O Bradesco anunciou hoje (9) que fez uma provisão extraordinária de R$ 4,9 bilhões para cobrir sua exposição total à Americanas, o que levou o banco a registrar uma queda severa do lucro no quarto trimestre.
O lucro recorrente de outubro a dezembro de 2022 do segundo maior banco privado do país somou R$ 1,6 bilhão, queda de 75,9% ante mesmo período do ano anterior e bastante aquém da projeção média de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 4,4 bilhões.
O anúncio mostra como os grandes bancos brasileiros têm preferindo uma abordagem conservadora em relação às prováveis perdas que terão com a varejista, que pediu recuperação judicial no mês passado após reportar “inconsistências contábeis” de cerca de R$ 20 bilhões.
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Ontem, o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, havia anunciado uma provisão extra de R$ 1,3 bilhão no balanço do quarto trimestre, também para cobrir 100% da exposição à Americanas. Na semana passada, o Santander Brasil também anunciara uma provisão extra para o caso, porém sem citar números.
No Bradesco, porém, além da exposição bastante superior à Americanas, o episódio distanciou o banco ainda mais do desempenho de rivais como Itaú e Banco do Brasil, uma vez que no terceiro trimestre já havia divulgado um conjunto de resultados inferior.
Na época, o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, dissera que o banco havia sido atingido por uma “tempestade perfeita”.
No quarto trimestre, o Bradesco teve uma surpreendente queda de 1,7% na margem financeira na comparação anual, a R$ 16,7 bilhões, impactada por uma perda de R$ 803 milhões na tesouraria.
Além disso, a qualidade de sua carteira de empréstimos — que cresceu 9,8%, a R$ 891,9 bilhões — voltou a piorar, com o índice de inadimplência acima de 90 dias chegando a 4,3%, ante 3,9% no fim de setembro e 2,8% um ano antes, com destaque para os segmentos pessoa física e de pequenas e médias empresas.
Houve piora nos indicadores antecedentes de calotes, como o chamado NPL Creation.
Com isso, a provisão total do Bradesco para perdas esperadas com inadimplência foi de R$ 14,9 bilhões no trimestre, mais do que o dobro do reservado um ano antes.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido, que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas, desabou de 17,5% para 3,9% ano a ano. O nível de capital do banco caiu 1 ponto em 3 meses, a 14,8%.
Em nota, Lazari Junior defendeu a posição do banco nos segmentos que tiveram piora nos calotes, alegando que “esse posicionamento se provará acertado ao longo do tempo”.
“Estamos trabalhando intensamente em nosso objetivo de alcançar retorno recorrente de pelo menos 18%”
Octavio de Lazari Junior, presidente-executivo do Bradesco
Previsões do Bradesco
O Bradesco também apresentou suas previsões de desempenho para 2023, com a de crescimento de 6,5% a 9,5% da carteira de crédito, e de despesas com provisões para calotes de R$ 36,5 bilhões a R$ 39,5 bilhões. Em 2022, a provisão foi de R$ 32,3 bilhões.
Em relatório a clientes, a equipe do Citi liderada por Rafael Frade comentou que, embora já esperasse resultados fracos para do Bradesco do quarto trimestre, as previsões do banco para este ano “sugerem um ambiente ainda mais difícil pela frente”.
“Em especial, chamou a atenção que a orientação do custo do risco implica em maior deterioração na formação de NPL, que já está em níveis muito elevados”, acrescentou.
Itaú x Americanas
São R$ 2,9 bilhões que o Itaú tem a receber da Americanas, que entrou em RJ (Recuperação Judicial) no dia 19 de janeiro. A medida também impactou o resultado trimestral da instituição, que teve redução de R$ 719 milhões no lucro previsto. Sem a recuperação judicial da varejista, o resultado teria sido R$ 8,3 bilhões, alta de cerca de 4% ante o trimestre anterior.
Leia mais: Bradesco e Itaú contestam sócios da Americanas
No acumulado do ano, o Itaú lucrou R$ 30,8 bilhões, aumento de 14,5% em relação a 2021. Segundo Milton Maluhy Filho, CEO do banco, que não citou nominalmente a Americanas, o que ocorreu foi uma fraude, mas esse é um caso isolado. “Não encontramos casos semelhantes na nossa carteira de crédito”, disse ele. O executivo descartou a hipótese de que o que ocorreu com a Americanas afete a saúde de crédito de outras companhias.
(Com Reuters)