O Brasil teve uma das maiores inflações entre os países emergentes em 2021, e será uma das maiores baixas entre o final de 2022 e início de 2023. A inflação brasileira atingiu um pico de 12,1% em abril do ano passado e desde então recuou significativamente. No acumulado de 2021, os preços subiram 10,06% e no ano passado a variação desacelerou para 5,79%. A projeção para 2023, segundo a edição mais recente do Relatório Focus, é de 5,39%.
Nesse cenário, faz sentido para o investidor começar a buscar ações de empresas cujos resultados melhoram em momentos de inflação mais baixa. Em geral, são setores mais ligados ao consumo. O raciocínio é simples: quando a inflação cai, sobra mais dinheiro no bolso para gastar.
Segundo os analistas Alexandre de Azara e Rodrigo Martins, do banco de investimentos suíço UBS-BB, a inflação vai cair bastante neste ano. A projeção do banco é de uma variação de 4,5% no IPCA em 2023, abaixo do prognóstico do Focus, que levanta a média das expectativas de mercado.
Os analistas vão além e avaliam que a desaceleração dos preços poderá fazer a inflação acumulada em 12 meses recuar até 3% em meados deste ano. Isso ocorre por três motivos:
1) Dissipação do choque alimentar-energético: os preços de energia caíram 18% até novembro, após atingirem um pico de alta de 41% nos 12 meses até novembro de 2021. Além disso, o clima menos volátil beneficiou a produção de alimentos, especialmente os in natura e diminuiu a inflação nos preços desses produtos;
2) Os preços dos combustíveis se normalizaram com o combo de redução de impostos e queda no preço do petróleo Brent após o susto do primeiro trimestre provocado pela invasão russa à Ucrânia. O dólar razoavelmente estável também ajudou;
3) Os gargalos das cadeias produtivas globais diminuíram e os preços globais de bens e de serviços estão se ajustando.
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Como se posicionar para a queda da inflação?
Os serviços discricionários de saúde e comunicação, por exemplo, “superam empiricamente outros setores durante os períodos de queda da inflação”, segundo os analistas. Eles destacam que as receitas esperadas para tecnologia e saúde são menos correlacionadas com a variação nos índices de inflação. No caso da saúde, por exemplo, a correção de preços depende da chamada “inflação médica”, que tem sido superior à calculada pelos índices gerais.
Para essa análise, eles ponderam a sensibilidade das ações às mudanças dos índices de inflação, o desempenho dos preços dos papéis durante os períodos em que os indicadores (como o IPCA, por exemplo) estão em declínio, além da sensibilidade das receitas a mudanças nas variações dos preços.
Dois papéis brasileiros foram selecionados: Natura (NTCO3) e B3 (B3SA3). A Natura ganha com o aumento do consumo, e a B3 deve ser beneficiada pelo crescimento dos negócios com a renda variável. Quando a inflação diminui os juros tendem a cair, beneficiando as aplicações de risco.
Diante disso, os setores de energia, indústria e bancos foram classificados como os de baixo desempenho. “Energia classifica mal em qualquer região, América Latina, Europa, EUA ou Ásia”, diz o relatório. Finanças e Indústrias também pontuam mal nas três métricas analisadas. As ações que tendem a ter um desempenho ruim são São Martinho (SMTO3) e Petrobras (PETR3;PETR4).
Esse cenário de inflação baixa só não se cumpriria por uma eventual política fiscal frouxa por parte do novo governo. Neste caso, crescem as probabilidades de piora das expectativas dos investidores, o que levaria o mercado a exigir mais prêmio para investir em ativos brasileiros, significando um enfraquecimento do real, inflação e juros mais altos, desaceleração do crescimento econômico e aceleração do IPCA.