A volatilidade tomou conta do mercado financeiro internacional ao longo das últimas semanas. O que movimentou os preços das ações, as taxas de câmbio e de juros nos Estados Unidos e na Europa foram expectativas sobre a queda da inflação. Na terceira semana de novembro os investidores se animaram com indicadores de desaceleração na alta dos preços dos dois lados do Atlântico. Nos Estados Unidos, tanto a inflação no varejo quanto a inflação no atacado recuaram.
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Na quarta-feira (15), o Bureau of Labor Statistics (BLS) americano informou que o Producer Price Index (PPI) de outubro registrou uma deflação (queda de preços) de 0,5%, ante uma inflação de 0,4% em setembro. A expectativa do mercado para o PPI de outubro era de uma alta de 0,1% nos preços.
Em 12 meses, o PPI registou uma inflação de 1,3% ante expectativas de 1,9%, e quase um ponto percentual abaixo dos 2,2% nos 12 meses até setembro. O “núcleo” do PPI, que exclui itens com preços mais voláteis, como alimentos e energia, subiu 2,4% nos 12 meses até outubro, abaixo da previsão de 2,7% e da variação nos 12 meses até setembro, também de 2,7%. Na terça-feira (14) o BLS havia divulgado que o Consumer Price Index (CPI) registrara inflação zero em outubro ante 0,4% em setembro, também abaixo das expectativas.
Além da inflação
A desaceleração das taxas de inflação parece ser um sinal de que os juros americanos, que subiram de zero em março de 2022 para a faixa entre 5,25% e 5,50% em julho deste ano, vão começar a baixar em breve. No entanto, na avaliação de Àlex Fusté, economista-chefe do banco andorrano Andbank, apenas a desaceleração pontual dos índices não deverá ser suficiente para justificar um afrouxamento da política monetária nos Estados Unidos. “O consenso é que a queda dos juros não deverá ocorrer antes de 2025”, diz ele.
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A justificativa é bem conhecida dos brasileiros, que vêm convivendo com taxas de juros elevadas há muito tempo: o excesso de gastos públicos. Segundo Fusté, o déficit público americano é elevado. Encerrou 2022 em 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), após ter chegado a 14,7% em 2020 devido às medidas de estímulo econômico para combater a desaceleração provocada pela pandemia. “O governo promoveu uma expansão fiscal muito intensa nos gastos, e isso não será corrigido rapidamente”, diz Fusté.
Um déficit público elevado significa que o governo fez dívidas – ou seja, captou dinheiro de credores. E esse dinheiro não está nos cofres públicos, mas circulando na economia, o que explica a resiliência do emprego, dos salários e do nível de atividade nos Estados Unidos. A consequência é inflação estruturalmente elevada, o que obriga o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, a aumentar os juros para reduzir os preços.
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No entanto, isso tem um efeito colateral negativo: torna mais caro para o governo rolar a dívida pública. “O governo americano já está comprometendo 11% de seu orçamento com juros, um percentual equivalente aos gastos com defesa e com saúde”, diz Fusté.
Dólar fortalecido
Embora essa pareça ser uma discussão restrita aos Estados Unidos, as medidas do governo para controlar o déficit terão efeitos sobre os demais países. Parte da expansão fiscal pós-pandemia foi realizada pelo próprio Fed. O banco central injetou cerca de US$ 4 trilhões no sistema financeiro por meio da compra de títulos públicos e privados. Isso elevou o “balanço” do Fed de US$ 4 trilhões em 2019 para quase US$ 9 trilhões no fim de 2021. Pelos dados mais recentes, de 15 de novembro, o balanço do Fed está em US$ 7,82 trilhões.
Na ponta do lápis, o banco central americano retirou mais de um trilhão de dólares da economia em um ano, e deverá seguir enxugando a liquidez. Ainda que fique no meio do caminho para retornar aos US$ 4 trilhões pré-pandemia, o Fed poderá retirar mais dois trilhões de dólares do sistema. É muito dinheiro. E, segundo Fusté, isso vai afetar os preços globais do dólar, pois a moeda americana está sujeita à lei da oferta e da demanda. “O mundo vai conviver com um dólar fortalecido, o que terá um efeito inflacionário sobre os demais países”, diz ele.