As ondas de calor extremas que atingiram a Europa e os EUA no verão estão levando algumas pessoas a clamar que devemos agilizar a transição do petróleo, gás e carvão para alternativas energéticas. A perspectiva de um inverno caro e gelado na Europa, graças à supressão ou forte redução do fornecimento de gás natural da Rússia ao continente impostas por Vladimir Putin, provavelmente aumentará a demanda das chamadas energias renováveis.
São necessárias medidas sim, mas de base prática e científica.
Em primeiro lugar, um pouco de contexto. Por mais difícil que seja acreditar neste momento, as ondas de calor não são mais comuns hoje do que eram no início do século 20. Além disso, graças aos alertas melhores e mais antecipados, às construções com estruturas melhores, aos sistemas de transporte melhores e aos tratamentos médicos melhores, o número de mortes por catástrofes climáticas, como inundações, caiu quase 99% nos últimos 100 anos. Isso mesmo, quase 99%.
Os profetas do apocalipse afirmam que as temperaturas estão subindo ao longo do tempo. É verdade, mas nem de longe na escala que vêm nos alertando há décadas. Como observado pelo especialista em clima Bjorn Lomborg e por outros cientistas, temos muito tempo para nos adaptar a essas mudanças menores.
Para as ondas de calor, que serão mais frequentes nos próximos 100 anos, há medidas práticas que podemos tomar. A título de exemplo, Lomborg observa que a Espanha tem promovido com sucesso o uso de cores mais claras nos materiais de cobertura, o que reduz a concentração de calor. É claro que o melhor antídoto é o ar-condicionado. Ele é bastante difundido aqui, mas mal existe na Grã-Bretanha e em outros lugares.
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Quanto às emissões de dióxido de carbono, é hora de as autoridades entenderem o fato de que os países em desenvolvimento não estão dispostos a abrir mão do crescimento econômico futuro ao proibirem os combustíveis fósseis. A Índia e a China estão trabalhando a todo vapor na construção de dezenas de novas usinas a carvão.
As pregações ocidentais sobre as mudanças climáticas soam hipócritas para esses países. Nos bastidores, tanto a Índia quanto a China deixam claro que querem atingir os padrões de vida ocidentais, e isso leva ao uso de mais petróleo, gás e carvão.
A alta tecnologia, que está em rápido crescimento, também consome quantidades gigantescas de energia, o que significa que a demanda superará em muito as estimativas atuais de necessidades futuras. Atualmente, como observa o especialista em energia Mark Mills, “a nuvem global usa o dobro da eletricidade do Japão inteiro”. Por si sós, os geradores eólicos e os painéis solares dificilmente conseguirão atender às necessidades vindouras.
Também nesse aspecto as soluções são claras. O gás natural é um combustível limpo, como muita gente na ecológica Europa já reconhece. Contudo, o aumento da produção de gás natural nos EUA está sendo impedido por guerras regulatórias contra as licenças, a produção e os gasodutos. Além disso, há muitas reservas de gás natural na Europa e na Grã-Bretanha, mas a produção é atravancada por governos obtusos. A meteórica ex-primeira-ministra britânica Liz Truss acabou com a proibição do fraturamento hidráulico em seu país, mas restaram importantes obstáculos regulatórios a superar.
E há também, naturalmente, a energia nuclear, que não emite gases de efeito estufa.
Eis outro fato importante a levar em conta: à medida que as temperaturas sobem, o tempo frio é menos comum. Muito mais gente morre de frio do que de calor. A redução do número de mortes causadas pelo frio foi mais do que o dobro do aumento do número de mortes causadas pelas altas temperaturas.
Os problemas são reais; as soluções, também.
Steve Forbes é presidente e editor-chefe da Forbes norte-americana. Escreve editoriais para todas as edições da versão impressa da Forbes, com reprodução na edição brasileira da revista, com o mote “Fato e Comentário”. Amplamente respeitado por seus prognósticos econômicos, ele é o único escritor a ganhar o prestigioso prêmio Crystal Owl Award quatro vezes.
Artigo publicado na edição 103 da revista Forbes, em novembro de 2022.