O Twitter precisa pagar as contas. O novo proprietário da empresa, Elon Musk, insistiu nisso ao responder às críticas do escritor Stephen King.
O autor de inúmeros clássicos de horror disse estar aterrorizado com o plano de Musk de cobrar US$ 20 (R$ 102,98) por mês dos usuários da rede social pela verificação das contas. Na terça-feira (1º), o bilionário mudou de ideia de novo e disse que, agora, o pagamento será de US$ 8 (R$ 41,19). Quando você ler isso, pode ser que Musk tenha dito algo diferente.
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Musk foi finalmente forçado a adquirir a empresa de mídia social por US$ 44 bilhões na quinta-feira passada. Isso ocorreu quase seis meses depois de ele anunciar que o acordo estava suspenso por conta das preocupações com bots. Mesmo assim, várias questões importantes continuaram em aberto. A principal delas: como Elon Musk planeja tornar o Twitter lucrativo, especialmente com tantas obrigações financeiras?
A empresa deve aos empregados a conversão de opções de ações, que teria de ocorrer se o Twitter permanecesse uma companhia aberta, pode exemplo. Além disso, os analistas estimam que a empresa deverá pagar cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,14 bilhões) em juros por ano.
Foram levantados pelo menos US$ 13 bilhões (R$ 66,94 bilhões) em dívidas para financiar uma das aquisições mais caras da história do setor de tecnologia.
Cobrar US$ 8 (R$ 41,19) por mês para verificação de conta pode ser uma peça para montar esse quebra-cabeça, mas será uma peça pequena. A Forbes estima que 10,4 milhões de usuários teriam que pagar essa taxa a cada ano para pagar a dívida do Twitter.
Atualmente, 400 mil usuários usam as marcas de seleção azuis – gratuitamente. Ou seja, o número teria de crescer 25 vezes. Porém, ao passar a cobrar por um serviço até agora gratuito, o Twitter corre o risco de afastar os usuários avançados dos quais ele depende para manter o engajamento.
Mesmo que alguns usuários do Twitter estejam dispostos a pagar o valor pela verificação da conta, é improvável que isso afete muito os US$ 1 bilhão (R$ 5,14 bilhões) em despesas anuais com juros, de acordo com Dan Ives, analista da Wedbush que cobre o Twitter. Segundo Ives, as taxas podem gerar uma nova receita equivalente a até 5% do maior fluxo de receita existente da empresa, a receita de publicidade, “dependendo da aceitação, se a adoção for forte”.
No máximo, isso alcançaria US$ 290 milhões (R$ 1,49 bilhão) em novas receitas, com base na previsão mais recente da Wedbush para receita total de US$ 5,8 bilhões (R$ 29,8 bilhões) em 2022 – ou no máximo 3 milhões de usuários pagando US$ 8 por mês. Ou seja, Musk provavelmente terá que procurar em outro lugar o dinheiro para pagar os juros da dívida do Twitter.
Existem outras oportunidades, e provavelmente mais lucrativas, por aí. Por exemplo, “há todo um grupo de usuários corporativos para quem o Twitter é fundamental”, diz Greenfield. “Essas empresas não teriam dúvidas em pagar muito para usar o Twitter.”
Porém, na terça-feira (1º), Musk estava focado em usuários individuais. Ele disse em uma postagem na própria rede que a verificação paga permitiria que esses usuários tivessem prioridade nas respostas, nas menções e nas pesquisas, vissem menos anúncios e postassem áudios e vídeos longos.
O recurso também permitiria que os usuários ignorassem os paywalls de alguns editores e pagassem os criadores de conteúdo, embora Musk não tenha entrado em detalhes sobre nenhuma destas iniciativas.
Os influenciadores, no entanto, não são a favor da mudança, de acordo com a empresa de pesquisa GlobalData. E a maioria dos usuários acessa o Twitter exatamente para interagir com esses influenciadores.
Eles não estão sozinhos. Uma pesquisa realizada por Jason Calacanis, investidor anjo e aliado de Musk, sugere que o número de usuários com marcas de seleção azuis pode realmente diminuir sob o novo plano do bilionário. Questionados sobre “quanto você pagaria para receber uma marca de verificado no Twitter”, quase 82% dos entrevistados disseram que não pagariam nada.
Cobrar usuários das redes sociais oferecendo recursos premium não é novidade. O LinkedIn gera cerca de 40% de sua receita por meio de assinaturas, com vários níveis a partir de US$ 29,99 (R$ 154) por mês. E o próprio Twitter tem seu serviço de assinatura: o Twitter Blue, que desde 2021 fornece aos usuários “acesso a recursos premium como Undo Tweet” por cerca de US$ 4,99 por mês (R$ 25,60).
O Twitter não divulga as receitas do Twitter Blue, que foram agrupadas em uma categoria genérica de “assinatura e outros” em suas divulgações como empresa pública. Mas em sua última divulgação, mostrou um declínio de 27% na comparação anual. O que é novo, porém, é o plano de Musk de tornar a verificação um serviço pago.
Nir Eyal, autor e ex-professor de Stanford, diz que a verificação generalizada de usuários na plataforma pode ajudar a reduzir os bots no Twitter e identificar mais pessoas reais, que os anunciantes podem segmentar. Mas se os usuários começarem a pagar para ver menos anúncios, isso acabaria reduzindo as receitas publicitárias do Twitter.
A marca de verificação azul, que nasceu devido a um processo de difamação contra a empresa em 2009, já foi envolvida em controvérsias e é um sinal de status na comunidade digital. Seu objetivo original era verificar a identidade de algumas pessoas: celebridades, políticos, empresários e jornalistas como proteção contra falsificação de identidade. As regras do Twitter exigem que as contas sejam “autênticas, notáveis e ativas” para se qualificar.
Outras redes sociais como LinkedIn e Facebook, também possuem programas de verificação, mas todos são gratuitos. Esses programas são considerados um serviço para proteger os usuários da desinformação, e não como um recurso premium. E os planos do Twitter de cobrar pela verificação podem, por outro lado, levar pessoas mal-intencionadas a imitar personalidades que não podem (ou não querem) pagar a taxa.
Eyal sugere que o Twitter cobre uma taxa inicial única para os usuários serem verificados, com a promessa de que as contas de imitadores seriam retiradas para usuários pagos. Mas seguir essa promessa seria fundamental, ele adverte. “Seja Instagram, Tiktok ou LinkedIn, todos eles são péssimos para eliminar contas falsas”, diz ele.
Greenfield, da LightShed Partners, vê uma oportunidade significativa de gerar fluxo de caixa adicional de outros serviços de assinatura de alta margem, inclusive aumentando o número de assinantes do Twitter Blue, que se destacou nos planos de Musk em uma apresentação para investidores vazada para o New York Times em maio.
De acordo com a apresentação, Musk espera que esse serviço e outro misteriosamente chamado “X” (que se acredita ser um “super aplicativo” semelhante ao WeChat) gerasse grande parte da meta ambiciosa de US$ 10 bilhões (R$ 51,4 bilhões) em receitas, prevista para 2028.
Isso é quase o dobro das vendas totais de 2021, que Musk esperava aumentar mais de cinco vezes, para US$ 26,4 bilhões (R$ 136 bilhões) até 2028. Ele projeta que US$ 12 bilhões (R$ 61,7 bilhões) do total de vendas naquele ano venham de publicidade para uma base de 931 milhões de usuários. Isso significa mais do que quadruplicar os 217 milhões divulgados pela empresa em 2021.
Os objetivos são altos, com certeza. Mas apenas “240 milhões de usuários, mesmo 5% deles pagando US$ 10 por mês, é uma oportunidade de negócios de US$ 1,5 bilhão”, diz Greenfield, acrescentando que há muitos detalhes a serem trabalhados.
A saída de grandes usuários da plataforma é o maior risco para Musk, diz Eyal. “A pior coisa para o Twitter seria o colapso da rede, pois ninguém quer ir para uma festa em que ninguém mais vai.” Um desses detalhes pode ser descobrir quanto da maioria não pagante ficará ofendida com a taxa, sendo capaz de deixar de acessar a plataforma. Afinal, de acordo com Stephen King, “não é o dinheiro, é o princípio da coisa”.
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