Em seu Dicionário da Língua Portuguesa, Laudelino de Figueiredo traz o significado de concertador: aquele que concilia dissidentes. Após este segundo turno – tão divisor de vontades políticas e de posições ideológicas – o Brasil merece uma pausa e uma lenta digestão daquilo que ouviu, escreveu e decidiu nas urnas. Se os ânimos e as vontades se exaltaram, e ideias e lemas de campanha se dilaceraram no ardor de uma campanha acirrada, uma lição e um mandato sobrevivem às batalhas: a lição de respeito à vontade popular e o mandato claro de que a unidade nacional prevalece soberana. E isso nos remete ao futuro nacional.
Acima dos resultados eleitorais, a certeza da relevância internacional do país e o papel de destaque como a quinta maior economia do mundo em 2050 (segundo as projeções de órgãos internacionais), além de ser uma das quatro maiores democracias modernas. E tudo isto no arco de uma geração.
Assim sendo, o mandato interno também deve ser entendido e lido como uma missão nacional. Escolhi apalavra concertador para lembrar que só a seleção brasileira no Qatar não será suficiente para a união do povo brasileiro. A tarefa cabe ao presidente eleito, ao Congresso Nacional, ao Judiciário e à sociedade civil em busca da paz política, capaz de impulsionar uma economia em crescimento com uma das menores inflações do mundo, além de uma reserva de divisas e um saldo comercial inéditos.
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Melhorias no sistema educacional e científico também devem ser prioridades, como deixou claro Xi Jinping, ao consagrar-se o condutor vitalício da China, enfatizando que suas metas são uma educação de qualidade, e investimento em ciência e tecnologia, na busca da liderança mundial.
Ainda não livres de uma devastadora guerra nuclear graças à invasão russa na Ucrânia, agora vê-se a China como uma força mundial, e um mandato com uma musculatura suficiente de controlar Taiwan definitivamente, como fez em Hong Kong. A contraposição da Europa e dos países democráticos através da OTAN e a posição firme dos Estados Unidos nos levam de volta ao cenário sombrio da guerra fria, mas agora mais radicalizada, menos por posições ideológicas e mais pelo controle das mentes pela vitória tecnológica na batalha em campo aberto.
O Brasil modernizou-se mesmo com solavancos políticos, sustentado na certeza absoluta da prevalência da democracia, do conceito de um povo só brasileiro, da independência nacional e do respeito às nossas tradições históricas formadoras de uma nação livre e solidária.
A tarefa de concertador também será de cada um de nós que construímos diuturnamente as bases econômicas, as de convívio social, as de respeito entre nossos patrícios, independente de cores e raças e religiões e ideologias, sempre respeitados os princípios da religião de cada um, com todos voltados para a pátria que queremos manter. Livre, pujante, respeitada, alçando os patamares da educação e do bem-estar de seu povo, na busca permanente da justiça social e da força política para mantê-la soberana e altiva.
Mario Garnero é fundador e presidente honorário do Fórum das Américas, fundador e presidente da Associação das Nações Unidas-Brasil e fundador do Grupo Brasilinvest. Anteriormente, foi presidente do CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e diretor da VW do Brasil e da Monteiro Aranha.
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Artigo publicado na edição 102 da revista Forbes, em outubro de 2022.