Os investidores estrangeiros possuem a maior participação na bolsa brasileira: 56,3%. Na sequência aparecem os institucionais, com 25,2% de participação, e as pessoas físicas somam 14,4%.
Desde o início do ano, os estrangeiros já aportaram R$ 102,7 bilhões na bolsa brasileira – mais do que o dobro dos R$ 41,5 bilhões de 2021. Janeiro, fevereiro e março foram os meses com maior saldo positivo, acima de R$ 20 bilhões por mês. Em outubro, o saldo foi de R$ 14,1 bilhões.
No ano, o real acumula uma valorização de 3,3% – até quarta-feira (9) os ganhos chegavam a 6,8%, mas com a alta de 4% do dólar ontem, o saldo positivo diminuiu. 2022 começou com o dólar negociado a R$ 5,70. Ao final do pregão de ontem, a moeda norte-americana estava avaliada em R$ 5,40.
Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, afirma que o cenário para o real já era positivo antes da resolução do pleito eleitoral no final de outubro. Segundo ele, independentemente de quem fosse o presidente eleito, o país estava bem colocado para uma valorização da moeda.
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Os fatores para essa visão otimista estão atrelados ao cenário internacional e ao bom desempenho econômico do país ao longo do ano.
“Nos últimos meses a taxa de desemprego vem caindo, a inflação está convergindo para a meta, mesmo que lentamente, os juros estão em patamares elevados. Juntos, esse conjunto de fatores torna o Brasil interessante para o investidor estrangeiro. Principalmente quando você olha para a situação dos pares internacionais”, diz Izac.
Os pares seriam Rússia (que está em guerra contra a Ucrânia), China (ainda com problemas no controle da Covid) e Índia (que enfrenta dificuldades com suas commodities agrícolas e energia). Na América Latina, Argentina, Colômbia e Chile são penalizados por seus cenários políticos e econômicos também.
O peso colombiano, por exemplo, desvalorizou 25% frente ao dólar ao longo do ano. O peso argentino, –55%. O peso chileno, –7,7%. O indicador de moedas de mercados emergentes MSCI recuou 8% este ano, perto da queda anual recorde de 8,7% registrada durante a crise de 2008.
Para Izac, o Brasil destoa de seus pares emergentes internacionais por estar com a economia mais controlada. “Estamos apresentando superávit na balança comercial, nossas commodities vivem um bom momento, com uma boa produção agrícola. Nossos juros reais estão altos e pagando bem. O cenário base é favorável para a entrada de capital estrangeiro”, diz o sócio da Nexgen.
Entretanto, até o próximo ano, o especialista acredita que as negociações da moeda serão voláteis, como se apresentaram nestes últimos dias.
Dólar em 2023
Para o BTG Pactual, são dois fatores que podem afugentar os estrangeiros do Brasil no próximo ano: os juros nos EUA e a escolha econômica do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Enxergamos um dólar global forte nos próximos meses, considerando que a taxa de juros deve chegar ao intervalo de 5,00% a 5,25%, ou seja, vento contrário ao fluxo financeiro para países emergentes”, diz o relatório de câmbio.
Isso porque, os títulos públicos norte-americanos têm sua rentabilidade atrelada aos juros. Com as taxas mais altas, os ganhos são maiores e se tornam mais interessantes para o investidor, que irá preferir estar posicionado na maior economia do mundo do que correr riscos em mercados emergentes.
Em paralelo a política monetária dos EUA está a política fiscal e econômica do Brasil. “A composição da equipe de ministros [do governo Lula] será essencial para a precificação dos juros domésticos e, por consequência, dos ativos de riscos ligados à atividade econômica interna”, diz o relatório do BTG.
Os analistas apontam preocupação em relação a uma campanha de expansão fiscal em 2023, que elevaria os gastos públicos e aumentaria a dívida/PIB.
O fator decisivo está na indicação de nomes técnicos para a pasta de economia. “O mercado espera bons nomes, técnicos e comprometidos com a situação fiscal. Um nome meramente político, sem credibilidade econômica, pode criar um ambiente inóspito para investimentos de estrangeiros e local”, diz Izac.
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