Recessão. Essa é a palavra que tem gerado temor nos mercados globais. Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse ontem (13) que a chance de uma recessão global é de cerca de 25% e “é preciso que os bancos centrais continuem apertando a política monetária para tentar conter a inflação”. Ou seja, esse assunto ainda será pauta por um bom tempo. Mas, afinal, o que é e como se forma uma recessão econômica? A Forbes Brasil ouviu especialistas para explicar a questão.
Primeiramente, é preciso entender que além do termo recessão, também existe a recessão técnica. Neste caso, ela ocorre quando há um período de dois trimestres consecutivos de queda no PIB (Produto Interno Bruto), sem levar em conta outros indicadores. Ela é uma espécie de alerta para a economia. Esse fato, inclusive, é o caso atual dos Estados Unidos. No entanto, ainda não é possível dizer que o país está em recessão econômica.
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Isso porque a recessão econômica depende de mais dados além do PIB, como os de emprego, consumo e renda da população. “Os dados de trabalho são muito importantes para diagnosticar uma economia, juntamente com a renda. Esses são os pontos centrais. Quando há desemprego, há uma queda geral na renda e com isso, acontece uma redução de consumo. É aí que a economia entra nessa fase de dificuldade”, explica o economista Paulo Feldmann, coordenador e professor da FIA Business School.
Rodrigo Sgavioli, head de Alocação e Fundos da XP, complementa que é preciso ficar de olho nos diferentes indicadores para avaliar se uma economia está ou não em recessão: “Não é algo simples, não toca um ‘sininho’ em algum determinado momento para avisar que uma economia entrou em recessão. É necessário monitorar esses dados”.
O especialista diz que o mercado atribui uma probabilidade de 50% dos Estados Unidos entrarem em recessão, em um período de 6 a 18 meses. “Se isso se confirmar, a gente deve caminhar para um período de desaceleração mais forte.”
Os efeitos? Os piores possíveis. “Vira uma bola de neve. As pessoas passam a ter menos consumo, já que as empresas precisam mandar mais gente embora, gerando mais desemprego e aperto na renda. À medida em que aumenta o tempo, o ciclo aperta cada vez mais. É muito ruim para um país entrar em recessão. Em geral, os países fazem de tudo para que isso não aconteça”, explica Feldmann.
Para evitar entrar nesse cenário ou sair dele, é preciso que o governo aja. “É necessário que o Estado invista na economia, colocando, por exemplo, dinheiro em obras, principalmente as de infraestrutura, pois tudo isso gera empregos. Com isso, há uma melhora na situação”, diz o economista.
Outra forma, segundo Feldmann, é apoiar as pequenas empresas. “Elas são as principais geradoras de empregos no mundo. A partir do momento em que há esse investimento, a situação tende a melhorar.”
Apesar de não existir um fator determinante que ocasione uma recessão econômica, ela tende a acontecer por causa de uma pandemia, como foi a de Covid-19, por guerras, questões geopolíticas, inflação nas principais economias e crise na cadeia produtiva global, por exemplo. Ou seja, momentos em que as pessoas reduzem os gastos e a economia sofre.
Impactos nos mercados
Recessões econômicas em países como os Estados Unidos, China e Reino Unido, por exemplo, provocam reflexos nas demais economias. Como efeito, os mercados sentem a incerteza e passam a operar em modo cautela, já que a alta volatilidade passa a ser presente.
Com isso, podemos citar também a preferência pela liquidez, ida para aplicações mais seguros e o Bear Market – momento em que as Bolsas têm longos períodos de quedas.
“Nos investimentos, de uma forma geral, cria-se um clima de aversão a risco. Quando essa recessão tem origem em economias como as norte-americanas e europeias, ela causa impactos em outras economias também. O Brasil, por exemplo, também pode ser impactado, já que mantemos trocas comerciais muito relevantes com esses países. Tudo isso traz impacto principalmente para a Bolsa”, explica Sgavioli, da XP.
Para o especialista, a ferramenta necessária para fugir dos impactos – e não ser pego de surpresa – é a famosa diversificação: “É importante diversificar tanto em ativos locais quanto globais. Mesmo com o pior cenário em vista, a gente mantém a sugestão para grande maioria dos perfis de ter uma locação global, com boa parte em dólar, porque em cenários recessivos o dólar tende a se fortalecer.”
“Quando há essa fuga de capitais em meio a um cenário de risco elevado, os investidores acabam migrando os seus recursos para lugares considerados mais seguros, principalmente com os juros nos patamares que estão. Isso favorece a moeda norte-americana”, acrescenta Sgavioli.
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