Na sexta-feira (10), a rica história de 40 anos do SVB (Silicon Valley Bank) chegou a um fim abrupto e vergonhoso. Os reguladores fecharam o banco e nomearam a autarquia americana FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) como interventora, na segunda maior falência bancária da história americana. No fim do quarto trimestre, o banco tinha US$ 212 bilhões (R$ 1,1 trilhão) em ativos, o que o colocava na 16ª posição entre os bancos americanos por ativos antes do colapso. A quebra só perde para o Washington Mutual (WaMu), que faliu devido à crise do subprime em 2008 com US$ 300 bilhões (R$ 1,57 trilhão) em ativos.
Para o ecossistema de startups dos EUA, a notícia é o fim de uma era após vários dias de uma troca frenética de mensagens no Twitter, e-mails agressivos para os fundadores e bate-papos em grupo de investidores e empreendedores. Isso gera uma incógnita: como ficam as startups e os investidores que o SVB financiou e para os quais atuou como banco, abrangendo todo o ecossistema de capital de risco.
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A Forbes americana falou com dez investidores e especialistas em capital de risco na quinta e sexta-feira. O cenário é de caos desde a quarta-feira (8), quando o SVB revelou seus problemas financeiros e propôs captar US$ 1 bilhões para cobrir os resgates. Greg Becker, CEO do SVB, realizou uma teleconferência na quinta-feira (9) com empresas e investidores pedindo a eles para manter “a cabeça fria”. Foi um tiro pela culatra. Empresas e investidores começaram alertaram suas startups para retirar seus fundos do banco. Outros foram ao Twitter em uma tentativa de impedir a corrida aos bancos que estava ganhando força, algo que não deu certo.
Para alguns, especialmente gestores de fundos menores e mais novos, as notícias do fechamento foram devastadoras. “Todos na minha empresa estão mental e fisicamente exaustos”, disse um gestor. “Essa era a última coisa de que a indústria precisava.”
Muitos empreendedores e empresas de capital de risco (VC ou venture capital) disseram que as tentativas de sacar dinheiro do SVB foram tranquilas até a tarde da quinta-feira (9). Porém, quem tentou fazer resgates na noite da quinta e na sexta-feira, antes da intervenção, não sabiam quando receberiam o dinheiro. O SVB não comentou.
Em um comunicado à imprensa, o Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia disse que os depositantes segurados “terão acesso total aos seus depósitos segurados até a manhã de segunda-feira (13)”. Os depositantes não segurados – e mais de 93% dos US$ 161 bilhões em depósitos do banco não estavam segurados – foram informados de que obteriam comprovantes para seus fundos remanescentes, que serão pagos como dividendos à medida que o FDIC venda os ativos do SVB.
Salários
A maior questão para os investidores e empreendedores agora é como as startups que usavam os serviços bancários do SVB e têm dinheiro depositado nele vão pagar os salários nesta semana. A Rippling, empresa que processa folhas de pagamento, informou aos clientes que mudou do SVB para o JPMorgan Chase. O CEO da Rippling, Parker Conrad, afirmou no Twitter que a mudança de configuração era para clientes cujos pagamentos haviam sido agendados no início da semana. “Se você é uma startup com dinheiro em outras contas, seu foco hoje [sexta-feira, 10] e na segunda-feira (13) é resgatar esse dinheiro”, disse um VC. “Se você não tem dinheiro em outros bancos reze para que isso seja resolvido neste fim de semana.”
“O SVB estragou tudo.”
Para aqueles que não estão familiarizados com a forma como o ecossistema de startups levanta e mantém capital, o alcance do SVB pode ser difícil de avaliar. Muitos fundos de VC, grandes e pequenos, mantinham o caixa no banco. As empresas em que investiam também usavam o SVB para seus próprios serviços bancários, depositando nele os recursos para o dia a dia.
Há mais questões, como o que a quebra significa para startups de criptomoeda, que operam com dinheiro e tokens, até o papel do SVB em patrocinar vários eventos e programas de desenvolvimento para a indústria. Investidores e fundadores também conhecem pessoalmente os funcionários do SVB – muitos deles ex-VCs e fundadores – acrescentando uma camada “pessoal e cultural muito real” ao problema.
Antes do anúncio do desligamento na sexta-feira, os VCs buscavam informações em e-mails, ligações e bate-papos em grupo. “Ninguém teve boas informações”, disse o líder de outra empresa de capital de risco à Forbes. Enquanto isso, os fundadores compararam notas sobre sua capacidade de sacar fundos nos grupos Signal e Telegram.
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Altamente conectada, a comunidade de capital de risco da Califórnia acelerou o problema. Alguns investidores argumentaram que as trocas frenéticas de mensagens e os resgates subsequentes precipitaram o colapso do SVB, que talvez pudesse ser evitado.
“Gostaria de agradecer formalmente a meus colegas da comunidade de risco, cuja liderança estelar nas últimas 48 horas desencadeou uma corrida aos depósitos no Silicon Valley Bank, derrubando uma das instituições mais importantes em nosso ecossistema”, escreveu Brad Svrluga, cofundador da Primary Venture Partners, em sua conta no LinkedIn na sexta-feira. Ele observou que “o SVB cometeu alguns grandes erros”, mas acrescentou que “o fracasso final foi devido à insistência histérica nas mídias sociais de VCs que minaram nosso ecossistema”.
Nem todos concordam. O CEO de outra empresa disse à Forbes que aconselhou os empreendedores de startups a resgatar todo o dinheiro que pudessem e deixassem o SVB arcar sozinho com a responsabilidade. “É função do banco convencer o mercado de que não há razões para pânico”, disse ele. “O SVB estragou tudo. O banco decidiu assumir todas as perdas sem ter uma fonte de recursos de emergência e agora está culpando o mercado, mas não é justo culpar os clientes por resgatarem seus recursos do banco.”
Oportunidades
Claro, para outros no Vale do Silício, a queda do SVB significa oportunidade. O CEO da Brex, Henrique Dubugras, disse à Forbes que passou o fim de semana no telefone para entrar no negócio de empréstimos – pelo menos temporariamente – e tentar ajudar as startups. A fintech com sede em São Francisco anunciou ontem (11) que já havia recebido cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em uma linha de crédito de emergência. Dubugras disse que a Brex ainda estava discutindo os termos com os credores, mas planejava fazê-lo até amanhã (13). “Estamos aqui 24 horas por dia, 7 dias por semana, concordando com os termos e levantando o dinheiro dos credores para que possamos começar a financiar na segunda-feira”, disse ele.
Historicamente um negócio de cartão de crédito corporativo e gerenciamento de gastos, a mudança da Brex para empréstimos é temporária, disse Dubugras. “Nós apenas vemos isso como um momento único no tempo em que estamos posicionados de maneira única para ajudar, porque muitos desses credores, embora tenham capital, não têm capacidade para operacionalizar milhares de empréstimos”, disse ele. (Traduzido por Cláudio Gradilone)