Vou aproveitar o ensejo dos votos de fim de ano, que até podem soar como um grande clichê, para que possamos olhar com profundidade e prolongar as mensagens reflexivas “dezembristas”, em que o ganho é de, no mínimo, muito autoconhecimento.
A tal da retrospectiva mental de como foi seu ano seria de muito valor se sua periodicidade fosse diária, e não se limitasse à exclusividade de uma data. A análise dos próprios atos e das situações vividas é um convite à evolução humana.
Reavaliar faz parte do processo, e parto do pressuposto de que me parece de extrema ignorância nos mantermos de costas para o novo. Quando Sócrates disse: “Só sei que nada sei”, não estava afirmando uma certeza, mas, sim, transparecendo os seus questionamentos, e reconhecendo a infinitude do conhecimento.
Estagnar nas opiniões é sobretudo não acompanhar o movimento que a vida nos exige– é se manter na alienação retrógrada de quem, por preguiça ou burrice, prefere não aprender.
Dar a si e ao outro a oportunidade do diálogo, da troca de ideias e reavaliar as próprias verdades absolutas são de uma generosidade imensa – consigo e com toda uma sociedade que precisa de seres humanos cada vez melhores para de fato evoluir como coletivo. Por isso que o singular é de estrondosa força.
Então, por que não o fazer com uma constância maior?
É sempre hora de reorganizar a vida. Vamos normalizar os recomeços numa quarta-feira de março ou numa segunda-feira de outubro, e dar novos significados, sempre que assim se faça necessário, sem esperar fogos de artifícios e contagens regressivas para esse pontapé.
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O mesmo para as reuniões familiares e o cultivo da prática do espírito da união natalina, que poderia ser um hábito rotineiro para aqueles que ainda não o fazem. No fim das contas, a vida é sobre dividi-la com os nossos afetos, que por mistério e infelicidade não se fazem eternos.
Trago os meus votos para o próximo ano em forma dessas reflexões, deixando para as burocracias as
datas preestabelecidas. A potencialização da transformação, do autoconhecimento e do exercício para
melhoria pessoal devem fazer parte dos afazeres do dia a dia, junto com os exercícios, as vitaminas e o lembrete de beber água.
Deixo aqui o meu desejo genuíno de transformação contínua e de sede por aprendizado. Que existam muitos fins de ano nos seus dias, e que sejamos inteligentes, o suficiente, para usufruir desta passagem com impulsos de renovação.
Flávio Rocha é presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes.
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Artigo publicado na edição 104 da revista Forbes, em dezembro de 2022.