Na manhã de hoje (14), o BEA (Bureau of Economic Analisys), principal instituto de pesquisas do governo norte-mericano, vai divulgar o número que vai pautar o comportamento do mercado nos próximos dias. É o índice de inflação ao consumidor (CPI, Consumer Price Index) de janeiro.
O mercado vai olhar para quatro números: as variações em janeiro e em 12 meses do índice geral, e as variações para o mês e para o ano do “núcleo” da inflação. O “core index” exclui os preços menos voláteis de itens como alimentos e energia e mostra uma tendência mais estrutural da inflação.
A mediana das projeções do índice geral é de 0,5% no mês, uma boa aceleração ante os 0,1% de dezembro, e de 6,2% em 12 meses, ante 6,5% nos 12 meses até dezembro. Já o “core index” previso para janeiro é de 0,4%, o mesmo percentual de dezembro. E a projeção para o acumulado em 12 meses é de 5,5%, queda ante os 5,7% nos 12 meses até dezembro.
Nos últimos dias, os índices em Wall Street subiram com declarações de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reseve), o banco central norte-americano, de que reduzir a inflação será “um processo de longo prazo”. O mercado interpretou isso como um sinal de que os juros não deverão mais subir, o que sustentou os preços das ações.
No entanto, ainda que os resultados da inflação de hoje sejam positivos – ou seja, confirmem ou fiquem abaixo das expectativas – Michael Wilson, estrategista-chefe de investimentos da Morgan Stanley, alerta os clientes que a mais recente recuperação do mercado está parecida com o rali do mercado de meados de 2022. O resultado foram fortes quedas nos principais índices – especialmente desde que os resultados das empresas de tecnologia foram bastante decepcionantes.
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Em nota a clientes ontem (13), Wilson notou que o S&P 500 subiu mais de 15% no segundo trimestre de 2022, verão passado, em meio à esperança de que o Fed logo deixasse sua política de alta agressiva dos juros destinada a conter a inflação, algo que Powell e os demais diretores ainda insistem que não acontecerá.
O S&P finalmente caiu mais de 16% até a mínima de outubro. Wilson alertou ontem que parece que as ações “podem ter cometido o mesmo erro novamente”. Para piorar a situação, as projeções de ganhos agora são “muito piores” do que no ano passado e se tornaram negativas em uma base anual, com os ganhos de tecnologia em particular tendo “decepcionado amplamente” e caindo 13% neste trimestre – a pior taxa de crescimento anual desde 2008, observam os analistas.
Com a esperança cada vez menor em uma mudança de estratégia do Fed, o mercado está “tão desconectado da realidade quanto esteve durante este mercado de baixa”, diz Wilson, postulando que o S&P cairá 5% para terminar o ano em 3.900 pontos, mas pode cair até 14% para 3.500 se as coisas piorarem muito.
O cenário
O mercado de ações entrou em colapso no ano passado, quando os aumentos das taxas de juros do Fed começaram a desacelerar a economia, revertendo efetivamente uma série de ganhos de ações descomunais reforçados pelos esforços de estímulo do governo durante a pandemia. Depois de disparar 22% em 2021, o Nasdaq, pesado em tecnologia, caiu 33% em 2022, o S&P 9%. Com a inflação caindo das máximas em 40 anos este ano, o Nasdaq e o S&P subiram 14% e 8%, respectivamente; no entanto, Wilson e outros especialistas temem que o rali possa ser uma farsa, especialmente se a inflação parar de esfriar – ou pior, aumentar novamente.
“A preocupação econômica persistente e a volatilidade continuam a atormentar os mercados e ameaçam um segundo ano consecutivo de declínio”, diz Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management. “No entanto, embora as recessões possam ser realmente difíceis, a história mostra que elas geralmente duram menos do que os mercados de alta.” Shah aponta que os mercados de baixa desde a Segunda Guerra Mundial duraram 14 meses em média e resultaram em um declínio do mercado de 36%. Em contraste, o mercado altista médio dura quase seis anos e retorna 192%.