Seminovos de luxo chegam ao preço de um 0 km

Foto: Divulgação/Paito Motors

Preço dos seminovos de luxo aumentam com a demora na entrega dos modelos 0km

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Marca de automóveis de luxo mais valiosa do mundo, segundo a consultoria Brand Finance, a Porsche tem uma das maiores listas de espera para seus carros zero quilômetro. O Porsche Carrera 911 está com dois anos de espera. Os modelos Cayenne e Macan têm prazo de um ano e meio cada.

Outros veículos de luxo passam pela mesma situação. As entregas do Range Rover Vogue, da inglesa Land Rover, por exemplo, estão acontecendo oito meses após os pedidos.

“Qualquer carro de luxo tem uma fila de espera longa hoje, o que acontece com isso é que os seminovos, pouco rodados, entram no game e se tornam uma boa opção”, diz Fifo Anspach, dono e diretor executivo da Automiami, concessionária especializada em veículos importados.

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Essa longa espera para a entrega dos veículos tem um motivo: a escassez de semicondutores no mercado internacional. Eles são a matéria-prima para a produção de chips que conduzem correntes elétricas e integram diversos aparelhos eletrônicos, como automóveis, smartphones, televisores e videogames.

O lockdown decorrente da pandemia afetou as cadeias produtivas. Na volta das atividades, a demanda pelos chips foi enorme, principalmente no setor de eletrônicos como smartphones e televisores.

O setor automotivo ficou em segundo plano e os fabricantes reduziram sua produção. Grandes montadoras como General Motors, Hyundai, Volkswagen e Toyota chegaram a dispensar seus funcionários por dias, por não ter chips para produção.

Além do impacto nas cadeias produtivas, a pandemia alterou os hábitos dos consumidores. “As pessoas ficaram sem viajar por muito tempo, isoladas em suas casas. Com tempo livre e dinheiro sobrando das viagens para a Europa que não ocorreram, a compra de carros de luxo durante esse período aumentou”, diz Anspach.

O dono da Automiami diz ter sido procurado por clientes que tinham visto anúncios nas redes sociais pedindo para ver o carro pessoalmente. “Enviávamos para os endereços e raramente os carros voltavam, era vendidos lá mesmo.”

Seminovo no preço do 0 km

Sem modelos zero quilômetro disponíveis no mercado, o interesse pelos seminovos aumentou. Porém, há algumas condições para isso. Um seminovo de luxo deve atender alguns critérios específicos. Ele precisa ter passado por um único dono e ter, no máximo, três anos de uso. Além disso, a quilometragem deve ser baixa, cerca de 10 mil quilômetros por ano, em média.

Para serem disponibilizados por concessionárias, esses veículos também devem estar em ótimo estado de conservação, com as manutenções em dia e garantia das montadoras pelos cuidados preventivos feitos em lugares especializados.

“O cliente chega na loja e pergunta: ‘quanto custa uma Range Rover zero 2022?’ Uns R$ 700 mil, mas o tempo de espera é de oito meses para entregar. Aí ele vê um modelo de 2021, pelos mesmos R$ 700 mil, pouco rodado e disponível no momento. Parece um ótimo negócio”, conta Anspach.

Segundo ele, nos modelos seminovos da Porsche, alguns casos estão até 20% mais caros do que os zero quilômetro, justamente pelo tempo de espera. “A subida do dólar também aumentou o preço do carro zero e os seminovos acompanharam na mesma proporção, algumas vezes até mais, pela falta do modelo zero no mercado”, diz o dono da Automiami.

Até mesmo em concessionárias não especializadas em veículos de luxo a demanda é consistente e com preços altos. Na Kavak, os modelos Land Rover Discovery, BMW X6 e Mercedes-benz Gle400 estão entre os veículos mais caros disponíveis na plataforma.

O diretor de Estratégia e Dados da Kavak, José Ribeiro, afirma que os carros de luxo têm rodado bem no inventário da empresa, ainda que com buscas menores se comparados com veículos de preço mais acessível.

Na startup, o preço dos veículos é definido por algoritmos e inteligência artificial. “Desenvolvemos o nosso próprio algoritmo baseado em inteligência artificial, que é alimentado por um conjunto de variáveis de mercado. O preço final reflete o momento atual de busca por aquele modelo e se há alguma influência externa, isso tudo em tempo real”, conta Ribeiro.

Valorização que veio para ficar

Em 2020 e começo de 2021, quando a taxa básica de juros do Brasil estava em 2% ao ano, a demanda pelos carros era maior. Hoje, com a Selic tendo subido para 13,75% ao ano, a demanda caiu.

“O mercado se normalizaou, apesar de continuar faltando carro. O preço dos seminovos ainda está alto e eu acredito que seja um fenômeno que veio para ficar”, diz Anspach.

Segundo Anspach, as montadoras que operam no segmento de luxo têm preferido vender menos carros por ano, mas oferecendo modelos mais sofisticados, com boa qualidade e inovações. É o que Anspach chama de “efeito Birkin”, uma bolsa feita pela empresa francesa de artigos de luxo Hermès, que controla a produção para manter a valorização pela raridade do produto.

Ao limitar a produção, as montadoras conseguem um maior controle da oferta e demanda, sem prejuízo do lucro – e isso já pode ser verificado nos balanços deste ano. A Volkswagen viu suas vendas globais caírem 20%, mas o lucro operacional do primeiro semestre somou € 13,2 bilhões, alta de 16% frente ao mesmo período de 2021. Já a Porsche viu o lucro operacional aumentar 25% no mesmo período, para € 3,48 bilhões, com uma entrega 5% menor de veículos.