Investir em fundos de ações é uma alternativa procurada por muitos investidores brasileiros. Em vez de tentar escolher as empresas listadas na bolsa, eles preferem terceirizar esse serviço, entregando o dinheiro a uma gestora ou um banco, que vão seguir metodologias pré-estabelecidas na hora de apostar em renda variável.
Há fundos de ações que seguem várias estratégias. Elas fazem sentido dependendo do perfil individual do investidor. Pensando nisso, a Forbes entrevistou especialistas para entender os pontos positivos e negativos de dois tipos de fundos de ações, os Long Only e os Long Biased.
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Conceito
O termo Long, que está presente no início do nome, representa a parcela do fundo comprada em ações.
Desta forma, os fundos Long Only, são apenas comprados, o que significa que eles apostam todas as fichas na valorização das ações que investem.
Esses produtos devem ter alocação mínima de 67% de seu patrimônio em ações, cotas de fundos de ações ou BDRs. Como a categoria não opera outras classes de ativos, é comum que os gestores aumentem o caixa do fundo (parcela que poderá ser alocada em ativos de alta liquidez, como títulos públicos) como forma de proteção aos momentos de incerteza do mercado.
“Os fundos Long Only usam estratégias que são indicadas ao investidor que tenha perfil de risco e horizonte de investimento compatível à volatilidade do mercado acionário”, explica Debora Mendeleh, responsável pelo relacionamento com alocadores da Principal Claritas.
Para Luiz Aires, RI e sócio da RPS Capital, existem alguns pontos de atenção na categoria que precisam ser lembrados. O primeiro é entender exatamente como os 33% do fundo, que não precisam ser alocados em renda variável, serão investidos.
“Alguns gestores deixam esse dinheiro em caixa, com remuneração do CDI, enquanto outros fazem operações de derivativos e outros ainda preferem ficar 100% comprados. Então, é preciso ficar atento ao viés do fundo escolhido e como ele será aplicado”, explica Aires.
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Para ele, também é importante entender como esse fundo está correlacionado com o índice Ibovespa, o que pode mudar o seu desempenho de acordo com o cenário. Ele explica que existem alguns portfólios que são descolados do índice e não conseguem aproveitar as altas dele, porém também não sofre tanto com as quedas. Sendo assim, Aires indica prestar muita atenção na composição antes de investir.
Diferentemente dos fundos Long Only, os Long Biased podem ter posições compradas e vendidas, porém contam com um “bias”, que em português significa viés, comprado.
Para se defenderem em momentos de baixa, a categoria tem a capacidade de reduzir sua exposição líquida em ações aumentando a parcela vendida ou aumentando o caixa. Assim, o índice pode reduzir sua correlação com o índice Ibovespa e se tornar menos volátil.
“Com carteiras mais dinâmicas, os fundos possuem flexibilidade para carregar posições vendidas e, muitas vezes, atuar em outras classes de ativos, como câmbio, commodities e até juros”, explica Mendeleh. “Essa liberdade maior de estratégia permite que esses produtos tenham potencial tanto para capturar as altas do mercado acionário, como para se proteger dos momentos de queda, sendo menos dependentes do mercado em alta para rentabilizar as carteiras.”
Ela indica que essa modalidade de produto é indicada a investidores que querem se expor ao mercado acionário, mas de uma forma um pouco mais protegida e descorrelacionada dos índices de Bolsa. Porém, afirma que, de qualquer forma, é necessário ter perfil de risco e horizonte de investimento compatível à volatilidade da classe de ativos.
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Uma grande diferença entre os dois fundos é o ponto de vista regulatório. A forma como o fundo é classificado afeta a sua tributação. Ou seja, se ele é composto por uma porcentagem maior de ações, deve ser taxado com 15% de Imposto de Renda apenas no resgate. Porém, se ele contar com ativos de multimercado, pode estar sujeito ao regime de “come cotas”, que corresponde à antecipação do IR.
Vale a pena ter os dois na carteira?
Para Aires, o momento está propício para voltar a investir em ações e nos fundos, já que o mercado continua em baixa e com pouca procura, motivada pela alta taxa de juros. “O ideal é que o investidor vá fazendo aportes ao longo do tempo e tenha a capacidade de olhar renda variável nesse momento mais adverso como uma oportunidade”, explica. “Esses são os momentos que permitem um ganho significativo no seu portfólio.”
Para ele, escolher entre as duas categorias de fundos é realmente uma tarefa pessoal. Para isso, é preciso entender qual é o seu perfil de investidor e saber se você busca mais volatilidade e menos segurança, ou se gostaria de estar mais protegido por ativos com menos volatilidade.
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Mendeleh concorda. “Pode fazer sentido ter tanto fundos Long Only como Long Biased na carteira de investimentos, visando maior diversificação em termos de estratégias, classes de ativos e potencial de proteção para ponderação de risco. Para uma alocação em bolsa mais defensiva e menos correlacionada, a combinação desses produtos pode ser vantajosa”, complementa.