O dólar à vista emplacou nesta quarta-feira (27) a terceira sessão consecutiva de ganhos, encerrando acima dos R$ 5 pela primeira vez desde junho, com as cotações refletindo a percepção de que os juros nos EUA ficarão altos por mais tempo e em meio a dúvidas sobre o equilíbrio fiscal no Brasil.
O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,0479 na venda, em alta de 1,17%. Esta é a primeira vez que a divisa encerra acima dos R$ 5 desde 1º de junho deste ano, quando valia R$ 5,0069 na venda.
Na B3, às 17:12 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,15%, a R$ 5,0490.
O dólar à vista oscilou em alta durante praticamente todo o dia. No início da sessão, às 9h01, marcou a cotação mínima de R$ 4,9876 (-0,04%), para depois escalar patamares cada vez mais elevados.
Por trás do movimento estava novamente o exterior, onde o dólar subia ante a maioria das demais divisas, em meio à perspectiva de que o Federal Reserve poderá manter juros altos por mais tempo.
Desde o dia 20, quando o Fed anunciou a manutenção de sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, mas projetou novo aumento de juros até o fim de 2023 e uma política monetária mais apertada durante 2024, os mercados globais vêm se ajustando.
“Hoje (quarta-feira) tivemos uma declaração de dirigente do Fed reforçando isso, de que possivelmente os juros possam subir ainda mais, que talvez não seja apenas uma pausa”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
Pela manhã, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse ainda não estar claro se o banco central já terminou de aumentar os juros. Em entrevista à CNBC, Kashkari afirmou que não está pronto para dizer que a taxa de juros foi elevada o suficiente para que a inflação norte-americana volte à meta de 2%.
“Além das declarações, um movimento técnico ajudou bastante na alta do dólar, quando a moeda bateu nos 5 reais”, acrescentou Rugik.
Operador ouvido pela Reuters confirmou que quando o dólar para outubro oscilou em torno de R$ 5 foram disparadas ordens de stop loss (parada de perdas), com alguns investidores reduzindo posições vendidas (no sentido de baixa para o dólar) no mercado futuro.
Como o mercado futuro é o mais líquido no Brasil, o movimento ampliou os ganhos do dólar também no segmento à vista. Às 14h27, a moeda à vista marcou a máxima de R$ 5,0800 (+1,81%).
Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo, a alta do dólar no Brasil reflete duas conjunturas desfavoráveis: em primeiro lugar, a percepção de que os juros dos EUA ficarão elevados; em segundo, os ruídos fiscais mais recentes.
“Existe um temor do mercado de que o governo não consiga entregar o déficit primário zero ano que vem, que ele prometeu. Creio que esse valor mais puxado (para o dólar) pode perdurar por algum tempo”, pontuou, em comentário a clientes.
No exterior, no fim da tarde o dólar seguia em alta ante a maior parte das divisas.
Às 17:12 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 0,45%, a 106,690.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de novembro.