Catar não é o ponto principal destas reflexões. Muito mais abrangente e importante é e será o panorama brasileiro a se desdobrar desde as eleições e pelos próximos quatro anos. Normais nos períodos eleitorais, as propagandas positivas e negativas deixam sequelas, mas o tempo cura todas as feridas.
E é sobre o tempo de cicatrização que desejo hoje me referir. Demarcaram-se nestas eleições algumas verdades que serão basilares para o entendimento e o fortalecimento da união e da integração nacionais.
A certeza do peso do Brasil no mundo e a necessidade de uma presença internacional maiúscula e articulada. A busca de entendimento constante entre os poderes constituídos e o respeito às suas decisões. E, aos políticos, uma palavra sobre a transitoriedade do poder e sua desvinculação das pessoas que o exercem por delegação.
O voto é o rei.
Teremos nos próximos quatro anos uma gestão que mudará métodos e objetivos, e, com isso, prioridades que avançaram em nosso país, mas ainda não resolvemos. A primeira é a eliminação da pobreza. Somos a 10ª economia do mundo e, no curto espaço de uma geração, seremos a 5ª maior do mundo – não poderemos ostentar índices de pobreza como os atuais. Fizemos muito, mas ainda não o suficiente.
Nosso objetivo nacional deverá ser o de atingir uma renda per capita de US$ 20 mil anuais, o que nos colocaria como um país desenvolvido. Temos todos os recursos para lá chegar. Desse objetivo nacional decorrem as ações correspondentes.
O primado da educação e da saúde, para os quais gastamos muito e mal. A reforma tributária afastando-nos de um regime fiscal altamente negativo em termos de distribuição de renda e oportunidades.
Lula, um dia em meu escritório, em 2002, disse uma frase-chave: “Aprendi na indústria automobilística que o que cria riqueza é o emprego”.
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A simplificação nas leis e regulamentos que tornam nossos custos empresariais e principalmente sociais campeões mundiais. A China tem uma legislação menos avançada no direito trabalhista que a brasileira, e a consequência foi a criação aqui de mais de 5 milhões de novos empregos formais nos últimos anos.
A recuperação da infraestrutura, de portos, estradas, aeroportos reduziu o Custo Brasil, e sua prioridade salta aos olhos. A integração regional com as necessidades do Nordeste e da Amazônia continuarão sendo, estou certo, priorizadas na nova gestão.
A paz nas áreas de produção agrícola e a industrialização de sua produção poderão ser as bases para a
retomada da atividade industrial no país, em queda vertiginosa por não se integrar na cadeia produtiva mundial e sufocada por um IPI massacrante.
Todos os governos deixam saldos, uns mais positivos, outros nem tanto, mas o Brasil tem avançado, embora ainda com rodas entravadas por uma burocracia, cartorialmente protegida.
Que os novos ventos trazidos por um novo governo ajudem a levar nossa nau a um porto seguro. E que a tripulação deste encouraçado, que será o 5º mais importante do mundo em 2050, seja primordialmente composta por jovens hoje abaixo dos 30 anos, cujo porvir está desenhado para conduzir esta nossa nação.
Mario Garnero é fundador e presidente honorário do Fórum das Américas, fundador e presidente da Associação das Nações Unidas-Brasil e fundador do Grupo Brasilinvest. Anteriormente, foi presidente do CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e diretor da VW do Brasil e da Monteiro Aranha.
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Artigo publicado na edição 104 da revista Forbes, em dezembro de 2022.