Um ano após o início da invasão russa, a economia e a infraestrutura da Ucrânia estão destruídas. O Banco Mundial estima que o PIB (Produto Interno Bruto) ucraniano encolheu 35% em 2022 e deverá encolher novamente neste ano. Além disso, a instituição projetou, em outubro do ano passado, que a parcela da população abaixo da linha da pobreza aumentaria para cerca de 60% ante 18% em 2021. Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma queda um pouco menor no PIB, de cerca de 30%. Segundo o BNU (Banco Nacional da Ucrânia), o banco central do país, a inflação começou a desacelerar, mas encerrou 2022 em 26,6%.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, visitou a Ucrânia no início da semana e se reuniu com o presidente Volodymyr Zelenskyy e o governador do BNU, Andriy Pyshnyy. Em um comunicado emitido na terça-feira (21), Georgieva disse ter visto “uma economia que está funcionando, apesar dos tremendos desafios”.
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“As lojas estão abertas, os serviços estão sendo prestados e as pessoas vão trabalhar. Este é um testemunho notável do espírito do povo ucraniano”, disse Georgieva, observando também que as agências governamentais, instituições econômicas e o sistema bancário estão totalmente operacionais. “Apesar dos ataques a infraestruturas críticas, a economia está a ajustar-se e espera-se uma recuperação económica gradual ao longo deste ano”, acrescentou. “A comunidade internacional continuará a ter um papel vital no apoio à Ucrânia, inclusive para ajudar a atender às grandes necessidades de financiamento em 2023 e além”, disse ela.
Georgieva elogiou a estratégia do governo de passar da recuperação para um “período transformador de reconstrução e adesão à UE” e reiterou o compromisso do FMI em apoiar a Ucrânia. O Fundo concedeu US$ 2,7 bilhões (R$ 13,8 bilhões) em empréstimos de emergência em 2022, e está trabalhando em um programa de empréstimos mais amplo. O governo em Kiev busca um pacote plurianual de US$ 15 bilhões.
Reconstrução da infraestrutura
Em uma reunião do G-20 na quinta-feira (23), a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, pediu ao FMI que “se mova rapidamente” em direção ao programa de empréstimos totalmente financiados, com Washington preparando assistência econômica no valor de US$ 10 bilhões (R$ 51,3 bilhões) nas próximas semanas.
Os Estados Unidos forneceram US$ 76,8 bilhões (R$ 394 bilhões) em ajuda militar, econômica e humanitária à Ucrânia entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, de acordo com o Kiel Institute for the World Economy da Alemanha.
O conflito entrou em seu segundo ano e não dá sinais de diminuir. E as tropas russas têm atacado cada vez mais a infraestrutura. As perdas são estimadas em US$ 138 bilhões (R$ 708 bilhões), enquanto Zelenskyy estimou que a reconstrução do país pode acabar custando mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,1 trilhões).
“Desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, pelo menos 64 grandes e médias empresas, 84,3 mil unidades de máquinas agrícolas, 44 centros sociais, quase 3 mil lojas, 593 farmácias, quase 195 mil carros particulares, 14,4 mil transportes públicos, 330 hospitais, 595 edifícios administrativos da administração estadual e local foram danificados, destruídos ou apreendidos”, destacou o relatório do Instituto Kiel. “Quando esta guerra acabar, a escala do esforço de reconstrução e recuperação provavelmente eclipsará qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, segundo o relatório.
Este sentimento foi repetido na quarta-feira (22) pela vice-primeira-ministra Yulia Svyrydenko, que disse ao Politico durante uma entrevista em Bruxelas que a reconstrução deve começar este ano, apesar de não haver um fim imediato do conflito à vista. “Será a maior reconstrução [desde] a Segunda Guerra Mundial”, disse ela. “Precisamos começar agora.”
Embora começar a reconstrução enquanto a guerra ainda está em andamento e a Rússia continua a visar a infraestrutura civil possa parecer contraintuitivo, Daniela Schwarzer, diretora executiva da Open Society, disse na quinta-feira (23) que esse movimento é essencial.
“Os ucranianos afirmam muito claramente que a reconstrução deve começar em algumas partes do país mesmo antes do fim da guerra”, diz ela. “A destruição da infraestrutura, que realmente acontece todos os dias, precisa ser tratada, caso contrário as pessoas não conseguirão viver e a economia vai levar muito mais tempo para se recuperar.”
Segundo Schwarzer, será fundamental que, além do Banco Mundial, do FMI, dos governos e das agências, haja um esforço coordenado para trazer investimentos privados de volta para a Ucrânia. “Os governos não conseguirão reconstruir o país sem o setor privado.”