A entrada de diesel russo no Brasil com preços baixos é circunstancial e a gestão da Petrobras segue com a estratégia de elevar o emprego de suas refinarias ao máximo para atender o crescente consumo, disse à Reuters o presidente da petroleira, Jean Paul Prates.
A importação de diesel pelo Brasil voltou a crescer em junho na comparação anual, com impulso de chegadas do produto mais barato da Rússia, que atingiu um recorde de participação de 64,1% do total descarregado no mês passado nos portos brasileiros, segundo dados da agência Argus, publicados pela Reuters.
“O diesel russo está entrando aqui, compra quem quiser, se está barato, bom para o Brasil também”, disse Prates, em entrevista à Reuters concedida na segunda-feira.
“Diesel russo é circunstancial, a gente não pode desaquecer nossas máquinas. Eu acho que o valor desse preço abaixo… não se sustenta tanto tempo.”
Em junho, o Brasil aumentou em 12,5% a importação total de diesel, para 1,08 bilhão de litros, segundo dados de analistas e do governo brasileiro, após terem recuado na comparação anual em abril e maio.
Já a participação russa no total importado havia caído em maio para 47,6%, após atingir 56,4% em abril, segundo a Argus.
O produto da Rússia tem sido ofertado com desconto em relação a outras origens, conforme Moscou se mobiliza para garantir uma maior diversificação de compradores diante de sanções dos países do G7 aos derivados produzidos no país por conta da guerra da Ucrânia.
Ainda nesse cenário, Prates destacou que a Petrobras está colhendo resultados positivos do uso máximo de suas refinarias.
A petroleira elevou o fator de utilização total de suas refinarias no segundo trimestre deste ano para 93%, o maior nível desde 2015, registrando em junho recorde mensal em quase dez anos na produção de gasolina e máxima histórica no diesel, segundo informações publicadas anteriormente pela empresa.
“A gente tem que utilizar nossas refinarias ao máximo, isso que a gente tinha se comprometido a fazer. Não faz sentido deixar refinaria à metade da capacidade para dar espaço para concorrente”, disse o CEO.
“Estamos vendendo a um preço que o mercado está vendo bem, não é um preço subsidiado de forma alguma, é um preço de mercado brasileiro e nós conseguimos abrasileirar os preços. Isso é bom para o Brasil e para a Petrobras.”
O aumento da produção da Petrobras vem em momento em que a demanda por combustíveis está em alta no Brasil, sobretudo por gasolina, cuja comercialização por distribuidoras disparou 16,3% entre janeiro e maio, diante de preços mais atrativos ante o etanol hidratado nas bombas.
Já o consumo de óleo diesel, o combustível mais consumido no Brasil, aumentou 1,4% no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, segundo os dados mais recentes da reguladora ANP.
“Nossa estratégia comercial é ser o melhor fornecedor em cada ponto do Brasil. Onde a gente não for, outro entra. A gente quer brigar para ser a melhor opção para o consumidor e comprador e estamos sendo.”
A Petrobras publicou em maio uma nova estratégia comercial, deixando de seguir o preço de paridade de importação de combustíveis, em linha com o prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições. Com isso, Prates tem dito que a empresa passou a praticar valores que são os mais favoráveis para ela e para seus clientes, ao mesmo tempo que evita volatilidades externas aos consumidores, sem se desgarrar da referência do mercado global.
Concorrência
O CEO da Petrobras rebateu ainda acusações de que estaria vendendo petróleo para a Refinaria de Mataripe, na Bahia, privatizada pelo governo passado, acima do valor que vende para as próprias unidades.
Mataripe foi comprada pela Acelen, do fundo Mubadala Capital.
“Cada um administra seu negócio, não posso falar pela Acelen. O petróleo não é vendido mais caro, é vendido pelo que o petróleo vale”, disse Prates, ao declarar que a concorrente não pôde comprovar que o preço da Petrobras estaria excessivo.
O CEO afirmou ainda que Mataripe pode estar enfrentando desafios por ser uma refinaria isolada.
“Por isso todas empresas de petróleo que nascem sonham em ser integradas… O governo passado disse que isso não era verdade, vendeu uma refinaria isolada e agora ele tem que se virar sendo uma refinaria isolada. Tem que comprar petróleo que ele não tem”, afirmou.
Procurada, a Acelen afirmou que já enviou ao órgão antitruste Cade as evidências para a instrução da investigação e que confia em um desfecho rápido e tecnicamente adequado para o caso.
“O Brasil precisa assegurar um mercado de refino em condições justas e competitivas, o que passa necessariamente pelo acesso isonômico ao petróleo”, disse a Acelen em nota.