Veio à cabeça, na semana passada, uma reflexão, enquanto jantava e conversava com amigos sobre nossa inspirações pessoais. No mundo de hoje, admiração é artigo em falta. Ainda assim, o que nos trouxe até aqui foi nossa capacidade de agir coletivamente. Não quero fazer uma defesa da crença ingênua, mas do exercício do raciocínio com esperança, quase como um processo de fé no outro.
Respeito, importância e admiração estão visceralmente ligados, e a união desses fatores nos mostra que há racionalidade no que se admira – e o resto é confusão mental. Quando falamos dos nossos maiores espelhos, me sinto honrado em carregar nas veias o sangue de quem para mim foi além de ser o meu maior herói de carne e osso, alguém de hábito generoso de pensamento, meu pai, que mesmo não estando mais fisicamente presente, continua sendo a figura que mais aclara predicados para mim.
Sr. Nevaldo Rocha foi quem mais acreditou na nossa capacidade de construir e realizar. Ele foi um menino que viveu na miséria em Caraúbas, no sertão do Rio Grande do Norte, e, com 12 anos, com a roupa do corpo e poucos trocados, que só davam para a passagem de ônibus, foi para a capital buscar oportunidades. Como por impulso e força de vontade, o então menino não transformaria apenas a vida da sua própria família, mas, sim, de mais de 40 mil pessoas, que hoje trabalham na Riachuelo. Gerar empregos sempre foi o seu propósito – e tornou-se o seu legado.
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Completando 75 anos de história no dia três de outubro, a Riachuelo é o resultado de muito trabalho: o que antes era uma pequena loja de roupas, se transformou no maior ecossistema de moda, lifestyle e produtos financeiros do país. Meu pai foi um grande conciliador e defensor da união, e dizia que esse era o ponto crucial para o crescimento, dentro e fora da companhia, o que para ele não havia separação. Essa linha de raciocínio faz parte dos aprendizados que herdamos e que aplicamos no ambiente corporativo, o da união, afinal, por trás de um emprego, existe uma pessoa e, por trás dessa pessoa, sonhos e expectativas.
Como acolher tantas pessoas e tantos sonhos debaixo de uma liderança? Unindo-as a um propósito. Adotando para si os aspectos positivos do outro. Honestidade, simplicidade, foco, transparência e meritocracia são os nossos valores familiares, que transcendem os muros da nossa casa.
Perpetuar o seu legado e dar continuidade aos seus ensinamentos nos fez, há pouco mais de um ano, criar o Instituto Riachuelo, que tem o propósito de ajudar a desenvolver o sertão, nossa terra mãe, com geração de trabalho e renda, e entre tantos outros projetos que se desdobram, sempre pensando nas pessoas – o centro do nosso negócio.
Nesse nosso septuagésimo quinto aniversário, faço questão, de com gratidão, manter viva a memória de quem nos ensinou tudo que pôde, plantou a semente que continuamos a semear e que segue transformando vidas, meu pai. Há muito o que celebrar e há muito o que construir. E quando falo de exemplos, em quem você pensa?
Flávio Rocha é presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes.
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Artigo publicado na edição 101 da revista Forbes, em setembro de 2022.