Após o Bradesco ter surpreendido o mercado com resultados do quarto trimestre piores do que projeções já pessimistas, analistas receberam com ceticismo as estimativas de desempenho do segundo maior banco privado do país para 2023.
A admissão de executivos do Bradesco nesta sexta-feira (10) de que os modelos de risco demoraram a detectar a piora na qualidade da carteira de crédito, o que deve implicar em avanço da inadimplência na primeira metade deste ano, reforçaram a leitura de que a instituição deve levar vários trimestres para recuperar seus níveis históricos de rentabilidade.
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“Embora acreditemos que os investidores já esperavam resultados fracos para o quarto trimestre de 2022 e primeiro semestre de 2023, o guidance do Bradesco sugere um ambiente ainda mais difícil pela frente”, disse o Citi em relatório assinado por Rafael Frade e equipe.
O Bradesco anunciou na noite de quinta-feira (9) que seu lucro recorrente de outubro a dezembro teve uma queda histórica de 76% ante mesma etapa de 2021.
Em relatórios a clientes, analistas pontuaram que a provisão extra de quase R$ 5 bilhões para cobrir toda a exposição à Americanas, que pediu recuperação judicial em janeiro, é só uma parte da explicação.
“A capacidade de lucro (do Bradesco) deteriorou-se muito. Recuperá-lo provavelmente levará tempo”, afirmou a equipe de Eduardo Rosman, do BTG Pactual, prevendo que o lucro do Bradesco neste ano será cerca de 40% menor do que em 2021.
Em teleconferências com analistas e jornalistas, o presidente-executivo do Bradesco, Octávio de Lazari, reconheceu que o banco concedeu mais empréstimos do que deveria desde 2020, quando a taxa básica de juros do país estava em 2% ao ano, e que isso resultou na escalada da inadimplência que enfrenta nos últimos trimestres, com a Selic em 13,75% e a inflação alta.
“Concedemos mais crédito do que deveríamos ter concedido”, disse Lazari. Além disso, admitiu que o banco ficou “atrás da curva”, apertando mais fortemente as concessões de crédito novo só no final de 2022, quando já havia sinais de que uma piora cíclica da inadimplência estava em curso.
Lazari defendeu o foco do Bradesco em crédito para baixa renda e para pequenas e médias empresas, linhas nas quais os calotes mais cresceram, alegando que ao longo do tempo a estratégia se provará acertada.
Segundo ele, a geração recente de crédito de melhor qualidade e a gradual normalização do custo de capital podem fazer o Bradesco retomar o retorno sobre o patrimônio para cerca de 18% no fim de 2024. No ano passado, o índice foi de 13,1%.
Analistas são mais pessimistas. Nas previsões do BTG, o ROE, como o índice é conhecido, deve cair a cerca de 11% em 2023.
“A margem financeira líquida e as altas despesas com provisões provavelmente manterão os ROEs abaixo do custo de capital em 2023 e 2024”, afirmou o Itaú BBA, sugerindo que não espera índices acima dos atuais por pelo menos dois anos.
Esse conjunto de fatores fazia a ação do Bradesco ter um dos piores desempenhos no Ibovespa, caindo 7,6% às 13h34 (horário de Brasília), aos níveis mais baixos em quase três anos. No mesmo horário, o principal índice da bolsa brasileira cedia 0,18%.