A proposta de elevar o teto da dívida pública dos Estados Unidos passou em seu primeiro grande teste na terça-feira (30) no Comitê de Regras da Câmara. O texto é o resultado de um acordo firmado entre o presidente da Câmara, o deputado republicano Kevin McCarthy, e o presidente democrata Joe Biden. A proposta vai limitar os gastos federais por dois anos. Em troca, os republicanos vão apoiar a elevação do teto da dívida após 2025, e as eleições agendadas para o ano que vem.
A proposta foi aprovada por uma margem estreita, de sete votos a seis. Agora, o projeto vai para o plenário da Câmara, que é controlada pela oposição republicana por uma margem estreita, de 222 votos contra 213 democratas. O texto deve ser votado às 20:30 da quarta-feira (31), horário do Leste (Eastern Time), 21:30 no horário de Brasília.
Em seguida, o texto aprovado precisa passar pelo Senado, que é controlado pelos democratas. Isso terá de ocorrer antes de 5 de junho, quando o Departamento do Tesouro projeta que os Estados Unidos provavelmente não terão dinheiro suficiente para cumprir suas obrigações de dívida.
Rebelião republicana
A tramitação não foi tranquila. Na terça-feira, um grupo de cerca de 20 deputados republicanos conservadores anunciou que se oporia ao acordo. Eles acusaram McCarthy de ceder à vontade da Casa Branca em troca de ajustes políticos “cosméticos”. Alguns membros desse grupo protestaram contra o acordo nas mídias sociais e em uma entrevista coletiva fora do Capitólio. “Não é apenas que todo republicano deveria votar contra. É um pouco mais do que isso. Este é um voto que define a carreira de todos os republicanos”, disse o deputado Dan Bishop, da Carolina do Norte.
Ao longo da terça-feira, a oposição ao projeto evoluiu para uma crítica contundente à liderança de McCarthy. “O presidente McCarthy deveria derrubar esse projeto ruim. Devemos derrubar esse projeto agora”, disse o deputado Chip Roy, do Texas, membro do Comitê de Regras. “E não importa como, haverá um ajuste de contas sobre o que acabou de ocorrer.” O deputado Bishop afirmou que “ninguém entre os republicanos poderia ter feito um trabalho pior” do que McCarthy ao negociar o acordo. Implicitamente, Roy e Bishop ameaçaram destituir McCarthy da presidência da Câmara.
Gasoduto controverso
Sob as novas regras, um único deputado republicano pode propor ao plenário um voto de desconfiança em McCarthy. Os democratas também criticaram o texto, que facilita cortes de gastos. Para aprovar o projeto, o governo se comprometeu a apoiar um controverso gasoduto na Virgínia Ocidental, um estado estratégico para os democratas, o que enfureceu ambientalistas. Mesmo assim, as lideranças do partido democrata não orientaram os deputados a votar contra o projeto.
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“Os republicanos não obtiveram nenhuma vitória importante. Não reduziram a dívida, só fizeram avançar algumas prioridades ideológicas dos extremistas do partido”, disse a deputada Pramila Jayapal, de Washington. Ela reconheceu que o financiamento de alguns programas domésticos será reduzido. “Quando chegar a hora de destinar os recursos, será preciso fazer algumas escolhas muito difíceis”, disse ela.
Especialistas apartidários elogiaram o resultado. “Quando há pessoas infelizes dos dois lados é sinal de que o acordo foi bom”, disse o vice-diretor do Conselho Econômico Nacional, Bharat Ramamurti. “O impacto macroeconômico será mínimo”, disse ele.
Pior que a Covid
A expectativa dos analistas agora é que a tramitação seja rápida o suficiente para aprovar o texto antes de 5 de junho, data limite anunciada pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, para evitar o calote da dívida pública. Isso seria devastador para a economia dos EUA.
Além de tirar bilhões de dólares de circulação, por exemplo impedindo os pagamentos dos benefícios do Seguro Social, reduziria a renda da população devido à provável queda do mercado de ações. A Europa, cuja economia está intimamente ligada à dos Estados Unidos, também seria duramente atingida. A maior parte das vítimas estaria em economias emergentes, como o Brasil. O impacto de um calote americano seria equivalente à pandemia e à invasão da Ucrânia pela Rússia.