A 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro deferiu, no início da noite de hoje (13), um pedido de tutela de urgência à Americanas. O pedido adia a obrigação da empresa de pagar suas dívidas e tem validade de 30 dias. O mais provável é que a Americanas apresente um pedido de recuperação judicial.
No pedido de tutela apresentado à Justiça, a Americanas afirma que o rombo de R$ 20 bilhões em suas contas, divulgado na quarta-feira (11), pode acarretar no vencimento antecipado e imediato de dívidas. A empresa não divulgou uma estimativa oficial no Fato Relevante publicado na sexta-feira, mas documentos apresentados no pedido judicial indicam que uma eventual antecipação dos pagamentos, que está prevista em “covenants” (compromissos financeiros) com os credores da Americanas podem chegar a R$ 40 bilhões.
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No documento entregue para o pedido de tutela, a empresa afirma que as “inconsistências contábeis” exigirão reajustes nos lançamentos do balanço, o que deverá impactar também em resultados de exercícios anteriores, com revisão no nível de endividamento. Ou seja, é bastante provável que a empresa tenha de republicar os balanços dos últimos anos. Um dos credores, o banco BTG Pactual, já teria declarado vencimento antecipado de dívidas que somam mais de R$ 1,2 bilhão, segundo a empresa.
Os administradores judiciais designados pelo juiz Paulo Assed, que assina a medida, são o advogado Bruno Rezende e o Escritório de Advocacia Zveiter. Associações de acionistas minoritários já se preparam para questionar a empresa e os auditores.
Contexto
Na última quarta-feira, a Americanas soltou um fato relevante em que informou descobrir “inconsistências contábeis” na ordem de R$ 20 bilhões. Os números alarmantes fizeram com que o recém-empossado CEO, Sérgio Rial, renunciasse ao seu cargo, junto o diretor financeiro André Covre.
Em apresentação a investidores ontem (12), Rial admitiu problemas com transparência nas Américas. “Em algumas organizações, especialmente as que precisam de ajustes, a disposição da administração em falar de problemas por vezes é menor do que deveria ser”, disse.
O ex-CEO explicou que a diferença contábil está na conta de “Fornecedores”. Em muitos casos, a Americanas financia os fornecedores, pagando antecipadamente a compra de mercadorias que serão revendidas na rede. Rial afirmou que a rede captava esses recursos em bancos, mas não contabilizava esses empréstimos como dívida, como deveria ter sido feito. O executivo admitiu que essa é uma prática tradicional no varejo. “Esse assunto vem sendo discutido desde os anos 1990”, disse ele.