A companhia aérea Azul poderá utilizar seu programa de fidelidade de clientes para levantar capital adicional após fechar acordo com empresas de leasing sobre pagamentos de aluguel de aeronaves que formam a maior parte de sua dívida, afirmaram executivos da empresa hoje (06).
“O que temos visto é todas as empresas (do setor) usarem seus programas de fidelidade para levantar capital… E estamos dizendo para o mercado que temos esse ativo”, disse o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, sobre o programa TudoAzul, em entrevista a jornalistas.
“Com o custo de capital mais alto neste momento, é muito melhor usar um ativo para reduzir o custo de capital”, disse o executivo em referência aos juros elevados. “Em alguns meses poderemos levantar novo capital (com o programa de fidelidade)”, acrescentou.
Mais cedo, a Azul anunciou que fechou acordo com a maior parte dos arrendadores de aeronaves da empresa, representando 80% de sua dívida bruta, o que vai liberar capital suficiente para companhia não ter mais uma previsão de falta de caixa da ordem de 3 bilhões de reais este ano e rever a expectativa de 2024 para fluxo de caixa positivo em vez de “equilibrado”.
As ações da companhia dispararam com a notícia, avançando perto de 60% mais cedo e ajudando a puxar para cima os papéis da rival Gol. Às 16h50, as ações da Azul saltavam 40,4%, enquanto o Ibovespa mostrava valorização de cerca de 1%.
Segundo o vice-presidente financeiro da Azul, Alexandre Malfitani, a Azul tinha “um problema de fluxo de caixa no curto prazo… e agora parte disso (dívida de alugueis) vai virar ações da Azul e parte será pago em 2030 a valores de mercado”.
O presidente da companhia aérea acrescentou: “Tratamos do curto prazo. O que estava mais no curto prazo foi jogado para 2030”.
Empresas de leasing
Como a empresa ainda não fechou acordo com todos os arrendadores de aeronaves, os executivos não deram detalhes sobre questões que incluem eventual diluição de acionistas.
A expectativa é que em duas a três semanas a Azul consiga acordos com todas as empresas e possa informar os detalhes, disse Rodgerson. O executivo comentou que não espera que a diluição seja grande dado que as negociações foram feitas com base nas condições mais recentes de operações da Azul, que têm evoluído junto como setor aéreo após o fim das medidas de isolamento social.
Segundo o executivo, a Azul renegociou toda a sua dívida com as empresas de aluguéis de aeronaves, algo que soma cerca de 14 bilhões de reais. O valor inclui somas originadas durante a pandemia, quando medidas de isolamento social praticamente paralisaram o setor aéreo global por vários meses.
Malfitani afirmou que o acordo não muda a estratégia de negócios da Azul e que a companhia seguirá recebendo novos aviões para a frota. Nos últimos cinco meses, a companhia, que tem uma frota de cerca de 170 aviões operacionais, recebeu 12 novas aeronaves da Embraer e da Airbus. Para este ano, a expectativa da empresa é receber entre 6 a 8 jatos E2 da fabricante brasileira.
A Azul divulgou mais cedo que encerrou o quarto trimestre do ano passado com alta de cerca de 40% no prejuízo líquido ajustado, mas o foco dos investidores recaía sobre a renegociação das dívidas.
Analistas do Itaú BBA afirmaram em relatório que os resultados da Azul vieram em linha com o esperado, avaliando que os números, que incluíram alta de cerca de 19% no faturamento, reforçaram tendências positivas de demanda e de preços de passagens aéreas.
“O ponto alto, porém, foi a reestruturação de dívida, que deve aliviar o fluxo de recursos relacionados aos leasings das aeronaves”, disse Daniel Gasparete, do Itaú BBA. “Entretanto, notamos que a companhia não forneceu detalhes numéricos sobre cronograma de amortização e diluição de acionistas para entendermos potenciais desvantagens”, acrescentou.
Por sua vez, o Goldman Sachs, que manteve recomendação “neutra” para as ações da Azul, afirmou que a notícia da reestruturação de dívida “deve ser positiva para a companhia pois acreditamos que o risco de crédito vinha sendo um tema importante para o setor aéreo”.