A captação líquida dos fundos de investimento brasileiros registrou saldo negativo líquido (aplicações menos retiradas) de R$ 17,1 bilhões no período de janeiro a setembro. Trata-se do pior resultado dos últimos cinco anos.
Os resgates indicam uma reversão do movimento. No mesmo período de 2021, a indústria de fundos havia registrado uma captação líquida de R$ 414,7 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que representa o setor.
Os fundos multimercados e de ações foram os que registraram o pior desempenho, com retiradas líquidas de R$ 79,7 bilhões e de R$ 57,9 bilhões, respectivamente. No mesmo período de 2021, os fundos multimercados haviam captado R$ 85,7 bilhões e os fundos de ações captaram R$ 9,4 bilhões.
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Segundo Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, o desempenho ruim dos segmentos de ações e multimercados deve-se a vários fatores. Entre eles o aumento da taxa Selic, a disputa eleitoral, a aversão ao risco no Brasil e no exterior, e a incerteza dos investidores brasileiros em relação ao futuro.
Além dos fundos de ações e multimercados, os fundos de renda fixa captaram menos recursos, apesar de esse movimento não ter sido forte o suficiente para reduzir o patrimônio. Em 2022 a captação líquida (aplicações menos resgates) foi de R$ 94,7 bilhões entre janeiro e setembro. Isso indicou uma queda de 60,4% ante os R$ 239,1 bilhões captados no mesmo período de 2021.
Segundo Rudge, essa uma tendência vem sendo registrada há alguns trimestres e coincide com o aumento da taxa de juros desde março do ano passado.
“O aumento da Selic faz com que os instrumentos financeiros de renda fixa sejam mais atraentes pelos benefícios fiscais de isenção no imposto de renda. Vale mais a pena para o investidor aportar direto no título do que no fundo, que cobra taxas “, diz o vice-presidente da Anbima.
Crescimento da indústria
Embora o saldo de resgates tenha sido maior do que o de captações no ano, a indústria de fundos do Brasil cresceu nos últimos nove meses.
O patrimônio líquido aumentou em 7,8% na comparação anual, para R$ 7,4 trilhões, e o número de fundos cresceu 11,3%, aumentando de 25,45 mil para 28,33 mil em 12 meses.
Até agosto, o número de contas de investidores com aplicações em fundos de investimento no Brasil era de 32,73 bilhões, o que representa um aumento de 10,1% em relação ao mesmo período de 2021.
A classe que mais cresceu foi a de fundos imobiliários, com um aumento de 2,32 milhões de novas contas. Em contrapartida, os fundos de ações foram os que mais perderam participação: fechamento de 502,4 mil contas em relação ao saldo do ano passado.
Sérgio Cutolo, vice-presidente da Anbima, acredita que a popularidade dos fundos imobiliários deve-se à isenção do imposto de renda sobre os rendimentos. “Esses fundos são listados em bolsa, oferecem rendimentos mensais e isenção fiscal nesses pagamentos, o que faz deles muito atrativos para os investidores neste momento”, diz.
Até setembro, os fundos imobiliários representavam 20,1% do patrimônio líquido dos fundos estruturados mapeados pela Anbima, num total de 765 fundos.
Captação dos fundos por classe
Mesmo com o recuo de 60,4% em relação a setembro de 2021, os fundos de renda fixa registraram o melhor desempenho entre as classes em termos de captação, com acúmulo de R$ 94,7 bilhões em 2022.
Na sequência aparecem os FIPs (fundos de investimentos em participações). A captação entre janeiro e setembro foi de R$ 13,2 bilhões, revertendo o cenário negativo do mesmo período de 2021, que era de R$ 7,2 bilhões de resgate. Os FIPs correspondem a maior parcela de patrimônio entre os fundos estruturados, cerca de 52,8%
Os fundos de previdência também viram um avanço em relação ao ano passado, impulsionados pela privatização da Eletrobras. A oferta pública da companhia permitiu que pessoas físicas investissem em fundos mútuos com o FGTS, da mesma forma que foi feito com a Vale e a Petrobras.
O número de contas saltou de 139,8 mil para 502,3 mil e o número de fundos passou de 65 para 82. O saldo de captação líquida dos fundos de previdência saiu de R$ 7,4 bilhões em setembro de 2021 para R$ 10,4 bilhões neste ano.
Os fundos de índice (ETF ou Exchange Traded Funds), fundos de ações e fundos multimercado foram os que fecharam com sinal negativo. Os ETF tiveram resgate de R$ 2,4 bilhões, os fundos ações de R$ 57,9 bilhões e os multimercados perderam R$ 79,7 bilhões. Entretanto, os fundos de ações livres tiveram uma rentabilidade negativa de 4,1%, enquanto os multimercados livres subiram 8,2% até setembro.
Porém, Rudge afirma que não dá para dizer que é um movimento generalizado entre os fundos multimercados. “Tem fundos que estão indo muito bem em termos de rentabilidade. Por operarem com vários instrumentos, uma boa gestão consegue navegar a volatilidade”, diz o vice-presidente.
O que acontece, segundo ele, é que nem sempre o investidor consegue ter uma visão de médio para longo prazo e resgata o seu investimento. “Eles preferem alocar em instrumentos mais conservadores, mesmo que o fundo ofereça um bom potencial de rentabilidade”, afirma Rudge.
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