A inflação de junho medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi negativa em 0,08%, ficando 0,31 ponto percentual (p.p.) abaixo dos 0,23% positivos de maio. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a primeira deflação desde setembro de 2022, e a menor variação para o mês de junho desde 2017, quando o índice havia sido de -0,23%.
O resultado foi marginalmente menos expressivo do que o esperado. A mediana das expectativas era de uma deflação de 0,11%. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 3,16%. Está abaixo não só dos 3,94% observados nos 12 meses até maio, mas também abaixo do centro da meta, que é de 3,25%.
Confira o rendimento dos investimentos com a Selic a 13,75%
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3 anos: R$ 12.767,19
Raphael Vieira, da Arton Advisors, avalia que o resultado de junho veio levemente acima das expectativas e do consenso de mercado. No entanto, diz ele, “o acumulado de 12 meses da inflação no brasil está em 3,16%, número, inclusive, menor do que os números de inflação das principais economias do mundo”.
Segundo o IBGE, quem liderou a deflação foram os preços dos grupos Alimentação e bebidas, com queda de 0,66%, e Transportes, com baixa de 0,41%. No caso de Alimentação e bebidas, os preços de Alimentação no Domicílio caíram 1,07%. O destaque foram as quedas de 8,96% nos preços do óleo de soja e de 3,38% nos preços das frutas.
A queda no grupo Transportes foi provocada pela baixa de 2,76% nos preços dos automóveis novos e pela baixa de 0,93% nos preços dos automóveis usados. No caso dos combustíveis, cujo grupo registrou uma deflação de 1,85%, caíram os preços do óleo diesel (-6,68%), do etanol (-5,11%), do gás veicular (-2,77%) e da gasolina (-1,14%).
Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, avalia que os preços dos serviços subiram 0,62% em junho, acima da expectativa do mercado, que era uma alta de 0,49%. “Apesar de o qualitativo tenha se mostrado pior que o esperado, o índice não deverá gerar sobressaltos no mercado”, diz ele
Impacto nos juros
Isso quer dizer que, a partir de agora, o Banco Central (BC) vai iniciar uma forte queda dos juros?
Vamos com calma. O resultado de junho foi muito influenciado pelas deflações de alimentos, combustíveis e automóveis novos. Porém, nessa lista, apenas o subitem veículos novos faz parte dos núcleos de inflação. Com isso, os núcleos da inflação foram positivos, variando na média em 0,20%. Além disso, o impacto baixista na inflação de junho deverá se dissipar ao longo dos próximos meses, fazendo a inflação acumulada em 12 meses voltar a superar 4% em algum momento do 3T23, e se aproximar de 5% no fim do ano, de acordo com as edições mais recentes do Relatório Focus.
A inflação vem sendo um problema global no cenário pós-pandemia, e no Brasil essa é uma questão mais complicada do que a média. A economia brasileira é bastante indexada: aluguéis, tarifas públicas e boa parte dos salários de trabalhadores formais têm reajustes automáticos pela inflação. Outros itens importantes, como medicamentos e gastos com saúde, também têm seus preços corrigidos por índices de inflação. Por isso, a tarefa do Banco Central (BC) é mais difícil do que a de seus parceiros internacionais.
No caso recente do IPCA, a grande discussão é até quanto a queda da inflação se deve a um movimento geral de desaceleração da economia e quanto é resultado de um movimento pontual derivado da retirada de impostos sobre os combustíveis. A interpretação dessa questão vai definir a trajetória dos juros ao longo do segundo semestre.
Por isso, apesar da inflação negativa de junho, não devemos esperar uma forte redução nas taxas de juros no curto prazo. É quase um consenso que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá reduzir os juros na próxima reunião, agendada para agosto. As projeções estão divididas quase que igualmente entre cortes de 0,25 e de 0,50 ponto percentual. No entanto, ainda é um ponto em aberto qual será a estratégia do Copom depois disso.