O dólar avançou ante o real pela terceira sessão consecutiva hoje (20), acumulando alta de cerca de 2% na semana, à medida que agentes financeiros ainda repercutiram declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a economia, enquanto, no exterior, a moeda norte-americana recuava frente à maioria das divisas.
O dólar à vista subiu 0,68%, a R$ 5,2086 na venda, maior patamar de fechamento desde 9 de janeiro (R$ 5,2594). A moeda norte-americana teve sua primeira semana de alta frente ao real em 2023, com ganhos de 1,98%.
“O mercado vê com certa aversão essas falas do Lula, causa instabilidade”, disse à Reuters o diretor da mesa de câmbio e investidor estrangeiro da Planner Corretora, Douglas Ferreira.
Entre as declarações de Lula que geraram reação negativa nos ativos locais nos últimos dias estão indicações de mudanças no salário mínimo e no Imposto de Renda, com potencial impacto nas contas públicas, e críticas à atual meta de inflação e à independência do Banco Central (BC), temas caros aos agentes financeiros.
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Sobre a autonomia do BC, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou na véspera que não há “nenhuma predisposição” do governo de fazer qualquer mudança na relação com a autarquia. Roberto Campos Neto, presidente do BC, relativizou as críticas feitas por Lula, mas reforçou sua defesa à autonomia do órgão e se comprometeu a ficar no cargo até o fim do mandato.
“Apesar de todo esse barulho, mantemos a hipótese de que o BC permanecerá com autonomia formal. Além disso, o desconforto com a meta de inflação sugere que Lula é mais propenso a tolerar níveis de inflação mais elevados”, escreveu a equipe do Citi em relatório hoje.
No exterior, o dólar alternava certa estabilidade e leve baixa ante uma cesta de moedas fortes, tendo revertido ganhos de mais cedo — o que contribuiu para uma redução do avanço frente ao real durante o pregão, que chegou a ser de mais de 1%.
A moeda norte-americana caía contra a maioria das divisas emergentes.
Investidores ficaram atentos a novas declarações de membros do Federal Reserve (Fed), uma vez que há expectativa no mercado de uma redução no ritmo da alta de juros na próxima reunião de política monetária da instituição. Há, porém, certa indefinição entre os agentes financeiros sobre qual será o patamar da taxa no final do ciclo de aumentos.
Nas últimas semanas, operadores vêm mencionando uma entrada de recursos no Brasil, diante do diferencial de juros do país em relação aos Estados Unidos e com a perspectiva de redução do ritmo de aperto monetário pelo Fed.
Ferreira, da Planner, porém, também chamou atenção para o relaxamento de medidas restritivas contra a Covid-19 na China nesse início de ano, com efeito positivo no fluxo de recursos ao país asiático, o que pode estar ajudando na alta recente do dólar ante o real.