Após um 2022 extremamente volátil, o cenário para renda variável em 2023 é complexo, segundo o BB Investimentos. Os analistas afirmam em relatório que, apesar do desconto nos múltiplos do Ibovespa, o ambiente macroeconômico global ainda traz incertezas. “Para as companhias listadas, o contexto segue desafiador”, diz o relatório.
O preço-alvo para o Ibovespa ao fim de 2023 para o BB Investimentos é de 133.000 pontos. Já a XP prevê que o principal índice de ações brasileiro irá terminar o próximo ano aos 125.000 pontos. Ou seja, considerando-se esses dois prognósticos, a valorização esperada para 2023 oscila entre 15% e 22%.
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Ambas as análises destacam que a visão é cautelosa, considerando os riscos de recessão global e esforços para combater a alta inflação nos mercados desenvolvidos por meio de aumento dos juros. No cenário interno, dúvidas sobre quais serão as políticas fiscais do próximo governo também são consideradas.
De acordo com o BB Investimentos, os riscos internos são de redução da atividade econômica, pressões inflacionárias persistentes, juros altos, lucros negativos nas companhias e agravamento do quadro fiscal. Já no cenário externo os riscos são aumento na taxa terminal de juros dos EUA, recessão econômica nos EUA e na Europa, permanência da China com políticas restritivas, persistência da pressão inflacionária e aumento das tensões geopolíticas.
“O prêmio de risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros locais. O nível atual de prêmio está em 8,9%, superior à média histórica de 5,4%”, diz o relatório da XP.
Ainda assim, as teses continuam cautelosas em meio às incertezas. O relatório da XP destaca três teses de investimentos que eles não aconselham:
- Ativos com valuations altos: inclui empresas de crescimento, como e-commerces;
- Ações de consumo: cenário macroeconômico segue desafiador para o setor;
- Ações negativamente correlacionadas com juros altos: como as construtoras, que são afetadas pelas incertezas fiscais.
Setores promissores
Existem, entretanto, as teses promissoras. Para a XP, o setor de commodities, com destaque para óleo e gás, deve se beneficiar da dinâmica de oferta e demanda favorável para as cotações. Além disso, a corretora destaca empresas de crescimento histórico e as que permanecem resilientes em meio ao cenário desafiador.
O BB Investimentos indica com mais clareza quais seriam esses setores:
Bancos: “O cenário de juros tende a arrefecer o crescimento do crédito e diminuir a qualidade da carteira, mas a recomposição de spreads é positiva para os bancos. Seguradoras devem apresentar um ano de estabilidade.”
Ações selecionadas: Itaú (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11) e ABC Brasil (ABCB4)
Mineração, siderurgia e óleo e gás: “A expectativa de desaceleração econômica global, especialmente na China, traz incertezas com relação ao nível de demanda de materiais básicos no próximo ano, enquanto a indústria de óleo e gás pode seguir beneficiada pelos elevados preços de petróleo, com crescimento na produção e reduções nos custos de extração.”
Ações selecionadas: Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e Vibra (VBBR3)
Agronegócio, alimentos (proteínas): “A produção de grãos na safra 2022/23 deve registrar novo recorde, mantendo o Brasil entre os protagonistas nas exportações. Elevações nos preços do açúcar seguem limitadas, enquanto a competitividade do etanol permanece atrelada às expectativas sobre o término dos incentivos tributários à gasolina.”
Ações selecionadas: SLC Agrícola (SLCE3), Minerva (BEEF3)
Setores internacionais
O cenário internacional seguirá tão ou mais desafiador do que o cenário doméstico em 2023, de acordo com os analistas. O mais esperado é a alta volatilidade no mercado de renda variável. Entretanto, o relatório dá algumas dicas de como se posicionar nos próximos 12 meses.
A preferência dos analistas da corretora é por alocações em ativos com poder de precificação, ou seja, capacidade de repassar a inflação em seus preços e gerar lucros. No entanto, o relatório indica que se evite companhias com múltiplos muito altos.
Empresas de energia, especialmente petrolíferas, “cujos baixos níveis de investimentos nos últimos anos devem manter o desequilíbrio entre oferta e demanda como um fenômeno estrutural”, também são uma indicação, com a observação de que o setor deve enfrentar volatilidade nas cotações no próximo ano.
Setores defensivos e bons pagadores de dividendos também entraram na seleção internacional da XP, com destaque para as áreas de telecomunicações e saúde. “Em momentos de elevada incerteza macroeconômica, como atualmente, investir nesse perfil de companhia pode diminuir o risco e reduzir a volatilidade dos portfólios.”
“Apesar do cenário global ainda bastante incerto, reforçamos a necessidade estrutural de exposição a investimentos internacionais. (…) alocações diversificadas em ativos de qualidade e diferentes geografias são as principais alavancas para bons resultados com um risco adequado na carteira de investimentos”, diz o relatório da XP.