As ações da plataforma de terceirização de serviços GetNinjas (NINJ3) tiveram uma das maiores valorizações da B3 nesta sexta-feira (13). As ações fecharam a R$ 4,75, alta de 13,1%. Na máxima do dia, as cotações chegaram a R$ 5,20, alta de 23% em relação ao fechamento da quarta-feira (11). A B3 chegou a realizar dois leilões das ações, atitude necessária em momentos de alta ou de baixa exagerados nos preços de alguma ação.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
O que motivou a alta foi um comunicado, divulgado após o fechamento do mercado na quarta-feira (11) da gestora de recursos Reag. Uma das maiores gestoras brasileiras independentes, a Reag comprou ações da GetNinjas em setembro e outubro. Na quarta-feira, ela anunciou que sua participação superou 25%. Pelos estatutos da GetNinjas, isso obriga a Reag a lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), oferecendo aos demais acionistas a oportunidade de vender suas ações.
Essa obrigatoriedade, conhecida no mercado como “poison pill” ou “pílula de veneno” é uma estratégia de defesa das empresas abertas para evitar tomadas hostis de controle. Ao obrigar o investidor que atingiu uma participação elevada a comprar as posições dos demais acionistas, a empresa encarece a tomada de controle e desestimula esse processo.
Ações em baixa
As ações da GetNinjas já estavam bastante baratas antes do comunicado. A empresa abriu seu capital durante a pandemia, em maio de 2021, com os papéis cotados a R$ 18,75. Em abril deste ano as cotações atingiram o mínimo de R$ 2,16 e se recuperaram parcialmente a partir de 21 de setembro, quando a GetNinjas anunciou uma proposta de redução de capital.
Segundo a proposta, a companhia vai reduzir seu capital social em R$ 223,5 milhões, realizando uma distribuição de dinheiro para os acionistas. Como o capital social é de 50,79 milhões de ações, isso representa um pagamento de cerca de R$ 4,40 por ação, praticamente o valor das ações na data do comunicado.
Em comunicado, a Reag afirmou que “reafirmando sua confiança em sua tese com a GetNinjas deu sequência em seu aumento de participação na Companhia, havendo superado o patamar de 25% do capital. Com isso, a Reag voluntariamente ultrapassou o limite do poison pill e assumiu a obrigação de realizar uma Oferta Pública de Aquisição a todos os demais acionistas da Companhia”. O assunto deverá ser discutido na Assembleia de acionistas, convocada para o dia 23 de outubro.
A visão da empresa
Segundo Eduardo L’Hotellier, CEO da GetNinjas, a decisão de devolver o dinheiro – tecnicamente uma amortização do capital, não um provento – deve-se a dois fatos. O primeiro é que a empresa captou recursos na abertura de capital visando aquisições, e isso não ocorreu. “Batemos em várias portas buscando fechar negócios, mas isso não ocorreu porque os ativos estavam caros demais para que a conta fechasse”, disse ele em entrevista exclusiva à Forbes Brasil.
O segundo motivo foi a redução da eficiência do marketing digital para a captação de clientes. “Os investimentos de marketing subiram de R$ 2 milhões por mês para R$ 8 milhões, o que aumentou os custos e reduziu a eficiência”, diz L’Hotellier. A companhia também foi prejudicada pela alta dos juros. Em 2021, quando ocorreu a abertura de capital, a taxa Selic estava em 2% ao ano, e avançou para 13,75% ao ano.
Ao longo desta sexta-feira, L’Hotellier elevou sua participação pessoal no capital de 19% para os 24,9% permitidos sem disparar a “poison pill”. O comunicado à CVM foi divulgado às 18:25. O executivo afirmou acreditar que a proposta de devolução de capital será aprovada na assembleia. “Vão restar cerca de R$ 60 milhões no caixa, o que é mais do que suficiente para a companhia manter suas operações”, diz ele.
Guerra de versões
Os últimos dias viram uma guerra de versões entre a GetNinjas e a Reag. A companhia questionou as motivações da gestora. Forbes conversou com profissionais do mercado que, por razões legais, não podem discutir o assunto publicamente. A GetNinjas divulgou um comunicado questionando se a Reag estava comprando ações isoladamente, ou se estaria atuando em conjunto com duas outras gestoras para assumir o controle da companhia.
Segundo profissionais de mercado, as gestoras já teriam 42% das ações da GetNinjas, o que facilitaria bloquear a distribuição de capital. Segundo a Reag, seria mais benéfico para os acionistas utilizar os recursos para reorientar os negócios da GetNinjas, ingressando em atividades como gestão de condomínios e seguros. “A empresa abriu capital e ficou dois anos sem fechar nenhum negócio, o que leva a crer que a gestão não tomou as melhores decisões no interesse dos acionistas”, diz um gestor cujos fundos já investiram nas ações da companhia.
Os analistas também questionam a decisão de distribuir o capital. Segundo o analista independente Ricardo Schweitzer, a companhia tem um patrimônio líquido de R$ 280 milhões e um valor de mercado de R$ 222 milhões, e não tem dívidas. “Nestes dois anos, a empresa não fez aquisições, não fez investimentos em marketing como tinha prometido aos investidores e – sem lucros – nem sequer pagou dividendos”, diz ele.
Schweitzer diz considerar a redistribuição de capital um equívoco. “Quando deveria estar trabalhando para garantir um crescimento futuro, a direção da companhia praticamente desistiu e decidiu devolver quase todo o seu capital aos investidores”, afirmou. “Ela deveria buscar novas frentes de negócio para garantir a sua continuidade de mercado, mas a redução do capital está matando qualquer possibilidade de crescimento do negócio.”