A bolsa paulista fechou com o Ibovespa em queda nesta quarta-feira (28), com o declínio das ações da Vale prevalecendo sobre o avanço dos papéis da Petrobras, assim como também pesou o recuo de bancos em meio a dados mostrando desaceleração no crédito e aumento da inadimplência no país.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,72%, a 116.681,32 pontos, após registrar 117.936,71 pontos na máxima e 116.559,7 pontos na mínima do pregão. O volume financeiro somou 21,6 bilhões de reais.
Com tal desempenho, o Ibovespa agora acumula alta de 7,7% no mês, caminhando para um ganho de 14,5% no segundo trimestre e um acréscimo de 6,3% no semestre, o que pode também estar levando alguns investidores a embolsarem lucros dada a proximidade do fechamento de tais períodos na sexta-feira.
“Após o movimento de alta recente, vemos os investidores com uma visão mais cautelosa com relação aos ativos de risco, considerando que ainda há preocupações sobre a inflação e crescimento econômico em âmbito global”, afirmou o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes.
“Esperamos que os dados econômicos a serem divulgados nos próximos meses tornem a perspectiva mais clara quanto à situação econômica que devemos enfrentar após esse significativo aperto monetário”, acrescentou.
Na visão de Novaes, o mercado global está precificando pouco impacto da política monetária sobre a atividade. Em Wall Street, o S&P 500 fechou quase estável, a 4.376,86 pontos nesta sessão, ainda está perto das máximas do ano apuradas em meados do mês, quando bateu 4.448,47 pontos durante o pregão do dia 16.
“Portanto, caso o cenário de uma forte recessão se concretize, poderemos ter uma grande correção, principalmente na bolsa americana, o que deve orientar os investimentos ao redor do mundo, mesmo com o horizonte mais positivo no Brasil com o corte de juros à frente”, avaliou.
A perspectiva de que o Banco Central começará em breve a reduzir a Selic, reforçada na véspera pela própria autoridade monetária, tem colocado o Brasil no radar de investidores globais, como a BlackRock, principalmente com o prognóstico de um ambiente ainda restritivo nas principais economias.
Números da B3 mostram que, no mês, as compras por estrangeiros no mercado secundário de ações superavam as vendas em 7,6 bilhões de reais até o dia 26.
O presidente do conselho de administração do BTG Pactual, André Esteves, afirmou nesta quarta-feira que está claro ou muito encaminhado que haverá uma queda da taxa Selic em agosto e avaliou que o Banco Central poderia adotar um ritmo mais rápido do que apontam as expectativas no mercado.
“Como a taxa está muito alta, eu não acho que a gente deveria vir com doses homeopáticas… para começar o movimento com a taxa em 13,75% eu prefiro 0,5 (ponto percentual) que 0,25 (ponto)”, disse no evento online BTG Talks realizado pelo banco.
Análise técnica do Itaú BBA considera que o movimento de realização de lucros desencadeado pelo perda do patamar dos 118.000 pontos pode levar o índice a buscar suportes em 116.300 e 114.200 pontos, níveis que ainda o mantém em tendência de alta, conforme relatório a clientes.
Para os analistas, contudo, se o Ibovespa superar 119.500 pontos conseguirá mais um impulso na tentativa de superar os 121.600 pontos. “Se conseguir esse feito, abrirá espaço para buscar o topo histórico em 131.200 pontos.”
DESTAQUES
– VALE ON recuou 3,16%, a 64,72 reais, mesmo com o avanço dos futuros do minério de ferro na China. O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com alta de 2,47%. O ScotiaBank, por sua vez, cortou a recomendação dos ADRs da Vale para “sector perform”, de “sector outperform”, bem como reduziu o preço-alvo para 16 dólares, de 20 dólares antes.
– BRADESCO PN caiu 1,65%, a 16,1 reais, tendo como pano de fundo dados de crédito do Banco Central mostrando que a inadimplência no Brasil atingiu em maio nível mais alto em mais de cinco anos. ITAÚ UNIBANCO PN perdeu 0,57%, BANCO DO BRASIL ON cedeu 1,22%, e SANTANDER BRASIL UNIT recuou 1,37%.
– PETROBRAS PN fechou com elevação de 0,95%, a 30,89 reais, favorecida pela alta dos preços do petróleo no exterior. Além disso, na véspera, numa atitude rara, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista do julgamento de recurso da Petrobras e adiou uma decisão que pode anular a maior condenação trabalhista já imposta à petroleira.
– EMBRAER ON avançou 4,3%, a 18,18 reais, no segundo dia de recuperação, após desabar 15,5% no cinco pregões anteriores. Segundo analistas do BTG Pactual, que se reuniram com a empresa na véspera, a Embraer admitiu que anunciou um número baixo de pedidos na Paris Airshow, mas disse que se tratou de estratégia para priorizar rentabilidade e margens ante crescimento.
– BRF ON cedeu 4,27%, a 8,3 reais, em dia negativo para o setor de proteínas, com JBS ON caindo 4,22%, MARFRIG ON perdendo 3,2% e MINERVA ON encerrando em baixa de 3,25%. O Bank of America elevou o preço-alvo de BRF de 8,50 para 10 reais, mas cortou previsão para o Ebitda de 2023 em 5% e reiterou recomendação “neutra” para as ações. Na esteira, aumentou o preço de Marfrig, de 7,60 para 8,10 reais, mas também reduziu previsões e manteve a recomendação “neutra” para os papéis.
– AZUL PN subiu 1,96%, a 21,35 reais, em sessão positiva para o setor aéreo, tendo ainda no radar anúncio de que um grupo que representa cerca de 86% de detentores de bônus da empresa com vencimento em 2024 e 2026 concordou com uma proposta de troca de dívida feita pela companhia para prorrogar os vencimentos para 2029 e 2030. GOL PN valorizou-se 2,59%.
– YDUQS ON avançou 4,63%, a 17,85 reais, em dia de recuperação, após quatro quedas seguidas, período em que o grupo de educação acumulou declínio de mais de 16%. No setor, COGNA ON fechou em alta de 1,98%, também experimentando uma trégua após uma sequência de perdas em que contabilizou um recuo de quase 12%.