O tradicional cheque deverá deixar de existir em breve. “Será uma ‘morte morrida’, com o fim natural da utilização, ao contrário do que ocorreu com o DOC”, diz Octávio de Lazari, presidente do Bradesco.
Na quinta-feira (4), a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), que representa o setor, informou que o DOC (Documento de Ordem de Crédito), tradicional forma de transferência de recursos entre clientes de bancos, deixará de existir daqui a dez meses, no dia 29 de fevereiro de 2024.
A justificativa é a queda da utilização. O DOC foi criado em 1984, buscando reduzir o tempo das transferências de recursos entre pessoas e empresas. Até então, além do dinheiro vivo, só era possível fazer remessas por meio de cheques, cuja compensação chegava a demorar uma semana para praças mais afastadas. Com o DOC, o crédito na conta de quem recebe o dinheiro ocorre no dia útil seguinte.
O DOC começou a perder importância em 2002, com a criação do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), que introduziu a TED (Transferência Eletrônica Disponível). A diferença é que a transferência de recursos passou a ser no mesmo dia. Imediata na grande maioria dos casos, e com prazo máximo de quatro horas para ordens colocadas até as 17 horas dos dias úteis.
Isso mudou o mercado. “O DOC é imaterial, quase não é mais usado, pois o dinheiro só entra no dia seguinte e as pessoas procuram ter a disponibilidade imediata dos recursos”, diz Lazari. Ele afirmou não estar preocupado com o impacto nas receitas de serviços. “O DOC é um dos últimos da lista de fontes de receita dos bancos”, diz.
O próximo passo deverá ser a gradativa extinção dos cheques. “Eles vêm sendo cada vez menos usados, em especial após a introdução do Pix”, afirmou o executivo. Além da disponibilidade praticamente instantânea de recursos e de funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana, o Pix ganhou enorme popularidade por ser gratuito.
Resultados
Lazari comentou os resultados do banco no primeiro trimestre. O Bradesco lucrou R$ 4,28 bilhões, queda de 37,3% em relação ao mesmo período de 2022, e alta de 0,4% ante o quarto trimestre do ano passado. A queda do resultado foi provocada pelo aumento da provisão contra devedores duvidosos. O total provisionado foi de R$ 9,5 bilhões, alta de 97% em relação ao mesmo período de 2022, mas 36% abaixo do trimestre anterior. No fim do ano passado, o total de provisões cresceu devido ao problema da Lojas Americanas, que acabaria entrando em recuperação judicial.
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A carteira de crédito encerrou o trimestre em R$ 879,3 bilhões, alta de 5,4% em relação ao mesmo período de 2022 e queda de 1,4% frente ao trimestre anterior. O crescimento ficou abaixo do esperado. “O ritmo de aprovação [de pedidos de empréstimo] diminuiu e os clientes de grande porte estão contratando menos financiamentos devido à alta de juros”, diz Lazari.