uma oferta de cerca de R$ 40. Agora, esse valor seria elevado em 25%, chegando a R$ 50 por ação.
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Ainda segundo o jornalista, a oferta envolveria o fechamento do capital da Braskem no Brasil e sua posterior reabertura em uma oferta de ações nos Estados Unidos.
Se confirmada, a oferta vai representar um prêmio de 79% sobre a cotação de fechamento das ações preferenciais da petroquímica, e de 60% sobre o preço das ações ordinárias ontem (10). Até o fim dos negócios hoje, a Braskem não havia protocolado nenhum documento na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) comentando a notícia.
Imbróglio
Uma das maiores petroquímicas do Brasil, a Braskem vem sendo objeto de uma disputa societária há vários anos. Seu controlador, com 50,1% do capital votante e 38,3% do capital total, é uma empresa em recuperação judicial, a Novonor, que concentra os investimentos remanescentes do grupo Odebrecht. O segundo controlador é a Petrobras, com 47% do capital votante e 36,1% do capital total.
Por razões diversas, as duas empresas precisam vender suas participações. A Novonor precisa dos recursos para equacionar sua recuperação judicial, com dívidas estimadas em cerca de R$ 90 bilhões. E a Petrobras vem, desde meados da década passada, reduzindo sua participação em atividades que não sejam a prospecção e a exploração de petróleo.
Nesse aspecto, a oferta da Apollo resolveria o problema dos dois controladores principais, que possuem 97% do capital votante. A dificuldade é que boa parte dessas ações está dada em garantia para pesados financiamentos bancários contraídos pela Braskem e pela própria Novonor, ainda antes da recuperação judicial. Esse nó bancário e societário é difícil de desatar. “Qualquer proposta terá de ter o aval dos credores”, diz Bruno Benassi, analista da Levante Ideias de Investimentos.
Efeito positivo
Além do prêmio, a proposta de troca de controle na petroquímica foi bem vista pelo mercado. “Se confirmado, o negócio será um ganho para a empresa como um todo”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos. “A venda zera as participações da Novonor e da Petrobras e permite o fechamento do capital da Braskem, o que vai garantir total liberdade de atuação para o comprador.” E isso seguirá valendo ainda que haja uma ideia de reabertura posterior do capital no mercado americano.
Em um relatório divulgado antes da oferta da Apollo, os analistas da Levante afirmaram que uma eventual mudança de controle da Braskem seria positiva, pois permitiria destravar valor para o negócio. E um possível fechamento de capital no Brasil com reabertura nos Estados Unidos daria à empresa acesso a fontes inesgotáveis e baratas de recursos, permitindo sua expansão no mercado brasileiro.
Tentativas de venda
O lance possivelmente oferecido pela Apollo pode encerrar um processo demorado e com várias fases. No fim de 2021, os dois controladores tentaram fazer uma oferta subsequente (“follow-on”) das ações da Braskem na B3. A oferta diluiria as participações, levantaria recursos e tornaria mais fácil vender o controle da empresa posteriormente. No entanto, o baixo preço das cotações naquele momento tornou a oferta inviável.
No primeiro semestre deste ano circularam notícias de que a gestora de recursos americana Apollo teria lançado uma oferta de compra de cerca de R$ 40 por ação. A proposta teria esbarrado em resistências da Novonor, cujos controladores poderiam pretender manter uma participação na Braskem.
Procurada, a Braskem não respondeu aos pedidos de entrevista até a publicação desta reportagem.