Se o ano de 2021 foi animado para a abertura de capital, com 46 empresas entrando na Bolsa de Valores, 2022 foi bem diferente. O Brasil terminou o ano sem registrar nenhuma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), um acontecimento não visto desde 1998
Foram movimentados R$ 54,9 bilhões em ofertas secundárias (follow-ons), dos quais R$ 33,7 bilhões, ou 61,3% deveram-se à capitalização que privatizou a Eletrobras (ELET3/ELET6). Segundo especialistas consultados pela Forbes, as expectativas para 2023 podem até ser melhores, mas não deverá haver nada grandioso.
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Isso porque o mercado ainda terá de lidar com as questões que assombraram os mercados em 2022. Com as taxas de juros lá em cima para tentar conter a inflação, houve uma forte migração para a renda fixa. “Vimos uma incerteza geral rondando o mercado, tanto em relação à performance econômica e previsibilidade do Brasil, quanto à questão das eleições”, diz Alexandre Pierantoni, head de finanças corporativas da Kroll no Brasil.
Para este ano, no entanto, as definições do novo governo põem fim a algumas das incertezas que preocuparam os investidores. O que pode existir ainda no ano, porém, é o déficit fiscal, teto de gastos e como (e quando) vai se comportar a inflação. “Outro ponto de atenção é o desempenho do mercado internacional”, explica Pierantoni. Por isso, a espera é por uma retomada gradual na abertura de capital das empresas.
Para Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, 2023 vai continuar sendo um ano desafiador, pelo menos enquanto não houver mais definição sobre os principais vetores que vão influenciar o mercado.. “Eu não acredito em uma onda de IPOs neste ano. E sim em algo aos poucos. O mundo está indo para um cenário de juros mais altos devido ao avanço inflacionário que temos enfrentado. Isso dificulta a ida de capital para a Bolsa por parte de investidores”, diz o especialista. Segundo Oliveira, ainda é esperado que haja cautela em relação à renda variável, o que inibe a entrada das empresas.
Na prática, com a Bolsa ruim e a renda fixa pagando boas taxas, fica difícil para as empresas abrirem capital para receber menos do que elas acreditam que valem. “Isso faz com que as companhias segurem essa decisão até verem uma possível melhora do cenário, para que, com isso, consigam levantar um capital a um preço mais interessante”, complementa o especialista.
Segundo Pierantoni, apesar das perspectivas para o novo ano não serem nada grandiosas, o Brasil desempenhou melhor ante o cenário internacional, o que traz mais otimismo. “Os temas, principalmente associadas ao meio ambiente, nos coloca de uma forma melhor do que lá fora. Há uma melhora da percepção do investidor”, explica. “Isso pode trazer ânimo para a abertura de capital.”