A movimentação no mercado de câmbio hoje (2) mostrou um novo panorama para o dólar. A moeda americana encerrou a quinta-feira a R$ 5,03, queda de 0,5% em relação à véspera. No menor momento do dia, a taxa de câmbio recuou para R$ 4,97, nível mais baixo em sete meses.
O que explica esse movimento? A conjunção entre dois fatores, o discurso mais duro do (BC) Banco Central e a mudança de tom do Fed (Federal Reserve), o banco central americano.
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No caso brasileiro, o teor do Comunicado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgado na noite de ontem (1) não deixa dúvidas das intenções do BC (Banco Central). O risco de desequilíbrio das contas públicas pode pressionar a inflação, o que aumenta a probabilidade de elevação da taxa Selic. Ou, na mais benigna das hipóteses, em sua permanência no elevado patamar atual por mais tempo. “Esse discurso foi bem visto pelo mercado, com o BC se posicionando para tentar controlar o risco de agenda fiscal, diz João Lucas Tonello, analista de investimentos da casa de análise independente Benndorf Research.
Já nos Estados Unidos, os investidores interpretaram as declarações de Jerome Powell, presidente do Fed, como uma indicação de que o processo de desinflação nos Estados Unidos começou. “Isso foi um ‘game change’, significa que todo o esforço do Fed para elevar as taxas de juros mais depressa começou finalmente a surtir efeito”, diz Tonello.
Há riscos? Sim. Segundo Geizebel Schieferdecker, sócia da Squad Capital Investimentos, apesar da sinalização do BC de manutenção da Selic em patamares altos por mais um bom tempo, o risco interno não diminuiu. “Ainda há muitas incertezas na economia doméstica, e qualquer aumento na percepção desses riscos levará à desvalorização da moeda local”, diz ela.
Zona do Euro e Inglaterra
Esse fenômeno não se restringe ao Brasil. A queda do dólar em relação ao real se acelerou durante a manhã após a divulgação da decisão do BCE (Banco Central Europeu). A autoridade monetária da Zona do Euro confirmou as expectativas e elevou os juros, confirmando as projeções do mercado. A taxa referencial, chamada de taxa de refinanciamento, subiu de 2,5% para 3,0% ao ano.
Não foi a única alteração do dia. Também durante a manhã, o BOE (Bank of England, o banco central inglês) elevou os juros britânicos. Foi a décima elevação consecutiva. As taxas referenciais subiram meio ponto percentual para 4% ao ano, nível mais elevado desde 2008.
Todos esses movimentos afetam as taxas de câmbio e tendem a fazer o dólar se depreciar em relação às demais moedas. O raciocínio é simples: com juros mais altos para os investimentos em euros e em libras, faz sentido para os investidores globais venderem dólares de modo a migrar para aplicações em outras moedas. Como as taxas de câmbio oscilam ao sabor da oferta e da demanda, o aumento da oferta de dólares reduz seu preço.