Publicado religiosamente pelo BC (Banco Central) todas as segundas-feiras de manhã, o Relatório Focus é uma compilação das expectativas dos profissionais do mercado financeiro para todas as expectativas da economia. Em especial as mais importantes, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a taxa de câmbio, a inflação e a taxa de juros para o ano corrente e para os três anos seguintes.
A edição mais recente, publicada na segunda-feira (29), informou que os especialistas do mercado esperavam uma inflação de 5,71% neste ano, medida pelo IPCA, e um crescimento do PIB de 1,26%. E, que pela sexta semana consecutiva, a projeção para a taxa Selic de dezembro era de 12,50% ao ano. A projeção anterior, que valeu até a edição de 10 de abril, era de 12,75% ao ano. No entanto, os profissionais do mercado reduziram sua projeção tendo em vista a desaceleração dos índices de inflação.
Abaixo do esperado
Os dados de preços mais recentes mostram que a inflação segue ficando abaixo das expectativas. O IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e conhecido como a “inflação do aluguel”, registrou uma queda de preços de 1,84% em maio. A projeção era de uma deflação de 0,85%. Ou seja, os preços caíram mais do que o esperado, principalmente pela baixa das commodities no mercado internacional.
Da mesma forma, o IPCA-15, prévia do IPCA (que é usado para calibrar a meta de inflação) de maio registrou uma alta de 0,51%, abaixo da mediana das expectativas, que era de 0,64%. Em 12 meses, o IPCA-15 acumulado é de 4,07%, abaixo dos 4,75% que representam o teto da meta de inflação.
O próprio BC (Banco Central), em seus comunicados mais recentes, indicou que a baixa da inflação é pontual, e deve-se a um efeito estatístico: a entrada da isenção de impostos sobre os combustíveis, que ocorreu no segundo semestre de 2022, nos levantamentos mais recentes. E, para o BC, a inflação estrutural segue elevada, o mercado de trabalho permanece aquecido e não há justificativas para reduzir os juros antes do previsto.
No entanto, o principal trabalho dessa entidade conhecida como mercado é tentar antecipar cenários. E não se descarta a hipótese de que uma redução dos juros antes do esperado – eventualmente já surgindo na próxima edição do Focus – ganhe importância na formação de expectativas.
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Em um relatório enviado aos clientes no domingo (4), a que Forbes teve acesso, os economistas Étore Sanchez e Guilherme Sousa, da Ativa Investimentos, analisaram o cenário para o começo do ciclo de baixa da Selic.
Mesmo concluindo que “o ciclo de cortes da Selic vai se iniciar apenas na primeira reunião do 2T24”, os economistas avaliam que “praticamente todos os inícios de cortes de juros foram feitos a despeito de a inflação corrente, dos núcleos correntes e das expectativas para o IPCA do ano, estarem acima da meta estipulada para o período”.
No relatório, Sanchez e Sousa afirmam que “a maioria dos ciclos de afrouxamento foi iniciada com desvios altistas no horizonte relevante”. Ou seja, apesar de o BC considerar que a inflação segue elevada, os juros começaram a cair, considerando-se que a política monetária pode levar até 18 meses para fazer efeito. Ou seja, se os juros por hipótese começassem a cair em junho de 2023, a economia só começaria a reagir em janeiro de 2025.