Nesta segunda-feira (13) o Ibovespa fechou em uma queda de 0,48% a 103.121,36 pontos, totalizando um volume financeiro de 26,7 bilhões. Os mercados em outros países tiveram um dia de alta volatilidade no primeiro pregão após a decretação da intervenção no banco americano Silicon Valley Bank (SVB), divulgada na sexta-feira (10). O temor dos reguladores americanos era de que a quebra do SVB, 16º maior banco americano, com ativos de US$ 214 bilhões (R$ 1,13 trilhão) se estendesse a outras instituições financeiras.
Para evitar o pior, em uma declaração conjunta no domingo (12), o Fed (Federal Reserve), o banco central americano, a Secretaria do Tesouro e o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) informaram que vão proteger os depositantes, mas que não usarão dinheiro público para salvar os bancos.
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A interpretação do mercado é que o colapso do SVB foi provocado pelos aumentos agressivos dos juros pelo Fed durante 2022. O aperto na política monetária começou há exatamente um ano. Em 17 de março de 2022, a autoridade monetária americana elevou os Fed Funds, taxa equivalente à Selic brasileira, da faixa entre zero e 0,25% ao ano para 0,25% a 0,50% ao ano. No início de fevereiro, os juros subiram para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano.
Os investidores esperavam nova alta para a próxima reunião, marcada para os dias 21 e 22 de março. No entanto, a quebra do SVB deixou claro que a alta dos juros está tornando o ambiente mais adverso para os bancos, e a continuidade do aperto na política monetária poderia fazer mais vítimas no sistema financeiro. Por isso, surgiram interpretações no mercado de que a alta de juros poderá ser encerrada, ou ao menos interrompida, enquanto o sistema financeiro não se adequa aos juros mais elevados.
Segundo Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, o Fed cogitava subir um pouco mais os juros na próxima reunião. A visão predominante no mercado era de uma alta de 50 pontos, mas ele deve voltar atrás, subindo apenas 25 pontos ou mantendo os juros inalterados. “A alta das taxas pode causar um risco sistêmico e afetar outros ativos, causando uma corrida geral nos bancos”, diz ele.
Agora, diz Carvalho, o Fed tem uma decisão importante a tomar. “Não será uma decisão fácil”, afirma. Segundo Carvalho, quando começou a elevar os juros, o banco central americano previu problemas. “O Fed informou que iriam aparecer baleias boiando e ele não iria ajudar, mas as baleias começaram a boiar e a ajuda apareceu.”
Élcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, compara a volatilidade ao que ocorreu quando da quebra do Lehman Brothers, em 2008. No entanto, ele diz acreditar que o cenário atual não é tão grave. “Em 2008 a crise envolvia o mercado imobiliário norte-americano e, consequentemente, toda a população, o que não é o caso agora”, diz ele. “Porém, o cenário ainda é incerto e o ideal é que o investidor fique atento e se proteja ao máximo de toda essa volatilidade.”
No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que conversou no fim de semana com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a falência do Silicon Valley Bank e seu impacto no Brasil, e elogiou a resposta do Federal Reserve ao colapso do credor norte-americano. “É grave o que aconteceu. Nós vamos ver ao longo do dia se a autoridade monetária no Brasil vai ter que tomar alguma providência em virtude dos efeitos sobre as economias periféricas; isso não está claro ainda”, disse Haddad.
Guilherme Silveira Sahadi, CIO iVi Technologies, diz: “No Brasil, empresas de tecnologia e outras startups tinham custódia no Silicon Valley Bank, e ainda que não se sabe quão grande era a exposição de custódia. Alguns dos nomes são Loft, Geru, Smart Fit, entre outras”.
Entre os destaques do dia, a varejista Via (VIIA3) avançou 12,09%, a R$ 2,04, em meio à queda dos juros futuros e em sessão de ajustes, após cair mais de 6% na última sexta-feira (10), enquanto a Magazine Luiza (MGLU3) teve elevação de 9,41%, a R$ 3,72, dando continuidade à recuperação que começou ainda no último pregão, após a ação recuar a 11,5% no pior momento do último pregão.
Na ponta negativa, o setor bancário apareceu em peso influenciado pelo cenário exterior. Os papéis do banco Itaú (ITUB4) recuaram 1,2%, a R$ 23,78, e as ações do Bradesco (BBDC4) cederam 1,11%, a R$ 13,42, em meio a um ambiente ainda desafiador para o crédito no Brasil e com algum contágio do noticiário envolvendo o SVB nos EUA. As ações do Banco do Brasil (BBSA3) tiveram uma variação negativa de 0,63%, a R$ 38,15, enquanto as do banco Santander (SANB11) mostraram declínio de 1,05%, a R$ 26,34.
Na Europa, os mercados de ações registraram sua maior queda diária em quase três meses devido às perdas contínuas das ações do setor bancário, mesmo em meio a uma perspectiva resiliente para o setor da região e com as autoridades intervindo para limitar as consequências do colapso repentino do Silicon Valley Bank. As ações de bancos europeus caíram 5,7% e também registraram sua pior queda em dois dias desde o início da guerra na Ucrânia.
Na Ásia, as ações da China e de Hong Kong tiveram seu melhor dia desde março nesta segunda-feira (13), acompanhando os ganhos em pares globais depois que autoridades dos Estados Unidos agiram para limitar as consequências do colapso do SVB. O rali também ocorreu porque investidores aplaudiram mais evidências de recuperação da China e depois que Pequim surpreendeu ao manter o chefe do banco central e o ministro das Finanças em seus cargos na sessão anual do Parlamento no domingo.
(Com Reuters)
Nota da redação: em comunicado à Forbes, a Loft afirma não ter nenhuma exposição ao Silicon Valley Bank.