A economia dos EUA enfrenta uma série de grandes desafios: bancos regionais mal protegidos, inflação persistente e a possibilidade de os Estados Unidos não cumprirem suas obrigações de dívida soberana. Todos esses são problemas em potencial, é claro. E há razões para o otimismo. A economia dá sinais de desaceleração. Se o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, parar de elevar os juros (e indicar um momento em que eles podem começar a cair), isso vai elevar os preços das ações.
Tudo isso já ocorreu antes. Por isso, vale a pena ouvir dois bilionários que sempre ficaram do lado ensolarado da rua, navegando habilmente em dezenas de mercados de alta e baixa desde os anos 1940.
Na reunião anual da Berkshire Hathaway em Omaha, Nebraska, o presidente e CEO Warren Buffett e o vice-presidente Charlie Munger responderam a perguntas dos acionistas por mais de cinco horas. Eles exibiram uma sabedoria profunda sobre o mundo dos negócios, discutindo o impacto da inteligência artificial, e futuro do “value investing” e até mesmo sugestões para viver uma vida gratificante e sem arrependimentos.
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Buffett e Munger cresceram em Omaha, mas se conheceram já adultos, durante um jantar em 1959. Buffett na época era um gestor de dinheiro recém-formado pela Columbia University, onde estudou – e depois trabalhou – com Benjamin Graham, pioneiro do “value investing”. Advogado, Munger estava trabalhando no sul da Califórnia, um lugar que ele aprendeu a amar em 1943, quando a Força Aérea dos EUA o enviou ao Caltech para estudar meteorologia.
Ambos reconheceram que compartilhavam visões sobre o mundo e sobre os investimentos. No fim dos anos 1970, eles se reuniram na Berkshire, que Buffett havia comprado em 1965. Suas reuniões de acionistas tornaram-se um show para investidores de valor.
A seguir, alguns dos destaques de Buffett durante a reunião da Berkshire.
A economia e os resultados das empresas
No primeiro trimestre tivemos ganhos operacionais de pouco mais de US$ 8 bilhões, excluindo ganhos de capital. Esperamos obter ganhos de capital ao longo do tempo. Se não for por isso, por que comprar ações? Em geral funciona muito bem no longo prazo, mesmo com as oscilações dos preços das ações. Nós possuímos muitos outros negócios, e seus preços não se movem.
A maioria de nossos negócios, assim como a economia em geral, vai lucrar menos neste ano. O período da pandemia foi incrível, o mais extraordinário para os negócios desde a Segunda Guerra Mundial. Esse período acabou. O emprego não está desabando nem nada, mas é um clima diferente do que era há seis meses.
Mesmo assim, nossa receita de investimento deve ser muito maior neste ano do que no ano passado. Temos cerca de US$ 125 bilhões em caixa. Há pouco tempo estávamos obtendo US$ 50 milhões por ano com esses US$ 125 bilhões. É um rendimento de 0,04%, é quase nada. Porém, a reviravolta no mercado mudou as taxas. Compramos US$ 3 bilhões em títulos que rendem 5,92%, então a receita de investimentos vai aumentar bastante.
O “float” dos seguros
Float é dinheiro que fica em nossas mãos. Os bancos têm de pagar juros pelos depósitos que captam. Também é preciso administrar o banco e fazer muitas coisas. No caso do seguro, o float é um passivo que não custa nada. Ele financia os ativos da mesma forma que o patrimônio líquido. A subscrição de seguros não se correlaciona com a atividade empresarial. Depende de coisas como furacões e terremotos e outros eventos. Com base na probabilidade, provavelmente este ano será melhor. Mas não posso prometer que nossos ganhos serão maiores do que no ano passado. Um terremoto ou um furacão pode afetar essa previsão.
O impacto da IA no “value investing”
A Inteligência Artificial (IA) pode fazer coisas incríveis. Quando inventamos algo assim, fico um pouco preocupado porque sei que não conseguiremos desinventar. É o caso da bomba atômica. Nós a inventamos por um bom motivo durante a Segunda Guerra Mundial, mas será que isso será bom para os próximos 200 anos? Einstein disse que a bomba atômica mudou tudo no mundo, exceto a maneira de as pessoas pensarem.
A IA, e outras tecnologias disruptivas, farão os investidores em valor terão mais dificuldades. Agora há tantos deles competindo por poucas oportunidades, então meu conselho para os investidores em valor é se acostumar a ganhar menos.
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Mesmo assim, eu diria que haverá muitas oportunidades. O mundo está mudando, mas as novidades não tiram as oportunidades. O que lhe dá oportunidades são outras pessoas fazendo coisas estúpidas. Nos 58 anos que passamos administrando a Berkshire houve um grande aumento no número de pessoas fazendo coisas estúpidas. A razão é porque obter dinheiro de outras pessoas é muito mais fácil agora do que quando nós começamos. Em 1965, você não conseguia dinheiro para fazer algumas das coisas idiotas que queríamos fazer, felizmente.
Os problemas na sucessão familiar
Eu observei muitas famílias ricas, e os problemas são muito específicos de cada família. Em minha família, não assino um testamento até que meus três filhos o leiam, entendam e façam sugestões. Agora, meus filhos estão com 60 anos, mas esse método não teria dado certo se eu tivesse tentado quando eles tinham 20 anos. Depende da família. Depende de como as crianças se sentem umas sobre as outras. Você está lidando com seres humanos. Todos querem que seus filhos se deem bem por toda a vida. Conheço vários casos em que as pessoas não sabiam o que havia no testamento, havia grandes somas envolvidas e, em cerca de 15 minutos, cada um deles tinha um advogado e não se deram bem desde então.
Algumas pessoas tentam fazer com que os filhos se submetam à sua vontade. Se você quer que seus filhos tenham certos valores, é importante que você mesmo viva esses valores. É importante que você fale sobre isso com eles ou que eles aprendam com você desde o dia em que nascem. O melhor testamento não substitui você ensinar a seus filhos os valores que você espera que eles tenham. Se você quiser descobrir como quer viver sua vida, escreva seu obituário e faça engenharia reversa.
Não apostar contra os Estados Unidos
Os Estados Unidos são um país jovem. É incrível como somos novos no quarteirão. Quero dizer, são 234 anos desde que começamos, isso não é nada. Charlie e eu juntos vivemos dois terços da vida do país. Fomos testados em 46 eleições nacionais, fizemos algumas escolhas ruins e tivemos uma Guerra Civil. O país teve enormes vantagens, porém, de alguma forma, porque começamos com 1,5% de 1% da população mundial em 1790, e hoje temos algo próximo a 25% do PIB mundial.
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Meu pai estava no Congresso na década de 1940 e parecia uma bagunça na época. Foi unificado pela Segunda Guerra até certo ponto, mas ainda era muito partidário. Agora o problema que temos, eu acho, é o partidarismo. Parece ser seu movimento em direção ao tribalismo, e o tribalismo simplesmente não funciona. Quando se trata de tribalismo, nem ouvimos o outro lado, e o tribalismo pode levar a turbas, mas se eu pudesse escolher qualquer lugar do mundo para nascer, eu gostaria de nascer nos Estados Unidos, e eu gostaria de nascer hoje. É um mundo melhor do que jamais tivemos.
Precisamos pensar em soluções diferentes em termos de como resolvemos problemas importantes. Até agora, não parece muito promissor, mas tenho certeza de que, quando Lincoln olhou para o que estava acontecendo na Guerra Civil, também não parecia muito promissor. Os desafios são enormes, mas acho que os EUA são capazes de fazer coisas notáveis e não me surpreenderia se o fizéssemos novamente.
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