A poucos meses de completar 93 anos e ocupando a quinta posição entre os bilionários da Forbes, o americano Warren Buffett segue sendo uma referência entre os profissionais do mercado acionário. Desde 1965 no controle do conglomerado Berkshire Hathaway, Buffett ficou conhecido por alguns motivos.
Um deles é o desempenho excepcional de sua empresa. Um investidor que tivesse colocado US$ 100 no índice americano S&P de 500 ações no início de 1965 teria US$ 24,4 mil no fim de 2022. Se tivesse colocado os mesmos US$ 100 em ações da Berkshire, esse investidor teria US$ 3,77 milhões. Ao longo de quase seis décadas, o valor de mercado da Berkshire cresceu, em dólares, 19,8% ao ano. A média do mercado americano avançou 9,9% em média. Só isso seria o suficiente para consagrar Buffett. Porém, há mais motivos de admiração.
O outro motivo é que Buffett realiza, todos os anos, uma reunião para os milhares de acionistas da Berkshire. Esses encontros já chegaram a reunir 40 mil pessoas e têm sido chamados de “Woodstock do capitalismo”. Buffett e seu sócio e amigo Charles Munger, de 99 anos e ainda ativo como vice-presidente da Berkshire, passam várias horas respondendo perguntas dos acionistas.
Os eventos ocorrem normalmente no fim de abril ou no início de maio. Como preparação, Buffett divulga, desde 1974, uma “carta aos acionistas” da Berkshire. O texto é lido com veneração por investidores ao redor do mundo. Na edição deste ano, Buffett tratou, com a objetividade e o bom humor habituais, de impostos, fraudes contábeis e da diferença entre bons e maus investimentos.
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A seguir, sete lições de Buffett para investidores de qualquer idade e patrimônio:
1) Tolerância zero com má conduta
A Berkshire Hathaway é um conglomerado grande. Além de ser uma das maiores acionistas de empresas com Apple, Coca-Cola, Chevron e Bank of American, ela controla 71 ações de setores tão diversos quanto seguros, energia, ferrovias e bens de consumo. “Charlie e eu não somos corretores de ações; somos selecionadores de negócios”, escreveu Buffett. A Berkshire indica os CEOs. “Tanto a confiança quanto as regras são essenciais e a Berkshire enfatiza o primeiro em um grau extremo”, disse Buffett. “As decepções são inevitáveis. Somos compreensivos com erros de negócios, mas nossa tolerância para má conduta é zero.”
2) Contabilidade criativa é uma vergonha
Buffett (e a Berkshire) são conservadores e pragmáticos. Assim, para definir o desempenho de uma empresa, ele observa o lucro operacional. Porém, ele fez um alerta aos investidores. “Mesmo o valor do lucro operacional pode ser facilmente manipulado pelos gestores que assim o desejarem. Essa adulteração costuma ser considerada sofisticada por CEOs, diretores e seus consultores. Repórteres e analistas também aceitam sua existência. Superar as ‘expectativas’ é anunciado como um triunfo gerencial”, escreveu Buffett. E não deixou dúvidas: “essa atividade é nojenta. Não é necessário talento para manipular números: é necessário apenas um profundo desejo de enganar. Contabilidade ousada e criativa, como um CEO certa vez me descreveu, tornou-se uma das vergonhas do capitalismo.”
3) No longo prazo, bastam alguns acertos
Buffett comprou sua primeira ação em 11 de março de 1942, com 11 anos de idade. Desde então, ele vem analisando empresas e negócios. Apesar da experiência e dos resultados, o bilionário mantém a humildade. “A maioria das minhas decisões de alocação de capital ficou no mais ou menos. Cometi vários erros ao longo dos anos. Muitas empresas em que investi morreram, seus produtos deixaram de ser desejados pelo público”, diz ele. “Os resultados realmente bons vieram de uma dúzia de decisões. Ou seja, uma a cada cinco anos”.
4) Foco nos dividendos
Buffett recorda que concluiu seu investimento na Coca Cola em 1994, colocando US$ 1,3 bilhão para comprar 400 milhões de ações. Na época, essa quantia representava 5% do capital da Berkshire. Atualmente, essa participação na Coca Cola ainda representa cerca de 5% da Berkshire e vale US$ 25 bilhões. Em 1995, a Berkshire também investiu US$ 1,3 bilhão na American Express, outros 5% do capital. A participação não mudou, mas hoje a fatia da Amex vale US$ 22 bilhões. “Os dividendos anuais da Coca Cola aumentaram de US$ 75 milhões em 1994 para US$ 704 milhões em 2022, e nesse período os dividendos anuais da Amex cresceram de US$ 41 milhões para US$ 302 milhões”. Ou seja, ao longo do tempo, o investimento em empresas que pagam bons dividendos e o reinvestimento diligente desses recursos garante bons resultados no longo prazo. Buffett, porém, faz um alerta: “ajuda se você viver até os 90 anos.”
5) Seja flexível e saiba mudar sua estratégia
Buffett começou a investir na Berkshire Hathaway em 1964, quando a empresa era uma tecelagem em Massachussetts com 15 fábricas e 12 mil empregados. A empresa gerava cada vez menos caixa e as margens eram cada vez menores devido à concorrência chinesa. As fábricas começaram a ser fechadas – a última encerrou suas atividades em 1985.”A Berkshire estava a caminho do abismo e precisava de um recomeço imediato. Olhando para trás, demorei a reconhecer a gravidade de seus problemas”, disse Buffett. Porém, já em 1967, ele começou a investir os dividendos da Berkshire em seguradoras, e usou o fluxo de caixa dos seguros para investir em outros negócios. No fim de 2022, a Berkshire era a maior acionista individual de oito gigantes: American Express, Bank of America, Chevron, Coca-Cola, HP, Moody’s, Occidental Petroleum e Paramount.
6) Saiba ganhar com as imperfeições do mercado
Com mais de oito décadas investindo, Buffett é o primeiro a reconhecer as imperfeições do mercado. “Mercados eficientes existem apenas nos livros-texto. Na verdade, o comportamento dos preços de ações e de títulos é desconcertante e geralmente só é explicável em retrospecto”, escreveu ele. Porém, isso pode ser uma vantagem. “No caso das empresas de capital aberto, às vezes fica fácil comprar partes de negócios maravilhosos a preços maravilhosos. É crucial entender que, em alguns momentos, as ações geralmente são negociadas a preços absurdos, tanto altos quanto baixos.”
7) Tenha bons sócios e parceiros
A parceria entre Buffett e Munger teve início na década de 1970. Ambos pensam de maneira semelhante sobre empresas, investimentos e pessoas. Nesta edição da carta aos acionistas, Buffett pinçou algumas frases de Munger:
• A paciência pode ser aprendida. Ter um longo período de atenção e a capacidade de se concentrar em uma coisa por muito tempo é uma grande vantagem;
• Você pode aprender muito com pessoas mortas. Leia sobre os falecidos que você admira e também sobre aqueles que detesta;
• Não suba em um barco que está afundando se você puder nadar até um que consegue navegar;
• Uma grande empresa continua trabalhando depois que você partir, mas uma empresa medíocre se encerra com você;
• Você não precisa possuir muitas coisas para ficar rico;
• Você precisa continuar aprendendo se quiser se tornar um grande investidor. Quando o mundo muda, você deve mudar.