O Banco N26, lançado na Europa em 2013, foi um dos pioneiros na categoria digital no mundo. A instituição financeira desembarcou por aqui em 2021 e quer seguir a estratégia de inovação que garantiu seu sucesso no exterior. Porém, conscientes de que o Brasil não é para principiantes, os executivos buscam um caminho vencedor. O jeito mais fácil de descobrir? Pedir informações aos próprios clientes.
“Sabíamos que não dava simplesmente para trazer os produtos do exterior, já que o nosso sistema bancário é muito diferente. Aqui temos boletos, por exemplo. Então, nós precisávamos criar algo novo”, conta Eduardo Prota, CEO da N26 no Brasil.
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O executivo não acredita na premissa de que feito é melhor que perfeito. Para ele, com tanta competição no setor, é preciso lançar uma plataforma que funcione bem e seja adaptada para que o usuário tenha a melhor experiência possível.
Pensando nisso, a empresa criou o programa N26 Insiders, que completou um ano no fim de janeiro. A ideia é literalmente fazer a vontade dos clientes. Para isso, foram recrutadas 2 mil pessoas com perfis voltados para a inovação. A plataforma ainda estava no começo. Ainda não existiam funções como pix e cartão de crédito.
“A ideia era realmente criar esse grupo no momento que nós tínhamos muito a aprender e fazer com que essas pessoas conseguissem criar o projeto conosco”, conta. “O processo de seleção foi bem minucioso e nós conseguimos separar pessoas que tinham a dor que nós queremos tratar, que é a do cuidado financeiro.”
Em um ano, foram criados 8.678 fóruns, publicados 18.400 comentários e coletados 70 mil votos, que levaram a 29 atualizações no app. A avaliação dos participantes levou à criação de 123 ferramentas e de cerca de 200 mentorias com conselhos financeiros.
De acordo com o CEO, os Insiders já ajudaram a trazer diversas ideias que nem haviam sido cogitadas. Por exemplo, a funcionalidade de antecipação de parcelas do cartão de crédito. Em um dos fóruns, a ferramenta recebeu diversos votos e entrou nos planos da companhia.
Acompanhando as dicas dos participantes e criando sua personalidade própria, o N26 quer virar a primeira fincare do país, instituição que tem como foco auxiliar na organização financeira de seus clientes.
“Nós não esperamos que as pessoas sejam seus próprios médicos e seus advogados, então por que queremos que elas sejam seus organizadores financeiros?” afirma Prota. “Muitos bancos nasceram e pegaram vários pedacinhos do setor como crédito, cartão e conta, mas deixaram de lado a necessidade do cuidado financeiro, que é o que nós estamos olhando por aqui.”
Querendo auxiliar os seus consumidores, que hoje já formam uma base com mais de 10 mil pessoas, a plataforma permite a divisão de gastos em contas específicas. Ou seja, o cliente pode abrir até 26 contas dentro do seu cadastro, sendo cada uma com um foco específico, como reserva de emergência, viagem e o que for interessante para o usuário.
De acordo com o CEO, essa é uma forma de ter clareza com o que você vai gastar o seu dinheiro. Dentro das contas, o dinheiro rende 100% do CDI, mas pode chegar a render 200%, já que a cada R$ 100 gastos no cartão, o consumidor ganha mais 1% do CDI em rendimentos.
“Nós entendemos que é preciso ter equilíbrio na hora de se organizar financeiramente, então não é só saber guardar, mas também saber gastar. Assim, nós incentivamos que os clientes usem todos os benefícios para atingir esse equilíbrio”, explica Prota.
Além da divisão da plataforma, a empresa já está lançando outras funcionalidades como o Café com fincare, uma consultoria financeira de 30 minutos, gratuita e feita por chamada de vídeo com especialistas em cuidados financeiros, que busca aumentar o conhecimento dos clientes.
“Queremos que as pessoas fiquem confiantes para cuidar do próprio dinheiro. Com tanta informação por aí e gente que diz vender uma solução mágica, parece que estamos sempre perdendo alguma oportunidade ou tomando alguma decisão errada com o dinheiro”, comenta o CEO. Por enquanto, os serviços do N26 são limitados ao grupo dos Insiders e aos clientes que se inscreveram na lista de espera, que já passa dos 350 mil pessoas. Segundo Prota, essa base deve crescer aos poucos para atingir todos os brasileiros.