O ano de 2022 foi forte para os dividendos. O dividend yield do Índice Bovespa está projetado para terminar em 11% (acima dos 8% registrados em 2021), beneficiado pela forte distribuição da Petrobras (PETR3; PETR4) e pela fraca apreciação das cotações da empresa — o retorno aumenta quando o preço de mercado cai e o dividendo se mantém. Para 2023, no entanto, especialistas consultados pela Forbes Brasil dizem que, no geral, o retorno pode até continuar bom, mas em níveis menores.
Apesar da dinâmica de preços de commodities continuar favorável no ano que vem, especialmente com a China reabrindo a economia, os riscos de recessão nos Estados Unidos e na Europa podem pressionar os preços. “A expectativa é que tenhamos um nível menor de dividend yield, ao redor de 6% em 2023”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos. O número, se confirmado, será mais fraco do que o esperado para 2022, mas, ainda assim, será acima dos anos anteriores.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Na cena doméstica, fica no radar a provável alteração na governança da Petrobras, a maior pagadora de dividendos do mundo segundo a gestora britânica Janus Henderson. Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap Investimentos, diz que também é preciso observar o movimento do petróleo, já que ele afeta diretamente no desempenho da empresa e contribui para o volume total distribuído.
Para Hugo Baeta, analista de ações da AF Invest, se a commodity atingir patamares mais altos do que o visto neste ano, pode ser que, mesmo distribuindo uma parcela menor da geração de caixa, a empresa tenha um dividendo elevado. “Mas, tirando o fator commodity da mesa, os dividendos da Petrobras devem ser menores em comparação a 2022”, acrescenta o especialista.
Além disso, o último Plano Estratégico publicado pela companhia indicou pagamentos de dividendos nos próximos anos no valor de quase R$ 70 bilhões, e mais R$ 10 bilhões de dividendos extraordinários. Segundo os analistas da XP, os dividendos para 2023 devem ser ainda bons, mas a partir de 2024 os riscos de mudanças na política da empresa aumentam.
Os setores e as ações mais promissoras
Entre as ações que tendem a ser mais beneficiadas em 2023 estão as do setor elétrico. Jennie explica que essas são, geralmente, as que têm os pagamentos de dividendos mais regulares historicamente. “Isso ocorre pela própria natureza desse setor, que tem uma maior demanda e, portanto, receita mais estável”, explica a estrategista da XP.
As empresas de commodities também podem continuar a pagar altos dividendos, mas só se os preços das matérias primas continuarem em alta. “Vale notar que os dividendos desse tipo de empresa tendem a ser mais cíclicos”, alerta Jennie.
Para Araújo, da Finacap, o setor bancário também será promissor. “É um segmento que recuperou os patamares de distribuição pré-Covid, o que ajuda para compensar perda provável da distribuição nas estatais”, diz o especialista.
Para Werner Roger, sócio fundador e CIO da Trígono Capital, a Vale (VALE3) também poderá ser uma empresa interessante, além de Copel (CPLE6), Gerdau (Gerdau), BrasilAgro (AGRO3) e Metal Leve (LEVE3). A última, segundo o especialista, merece um destaque importante. “Ela tem um histórico muito positivo de pagar dividendos, com um DY de pelo menos 20%. A Metal Leve será uma das melhores pagadoras deste ano”, explica.
Características de uma boa pagadora de dividendos
Uma boa pagadora de dividendos apresenta um dividend yield (pagamentos de proventos em uma janela de 12 meses dividido pelo preço da ação) alto. “Quanto mais alto, maior o rendimento de dividendos”, explica Jennie, da XP. Além disso, a companhia terá um bom histórico de pagamentos. “É importante buscar empresas que tendem a pagar de forma consistente. Isso indica que podem (mas também não garante) continuar a pagar proventos de forma regular”, acrescenta. “É importante ficar atento à política de dividendos de cada empresa e aos anúncios que elas fazem.”
Outro ponto característico é que, geralmente, as boas pagadoras de dividendos têm baixo endividamento e são mais maduras. “Elas não são tão afetadas pela oscilação do ciclo econômico, como empresas de utilities, bancos e seguradoras”, diz Baeta, da AF Invest.