Em 2021, aos 45 anos, com uma carreira de quase três décadas em publicidade e à frente de uma das três maiores agências de propaganda do País, Eduardo Simon poderia dar-se ao luxo de relaxar. Porém, algo o impedia de fazer isso. “Eu estava desconfortável”, diz ele.
“Apenas uma das vinte maiores agências de propaganda brasileiras não havia sido adquirida por grandes grupos de mídia internacionais.” Segundo Simon, o desconforto era compartilhado com os clientes. “Muitas contas que eu tinha há bastante tempo reclamavam de uma perda de autonomia e de agilidade”, diz ele. “Os clientes se queixavam de que só conversavam com executivos e queriam falar com os donos.”
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A solução foi deixar o conforto para trás e empreender. Para tornar a situação mais difícil, apenas com recursos próprios, sem sócios investidores. E para adicionar uma dose adicional de desafio, fazer isso no fim de 2021, ainda durante a pandemia. Porém, Simon estava confiante de que seus clientes o seguiriam. E após prolongadas negociações com seu empregador, ele atraiu três clientes de peso – Itaú, McDonald’s e Natura – e iniciou as atividades da Galeria.
R$ 1,23 bilhão em faturamento
A ideia parecia arriscada (e era). Mas deu certo. No primeiro ano de atividades, em 2022, a Galeria, foi eleita a Agência do Ano no Caboré e no Melhores do PropMark, além de ser considerada a melhor em 15 categorias pelo estudo Agency Scope. E agora, em 2023, a Galeria foi a segunda maior compradora de mídia do País, com um faturamento de R$ 1,23 bilhão, à frente de nomes como WMcCann, África e AlmapBBDO. Em 2022, segundo dados do Cenp, o fórum de autorregulação do mercado publicitário, o setor movimentou R$ 21,2 bilhões, crescimento de 7% em relação a 2021. A fatia da Galeria é de 5,8%, uma participação de mercado relevante em um setor tão pulverizado: o Cenp tem a participação de 326 agências.
Segundo Simon, o diferencial foi oferecer o mesmo que os líderes anteriores do mercado publicitário ofereciam, e que deixou de existir com a venda do controle: a filosofia de dono. “O Brasil tem uma das três indústrias publicitárias mais importantes do mundo”, diz ele. “Somos grandes exportadores de campanhas e de talentos.” E, além da perda da mentalidade empreendedora, o setor precisava se adaptar aos novos tempos de redes sociais e mídias digitais. “Comecei a trabalhar com publicidade no início dos anos 1990”, diz Simon. “A maneira de fazer as coisas mudou muito desde então.” O modelo de negócios da agência é interligar ciência de dados, tecnologia e criatividade.
Logo após sua abertura, a agência lançou o Vitrine, uma plataforma de mídia externa, ou Out-of-Home (OOH). O Vitrine opera com base em inteligência de dados e ferramentas próprias, com compra de mídia direta em todos os mercados, sem intermediários. Atualmente, a agência afirma ser a maior compradora de mídia externa do país. “Essa é a segunda ou a terceira mídia em que os clientes mais investem”, diz Simon.
Vocação empreendedora
As dificuldades de empreender não assustam Simon. Ele começou cedo. Saiu de casa aos 16 anos. “Meu pai trabalhou a vida toda na mesma empresa, se aposentou, mudou-se para o interior de São Paulo e comprou um posto de gasolina”, diz o empresário. “Ele pensava que estava resolvendo a minha vida, mas eu queria ser publicitário desde menino.”
Durante a faculdade, ele teve de empreender para pagar o curso na ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing, uma das faculdade de propaganda mais tradicionais do País. “Montei uma pequena agência e o segundo cliente foi o McDonald’s, nós produzíamos material de divulgação para os franqueados”, conta. A startup foi ganhando relevância na empresa e tornou-se sua agência principal. Em 2013, o controle foi adquirido pelo grupo francês Publicis, maior empresa de mídia do mundo.
Porém, quando Simon fundou a Galeria, o McDonald’s acompanhou a nova empreitada. Não foi algo muito diferente para o empresário. “Sou empreendedor há 33 anos”, diz ele. “Estou acostumado com essa vida de desafios.” Ele reconhece que, em retrospecto, o movimento foi arriscado. “Começamos grandes”, diz ele. “Iniciamos a agência com 180 profissionais e alugamos um espaço de 2 mil metros quadrados na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo.”
O imóvel, que abrigava uma escola, estava desocupado devido à pandemia. Para reformar o lugar, a Galeria contratou os serviços do estúdio de design Mula Preta, fundado em 2012 em Natal, no Rio Grande do Norte. “É um estúdio premiado internacionalmente, mas pouco conhecido no Brasil”, diz Simon. “Criamos um espaço em que as pessoas podem vir se quiserem, como vem ocorrendo desde o início da pandemia.”