A expectativa do mercado financeiro para os resultados das empresas no terceiro trimestre era baixa. A desaceleração econômica global e os juros e a inflação altos no país indicavam menor crescimento das empresas. No entanto, o lucro operacional das companhias abertas superou a expectativa da XP em 55% dos balanços. Já o faturamento veio melhor do que o esperado em 54% dos casos.
“Vemos os resultados do terceiro trimestre das empresas brasileiras como sólidos, mesmo sendo uma temporada um pouco pior do que a anterior”, escrevem os analistas da XP Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig em relatório.
Quanto aos setores, a XP analisa que as empresas do agronegócio, alimentação e bebidas, saneamento e transportes foram as que reportaram um lucro operacional acima das expectativas. Já companhias de bens de capital e do setor financeiro desapontaram em suas entregas.
Os bons números não animaram os pregões. Ao contrário, as empresas do Ibovespa que divulgaram números de faturamento e geração de caixa (Ebitda) acima das expectativas viram as cotações de suas ações caírem, em média, 1,3% e 1,0%, respectivamente, um dia após a divulgação dos balanços, segundo levantamento da XP. Já as ações das empresas cujos resultados ficaram abaixo das estimativas foram mais penalizadas, com quedas de 2,7% e de 4,0%.
Durante a temporada de balanços do terceiro trimestre, o Ibovespa caiu 5,9%, pressionado pelas preocupações com a subida de juros nos EUA, as eleições por aqui e, mais recentemente, com as discussões sobre a política fiscal do governo eleito.
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Já para a Genial Investimentos, esta temporada de balanços trouxe uma visão neutra das empresas, mas com viés negativo.
“Apesar da manutenção do nível de receitas, a queda dos preços das commodities e o impacto dos juros reduziram a capacidade de geração de caixa das companhias”, diz o relatório.
Em números gerais, a Genial calcula que as receitas permaneceram estáveis no terceiro trimestre (3T22), com queda de 0,58% na comparação com o segundo trimestre, porém com a alta de 8,95% na comparação com o 3T21. Excluindo Petrobras e Vale, o crescimento é mais significativo: alta de 7,10% trimestre a trimestre e 13,75% ano a ano.
Filipe Villegas escreve em relatório da Genial que o número que mais preocupou foi o de crescimento da alavancagem – indicador que mede a dívida líquida em relação ao lucro operacional (Ebitda). O crescimento da alavancagem foi de dois dígitos na comparação trimestral (+21,91%) e na comparação anual (+70,33%).
“Ao longo dos últimos meses, o aumento das taxas de juros levou ao aumento das despesas e custos financeiros, impactando a rentabilidade e as margens das empresas. Por conta da maior alavancagem, tanto o Ebitda quanto o lucro por ação apresentaram variações negativas no período”, escreve Villegas.
Destaques setoriais dos balanços do 3T22
Mineração e siderurgia: Genial e XP destacam a Gerdau (GGBR4) como tendo apresentado o melhor resultado. A unidade da América do Norte manteve margens robustas e os “resultados foram menos impactados no preço realizado que os demais pares”, afirma a Genial.
Varejo: Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3) apresentaram bons números, segundo a XP. Dentre as varejistas tradicionais, Magazine Luiza (MGLU3) entregou “uma importante recomposição de margens devido ao ganho de escala do digital e melhor performance de lojas físicas”, escreve Villegas.
Bancos: o Banco do Brasil (BBAS3) foi o principal destaque, com crescimento na carteira de crédito e aumento da margem financeira.
Agro, alimentos e bebidas: a Ambev (ABEV3) apresentou um desempenho sólido, com a operação brasileira melhor do que o esperado e capaz de compensar um desempenho fraco das unidades internacionais.
Saúde: a Genial destacou a Fleury (FLRY3) por “demonstrar capacidade de crescimento e rentabilidade, mesmo em um momento difícil para o setor”, enquanto a XP aponta que Rede D’Or (RDOR3) também apresentou resultados ligeiramente positivos com aumento nos tickets médios.
Transporte e logística: JSL (JSLG3) apresentou resultados muito fortes no 3T22, entregando um ótimo mix entre crescimento orgânico e inorgânico, para a Genial, e a Rumo (RAIL3) também reportou bons resultados, com forte desempenho de receita, segundo a XP.
Energia elétrica: AES Brasil (AESB3) colheu os frutos do cenário hidrológico mais favorável, apresentando o dobro de margem operacional líquida frente um ano atrás.