A economia brasileira cresceu em abril e iniciou o segundo trimestre com desempenho melhor do que o esperado, mostraram dados do Banco Central nesta sexta-feira (16), recuperando a perda registrada no mês anterior às vésperas de decisão de política monetária.
O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) registrou alta de 0,56% em abril em relação ao mês anterior, mostrou dado dessazonalizado do indicador que é um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB).
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
O resultado mostra ganho de força depois de o índice ter caído 0,14% em março, em dado revisado pelo BC de uma queda de 0,15% informada antes.
A leitura do mês ainda ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,20%, em um resultado que, junto com a desinflação em curso no país, forma um quebra-cabeças para a condução da política monetária pelo BC, em meio a persistentes críticas do governo ao nível elevado da taxa de juros.
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Fator, descreveu a surpresa positiva do indicador de abril como “difícil de explicar”, já que destoa das leituras sobre indústria, serviços e varejo no mês, destacando que pode estar mais uma vez relacionada ao forte desempenho da agricultura.
Em abril, a produção industrial caiu 0,6% em relação a março, em dado que mostrou mais fraqueza do que o esperado, enquanto ao volume de serviços recuou bem mais do que o previsto no mês, a uma taxa de 1,6%.
Já as vendas varejistas, embora tenham subido 0,1%, iniciaram o segundo trimestre com perda de força.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o IBC-Br teve avanço de 3,31%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um ganho de 3,43%, de acordo com números observados.
De acordo com dados do IBGE, o PIB brasileiro expandiu 1,9% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, em um dado que ficou acima da expectativa graças ao impulso do setor agrícola.
Depois desse resultado, economistas vêm revisando suas estimativas para a economia. No entanto, ressaltam que a sustentação dada pelo setor agropecuário deve perder força à frente, com setores mais sensíveis ao aperto monetário sentindo a pressão da taxa de juros elevada, o que deve continuar pesando na economia no restante do ano.
“A despeito da alta (do IBC-Br) ter vindo muito acima do esperado na margem, a leitura da atividade econômica é de uma atividade resiliente, mas que seguirá exibindo uma desaceleração gradual ao longo do ano”, avaliou João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, calculando expansão de 0,2% no PIB do segundo trimestre e de 2,6% em 2023.
O BC volta a se reunir na semana que vem para deliberar sobre a taxa básica de juros, e a expectativa do mercado na pesquisa Focus é de manutenção no atual patamar de 13,75%, com a Selic encerrando ao ano a 12,50%.
Se por um lado a taxa elevada afeta setores sensíveis ao crédito, por outro novas medidas de transferência de renda pelo governo devem dar algum impulso, ajudando a evitar uma desaceleração mais intensa do PIB.
Andres Abadia, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, também destacou a resiliência da economia este ano, citando além do setor agrícola o alívio da inflação e o mercado de trabalho favorável.
“Todas essas forças, junto com condições benignas das exportações do país, estão compensando totalmente o peso das condições financeiras e monetárias mais apertadas. Mas isso não significa que o cenário seja favorável. A atividade econômica continua fraca… e alguns setores já estão sentindo o impacto dos juros altos”, completou.
O Focus aponta que o mercado prevê para este ano uma expansão do PIB de 1,84%, indo a 1,27% em 2024. Na véspera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a economia brasileira deve crescer 2% ou até mais em 2023.
O IBC-Br é construído com base em proxies representativas dos índices de volume da produção da agropecuária, da indústria e do setor de serviços, além do índice de volume dos impostos sobre a produção.