O petróleo é uma das poucas commodities insubstituíveis. Sua demanda é inelástica. Ou seja, responde pouco ao preço. Se, por exemplo, o trigo ficar muito caro, provavelmente haverá um aumento na demanda de outros alimentos, como arroz ou milho. Com o petróleo isso não ocorre. Não importa o preço, todos vão demandar petróleo. Seja em bruto, seja refinado, seja na forma de plásticos, produtos petroquímicos, e outros milhares de usos.
Por isso a preocupação dos investidores nos últimos dias. O petróleo Brent, referência para o mercado europeu e para a Petrobras (PETR3/PETR4) subiu para o máximo dos últimos dez meses e chegou a quase US$ 94 por barril, ante US$ 72 em junho.
Confira quais são os cinco índices globais com melhor desempenho em 2023
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REUTERS/Jeenah Moon 1. Nasdaq Composite
Valorização em 2023: 29,8%
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Getty Images 2. Nikkei 225
Valorização em 2023: 21,1%
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Getty Images 3. Global BDRX
Valorização em 2023: 15,7%
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REUTERS/Andrew Kelly 4. S&P 500
Valorização em 2023: 14,7%
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Reuters/Timm Reichert 5. DAX
Valorização em 2023: 12,2%
1. Nasdaq Composite
Valorização em 2023: 29,8%
Nesse mesmo período, o preço do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI), referência para o mercado americano, subiu de US$ 67 para US$ 90 por barril. Só na semana passada, as cotações dos dois tipos subiram cerca de 4%. Antes de setembro acabar, é bastante provável que o barril de petróleo supere US$ 100 pela primeira vez em 2023, dizem os analistas.
Oferta e demanda
O motivo para a alta é a tradicional queda de braços entre oferta e demanda. No lado da oferta, a Arábia Saudita fechou as torneiras. O reino controla a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que tinha decretado uma redução conjunta na produção de 1,3 milhão de barris por dia (bpd).
Pressionados pelos sauditas, os demais países-membros ampliaram esse corte até o fim deste ano, o que deve reduzir os estoques globais. A Rússia, que ora se alia à Opep, hora joga na oposição, desta vez alinhou-se com a organização e também anunciou cortes na produção.
Já no lado da demanda, a economia chinesa voltou a dar sinais de recuperação, o que aumenta o consumo. A China é o segundo maior consumidor global de petróleo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Também é o maior importador. Sua produção é incapaz de atender o mercado interno. Assim, um aumento na demanda chinesa tem o potencial de drenar os estoques ainda mais depressa.
A decisão da Opep não ocorreu agora por um acaso: ao restringir a oferta potencial em um momento de aceleração da demanda e baixa de estoques, a organização não precisa fazer força para ganhar mais dinheiro: o ajuste das cotações é imediato.
Tragédia na Líbia
Para piorar, o aquecimento global jogou a favor da Opep. O que começou como uma tempestade tropical há uma semana transformou-se no furacão Daniel, que causou chuvas torrenciais na Líbia. Elas causaram o rompimento de duas barragens e a destruição da cidade de Derna, a terceira maior do país, matando pelo menos 11 mil pessoas e ferindo outras tantas.
A Líbia é relevante no mercado de petróleo. Ela produz cerca de 1 milhão de barris por dia e sua proximidade com a Europa faz com que ela seja um fornecedor importante para a região. A destruição comprometeu a produção, ainda que involuntariamente, e deverá pressionar ainda mais os preços.
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A Agência Internacional de Energia (AIE) alertou que os cortes na produção por sauditas e russos criariam um “déficit significativo de oferta”. Dados da própria Opep indicam que o déficit na produção no quarto trimestre deste ano poderia chegar a 3 milhões de barris por dia, o maior déficit em dez anos.
Inflação nos EUA
Tudo isso vai pressionar, e muito, as taxas de inflação. Nos Estados Unidos, os preços da gasolina automotiva subiram cerca de 10% no trimestre, para uma média de US$ 3,86 por galão (3,8 litros).
Isso criou uma situação incomum. O verão no Hemisfério Norte está prestes a acabar, e é durante o verão (com suas férias em motorhomes) que os americanos consomem mais combustível. Ou seja, os preços tendem a recuar a partir da metade de setembro. Não é o que está ocorrendo. A média de preços está US$ 0,16 mais elevada do que há um ano.
Um aumento na procura de voos nos EUA, na Europa e, mais recentemente, na China, pressionou também os preços dos combustíveis de aviação, segundo a AIE. Os preços subiram cerca de 50% de US$ 2,05 por galão no fim de maio para US$ 3,07 por galão no fim de agosto.
Isso pressiona os custos familiares. E apesar da desaceleração do emprego nos últimos meses, ainda há muita demanda por mão de obra. Ou seja, não se descarta a hipótese de muitos americanos trocarem de emprego para compensar a alta de preços, mantendo a inflação elevada.
Juros globais
Claro que essas notícias não passaram desapercebidas pelos banqueiros centrais. Nos Estados Unidos, a alta dos combustíveis tornará mais difícil para Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, conduzir a inflação à meta de 2% ao ano.
Mesmo considerando-se os “núcleos” dos índices, que não incluem os preços dos alimentos, combustíveis e energia, o aumento do custo da economia pressiona o índice como um todo. Assim, apesar de não se esperar uma nova alta dos juros americanos na reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), agendada para esta semana, com resultado a ser divulgado na quarta-feira (20), os diretores do Fed vêm indicando que a porta permanece aberta para um possível aumento final na reunião de novembro.
Isso vale para a Zona do Euro. Na quinta-feira (14), o Banco Central Europeu (BCE) elevou as taxas para 4% ao ano, maior nível desde a criação do Euro, em 1999, e indicou que deveria parar por aí. No entanto, já na sexta-feira (15), alguns diretores do BCE alertaram que um novo aumento dos juros não estava totalmente fora de questão.
As consequências são previsíveis. No curto prazo, inflação e juros potencialmente mais elevados, com as repercussões habituais no mercado. Em um prazo mais longo, a constatação que vai demorar para voltarmos a um ambiente de capital estruturalmente barato e juros estruturalmente baixos, ou mesmo negativos.