Sarah Ketterer, CEO da Causeway Capital Management, acredita que a maior parte do pessimismo em relação às ações internacionais ficou para trás e agora está de olho em um leque de empresas com lacunas de valorização evidentes em comparação com seus pares nos Estados Unidos. A empresa, que tem sede em Los Angeles e administra US$ 43 bilhões (R$ 210 bilhões), já supera o mercado americano com sua carteira de ações, selecionada por meio de uma combinação de filtros quantitativos e análise fundamental.
A principal estratégia de ações da Causeway gerou um retorno líquido anualizado de 17,6% nos últimos três anos, superando o índice MSCI EAFE, que acompanha ações internacionais em mercados desenvolvidos, em oito pontos percentuais. Até julho deste ano, obteve um ganho de 24,5%, superando o ganho de 15,8% do índice e até mesmo o ganho de 19,5% do S&P 500.
“O benefício de investir internacionalmente está em encontrar empresas menos exploradas, menos compreendidas, listadas em mercados que muitas pessoas estão negligenciando”, diz Ketterer. “O que o ambiente fora dos EUA oferece aos investidores dispostos a procurar cuidadosamente por sinais de melhoria é o delta, a mudança entre onde uma empresa está hoje e onde poderia estar em dois ou três anos, à medida que a gestão foca ainda mais no resultado final.”
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Um dos maiores ganhadores da Causeway no último ano tem sido o banco italiano UniCredit, cujas ações subiram 64% em 2023 e 160% desde setembro do ano passado. O gestor de carteira, Conor Muldoon, tornou-se otimista em relação aos bancos europeus depois que eles caíram em 2020. O Banco Central Europeu (BCE) pediu às instituições financeiras no continente, em março de 2020, que não distribuíssem dividendos ou recomprassem ações pelo resto do ano, e mais tarde impôs um limite de dividendos para a maior parte de 2021, para garantir que os bancos pudessem resistir a perdas e continuar concedendo empréstimos durante a pandemia.
As regulamentações causaram uma forte venda de ações, mas seus montantes de caixa continuaram a crescer, impulsionados por trilhões de euros em gastos da União Europeia para manter as empresas à tona e as pessoas empregadas. O UniCredit começou a usar esse dinheiro, reintroduzindo um dividendo visando 35% dos lucros líquidos e recomprando US$ 2,6 bilhões (R$ 12,7 bilhões) de ações até agora neste ano.
“Aqui, o mercado internacional simplesmente te dá um presente. Os bancos americanos ainda estão sendo negociados com um prêmio significativo em relação ao valor contábil. Enquanto isso, muitos desses grandes bancos europeus estão sendo negociados a 30% a 40% de seu valor contábil tangível”, diz Ketterer. “Havia apenas um enorme e inegável abismo na valoração desses bancos que se tornou irresistível.”
Estratégia de investimentos
Ketterer tem investido em ações globais desde que iniciou o braço internacional na empresa Hotchkis & Wiley, co-fundada por seu pai, John Hotchkis. Ela saiu da companhia para fundar, em 2001, a Causeway com seu sócio de negócios, Harry Hartford.
Os analistas quantitativos da Causeway avaliam mais de 3 mil ações com capitalização de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões), observando métricas como os rendimentos dos lucros em comparação com os rendimentos de títulos dentro de um país e múltiplos de baixo preço em relação ao fluxo de caixa ou ao valor da empresa em relação ao Ebitda para encontrar as melhores oportunidades.
Seus analistas pesquisam cada ação que passa pelos filtros para elaborar uma meta de preço ao longo de dois anos, pelo menos uma vez por trimestre. Em seguida, a Causeway aplica um modelo de risco e classifica os ativos de acordo com seus retornos implícitos ajustados. A planilha de classificação fornece um guia sobre quais ações devem ter maior peso na carteira e quais devem ser adicionadas ou subtraídas à medida que sobem ou descem na lista.
Sua carteira de ações de valor internacional, com ativos de US$ 22 bilhões (R$ 108 bilhões), teve um retorno anual de 7,4% desde 2001, superando o ganho de seu índice de referência, que foi de 5,6%. A estratégia global de valor da empresa, com ativos de US$ 3,1 bilhões (R$ 10,3 bilhões), que investe em algumas ações americanas, tem sido ainda melhor, retornando 9,5% anualmente desde sua criação em setembro do mesmo ano.
A Causeway estabeleceu as bases para grande parte de seu desempenho recente durante a primavera de 2020, comprando ações de empresas de viagens e lazer prejudicadas nos primeiros meses da pandemia. Uma delas foi a Ryanair, uma companhia aérea de baixo custo sediada em Dublin que oferece voos por toda a Europa e que perdeu metade de seu valor no espaço de um mês conforme as viagens foram interrompidas. Os analistas nunca duvidaram da solidez de seu balanço patrimonial e, após a ação mais do que duplicar no ano seguinte, eles reduziram sua posição.
“O mundo parecia estar chegando ao fim, e nossa tarefa naquele momento era decidir se isso era realmente o caso. Se o mundo estiver acabando, não importa o que está em nossas carteiras”, diz Ketterer, “mas nos parecia muito improvável que não houvesse uma vacina.”
Carteira de ações internacionais da Causeway
A maior parte da carteira atualmente é composta pela Rolls-Royce Holdings, sediada em Londres, fabricante de motores para aviões civis e militares. A Causeway iniciou uma pequena posição na empresa em 2018, quando problemas com seus motores Trent 1000 estavam causando quedas nas ações, mas a aposta não deu certo.
As ações caíram 18% em 2019, e a situação piorou em 2020, com uma queda de 53%. A Rolls-Royce é remunerada pelo tempo em que seus motores estão em uso, e menos aviões no ar durante a pandemia significaram menos receita. A empresa teve que anunciar planos para captar US$ 6,5 bilhões (R$ 31,9 bilhões) em setembro de 2020 para sobreviver à crise de liquidez.
A Causeway respondeu comprando mais ações, chegando a possuir até 12% da empresa. Jonathan Eng, um gestor de carteira fundamental responsável por supervisionar ações industriais, disse que a companhia trabalhou nos bastidores para instalar uma nova presidente em junho de 2021 e um novo CEO em 2022.
A Rolls-Royce melhorou sua precificação e confiabilidade, além de reduzir o custo de reparos sob nova gestão, o que ajudou seu faturamento no primeiro semestre deste ano a crescer 31%, chegando a US$ 8,8 bilhões (R$ 43,2 bilhões), e o lucro operacional subjacente a crescer cinco vezes, atingindo US$ 856 milhões (R$ 4,2 bilhões). As ações subiram 134% até o momento neste ano.
“Fomos um pouco proativos com a Rolls-Royce para orientar a empresa a fazer as escolhas e mudanças certas, e eles fizeram”, diz Eng. “Agora eles estão por conta própria e estão indo muito bem.”